terça-feira, 31 de agosto de 2010

OLiquidificador Day

E não é que hoje é o Blog Day? Você não sabe o que é isso? Eu explico! Hoje é um dia especial dedicado ao blog, esse espaço “insanocrático” – se me permitem o neologismo escroto – no qual eu e outros milhões de pessoas publicamos diariamente nossos pensamentos, angústias, vontades, insanidades e que outros milhões de pessoas tem a coragem de ler.



Antes desse, eu tive outros três blogs. O primeiro – Blog do Jock – criei assim que ingressei no Curso de Jornalismo na UFMA. Nele publicava minhas impressões acerca de tudo que me chamasse atenção. Ao mesmo tempo, junto com outros três colegas da turma de jornalismo, mantinha o Nhoque Nhoque que falava de política, literatura e problemas sociais. Saí do Nhoque por que passei a discordar da sua linha editorial e por preguiça extingui o Blog do Jock.



Depois de um tempo criei um novo blog, o Blog Jock – não, criatividade para títulos nunca foi meu forte. – no qual publiquei um único texto que sequer era de minha autoria. Era um trabalho acadêmico, uma matéria-perfil da qual eu era o personagem. Já o republiquei aqui, inclusive.



Depois passei um longo tempo longe da blogsfera, mas sempre alimentei a vontade de voltar. Até que em um rompante melancólico, no dia 1º de maio desse ano de muito tédio passado em casa criei OLiquidificador.



O blog começou sem nenhuma grande pretensão. Queria apenas me expressar. Dizer coisas que quase nunca tinha a oportunidade de fazê-lo. Queria falar de tudo: tevê, música, cinema, cotidiano. Mas o blog acabou enveredando para além do arco-íris – sim, isso foi mais uma tentativa frustrada de fazer um trocadilho. Comecei a postar textos sobre o universo LGBT e diante da repercussão dos textos, me empolguei e tenho dado mais atenção a esse público-leitor.



Ontem recebi uma notícia que me deixou ainda mais empolgado. Uma garota usou um dos meus textos para ajudar seu irmão a ser aceito pela família. Fiquei feliz em saber que de alguma forma tenho ajudado as pessoas, ainda que seja graças a essas maluquices verborrágicas que posto aqui.



Hoje, 4 meses depois, comemoro mais de 3600 visitas de 10 países diferentes para os 95 textos já postados. O que muito me felicita e me dá ainda mais vontade de continuar. E nesse sentido tive a ajuda de alguns amigos blogueiros bem especiais, por isso recomendo-lhes seus textos.



A primeira foi a Thamirys D’Eça do “eu-lírico da Thamirys”. Um blog bem intimista que fala do infinito particular dessa pessoa maravilhosa, minha melhor amiga de toda a vida. A amizade é tamanha que criamos nossos blogs no mesmo dia, sem que um soubesse da intenção do outro. Haja sintonia.



Não posso esquecer-me de falar de Aninha Coaracy e seu Curiosidades de Ana. Uma visão sempre interessante e bem-humorada de coisas sobre as quais sempre nos perguntamos ou que sequer imaginamos existir. Ela foi minha principal entusiasta e a minha primeira consultora no assunto. Informática não é o meu forte.



Tem ainda o relato pungente, informal e poético do Diário do André do André Lisboa. O poeta sem verso mais fingidor de seus próprios fingimentos que eu conheço.



E por meio d’OLiquidificador conheci pessoas incríveis que acabaram virando grandes parceiros. É o caso minha parceira de madruga e ótimas discussões sobre o mundo, a vida e o universo LGBT e de textos a duas mentes, Lilah Bianchi, com o seu acolhedor e tocante Tramas, Tranças e Bobagens que tem ajudado inúmeros gays a encontrarem seu lugar no mundo. Lembram da garota que usou um texto meu para ajudar seu irmão gay a ser reinserido no seio da família? Pois é, ela chegou a mim por meio da Lilah que tem ainda o divertido Echollândia onde todas as noites rompemos a madruga falando bobagens sérias.

A Lilah me apresentou o André V, outro parceiro de textos e conversas sobre o mundinho, e  suas Lágrimadecrocodilo's Blog e a MusaNorminha que me delicia com a malícia do seu Diário Secreto de uma Musa.


Tenho ainda outros blogs incríveis na minha lista de indicações que você pode conferir à direita da página. Então não deixe de ler esse blog e de ler os meus queridos amigos blogueiros, ok?

Eu quero a minha mãe!

Hoje foi aniversário da minha mãe, mas não aquela sobre a qual já escrevi aqui tantas vezes, hoje foi aniversário da minha mãe biológica.

Quando nasci, meus pais tinham 17 anos, então minha avó paterna assumiu para si a responsabilidade de me criar, embora sempre tenha feito questão que eu soubesse quem eram meus verdadeiros pais.

Quando eu ainda era pequeno, uns 2 anos no máximo, meus pais saíram de casa. Meu pai foi morar com sua atual esposa e mãe da minha irmã. Minha mãe aventurou-se no mundo, embora voltasse de tempos em tempos para me ver. Apenas quando eu já tinha uns 10 ou 11 anos é que ela passou a morar conosco, mas a essa altura não era mais possível construir um laço de amor entre mãe e filho. Todo esse meu sentimento eu já tinha dedicado a outra pessoa, a minha avó.

É a ela que eu chamo de mãe. Meus pais biológicos, os chamo pelo nome e não tenho por eles o amor, carinho e respeito que há entre pais e filhos. Sempre fomos muito distantes. Nossa relação sempre foi muito burocrática. Isso nunca me incomodou, pois nunca senti muita necessidade deles, pois tinha uma mãe-leoa superprotetora para todas as horas.

Mas de uns temos para cá sinto a falta de uma mãe. De um colo. De um abraço apertado. Desde que assumi que sou gay que nossa relação tem minguado. Distanciamos-nos cada dia mais ao ponto de, algumas vezes, sermos apenas como dois estranhos que moram na mesma casa. Faço questão de passar a maior parte do meu tempo na rua. Chego em casa apenas para dormir, na maioria dos dias. E quando estou em casa, passo o dia trancado no quarto.

Não temos mais assunto em comum, no máximo falamos sobre coisas da casa. Um eletrodoméstico que precisa de conserto, uma conta que atrasou. Nas poucas vezes que falamos sobre nós, brigamos ou eu engulo a seco a vontade de gritar e dizer-lhe coisas que podem minar de vez o respeito que ainda nos une.

Às vezes eu paro e releio os textos do blog e sinto uma sensação estranha. Pergunto-me se não estou sendo cruel ao expor minha mãe, como estou fazendo agora, por exemplo, porque apesar de tudo, sei q ela não faz por mal, que não quer realmente agir assim, pois tudo isso é fruto da sua falta de informação, da sua base religiosa, da sua criação patriarcalista que pregava a obediência cega aos mais velhos.

Mas ao mesmo tempo sinto necessidade de me expressar, botar pra fora isso tudo. Na verdade, essas são coisas que eu gostaria de dizer a ela. Eu gostaria que ela soubesse como eu me sinto com toda essa situação, independente de qual fosse a sua reação.

Tenho pensado nisso tudo faz algumas semanas. Há dias sinto a vontade desenfreada de, como quando criança, correr para o seu colo e apenas chorar e depois falar o que me aflige. Já houve dias em que ela me surpreendeu no quarto chorando, mas perguntou apenas se eu estava doente, embora eu não tivesse apresentado qualquer sintoma. Talvez ela tivesse medo de perguntar se eu estava sentido algo e ouvir como resposta: “eu estou apaixonado por um cara que não me vê”.

Hoje, enquanto estava na festa de aniversário da minha mãe biológica senti vontade de fazer com ela tudo isso, mas eu nunca tive com ela a proximidade e a relação que tinha com a minha mãe-avó e desde que assumi que sou gay perdi isso tudo.

Sinto-me perdido, ozinho, desgarrado no mundo. Minha família não ousa desafiar sua matriarca. Talvez eu pareça uma criança de cinco anos com medo do escuro falando todas essas coisas, mas nunca senti tanto a falta de uma mãe quanto hoje.

sábado, 28 de agosto de 2010

Depois do PSOL, PSTU também exibe beijo gay em horário eleitoral

Longe de nosso principal produto cultural de exportação, as telenovelas, o beijo gay começa a reinar no horário político. Tudo bem que essa notícia vem com algum atraso, mas como não ouvi comentários a respeito nos ambientes que freqüento, acredito que poucas pessoas tenham atentado para o fato, por isso decidi publicá-la agora.

Na primeira semana de horário eleitoral gratuito na televisão, com o lema de campanha "Você tem opção", o candidato ao governo do Estado de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Paulo Bufalo, defendeu a diversidade sexual e a liberdade de escolha, e apresentou, entre outras imagens, o beijo entre dois rapazes em seu programa eleitoral do dia 18.08.



Juntos na vida real há quatro anos, o cabeleireiro Ricardo Mendonça e o dançarino Júlio Colaço aceitaram participar do programa como forma de protesto pelo fim do preconceito que existe contra a união homossexual. O episódio, claro, gerou polêmica, despertando a fúria dos homofóbicos de plantão.


Apesar disso, após o PSOL colocar o beijo gay em seu programa em São Paulo, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) decidiu mostrá-lo para todo o Brasil. Zé Maria, candidato à Presidência da República pelo partido, afirmou no seu programa do dia 26.08 que “a luta contra todas as formas de opressão é parte fundamental do programa socialista”.


Foram mostradas fotos de casais homossexuais se beijando e cartazes com dizeres como “não há socialismo sem homofobia”. De acordo com o jornal O Globo, a assessoria do PSTU contou que o beijo gay está dentro da linha do partido de propor temas para serem debatidos com a sociedade e que a luta contra a homofobia é uma das bandeiras do partido e por isso será mostrada no horário eleitoral gratuito.


Afora a importância desse tipo de atitude entre os políticos brasileiros para que a comunidade LGBT do país possa, enfim, ter igualdade de exercício de direitos com os heterossexuais, o fato é que os partidos nanicos têm que rebolar para chamar a atenção no horário eleitoral gratuito.


Com pouco tempo para que seus candidatos exponham suas idéias, é no programa deles que, muitas vezes, aparecem as propostas mais ousadas. O PSTU já vinha chamando a atenção com seu slogan. “Contra burguês, vote 16” pode não levar o candidato à Presidência Zé Maria à liderança das pesquisas, mas é bem feito, representa o que é o partido e gruda na cabeça do espectador.


Mas o PSTU mostrou que seu programa não é apenas um slogan. Arriscou, ousou e chamou a atenção. Já foram usados nessa campanha pelo partido uma foto de Bruno, o goleiro acusado do homicídio de Eliza Samudio, seguida da apresentação da candidata a vice-presidente do PSTU, Claudia Durans, falando da Lei Maria da Penha.


Essa, aliás, foi a deixa para Zé Maria explicar que o partido batalha na “luta contra toda a forma de opressão”. A foto de uma manifestação pública levada ao ar em seguida destacava outro slogan do partido: “Não há socialismo sem homofobia”. Percebia-se, então, que a manifestação era uma parada gay. Surgiu, então, uma série de fotos de beijos na boca entre dois rapazes.


Também é de se estranhar o fato de essa iniciativa partir de dois partidos de base socialista, pois, como sabemos, nos países comunistas os homossexuais são cruelmente perseguidos pelos seus governantes e, sobretudo, o PSTU, possui uma índole um tanto quanto autoritária, e não estou aqui fazendo campanha para qualquer dos dois partidos, no entanto, espero que as pessoas, após verem essas cenas, percebem que essas demonstrações de carinho entre os gays são manifestações legítimas que mostram que o estado precisa ter políticas públicas para os homossexuais e que esse debate não aparece nas campanhas por conta de um forte conservadorismo vigente e que não se pode governar um estado apenas em virtude dos princípios religiosos ou puramente ideológicos.


Bem que Gloria Perez tentou em América no ano de 2005, com os personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro), cuja cena de beijo gay foi escrita e gravada, mas censurada de ir ao ar pela Rede Globo, segundo os próprios atores, mas a primazia de fazer a emissora carioca exibir um beijo gay no horário nobre será para sempre do PSTU.


Se você ainda não viu os dois programas, faço clicando nos vídeos abaixo:

PSOL:





PSTU:

Parada LGBT de São José de Ribamar é domingo

Sábado (28.08), na Boate Pedrita, a partir das 22h, tem "Special Pride" com o modelo Felipe Panda (Capa da G Magazine). A festa é uma prévia da IV Parada LGBT de São José de Ribamar que acontece domingo (29.08) na cidade balneário. A concentração é a partir das 14 na Avenida Beira Mar. A Banda Energia e os DJs Alisson e Lenadro serão as atrações. O IV Seminário LGBT e o Cine Lésbico completam a programação.

Por Thamirys D'Eça

Pode não parecer, mas entre as plumas, paetês, trios elétricos e a animação contagiante que deverá marcar a IV Parada do Orgulho LGBT – lésbicas, gays, bissexuais e transexuais – de São José de Ribamar, a 32 km de São Luís, que acontecerá neste domingo, dia 29, o objetivo não é de mera diversão. As quase 100 mil pessoas que são esperadas no evento irão lutar contra a homofobia. Com o tema “Travestis e transexuais merecem respeito”, a ocasião será embalada por banda e DJs. Hoje haverá a prévia Special Pride, na boate Pedrita, em São Luís e, em São José de Ribamar, acontecerá seminário a respeito da temática.



A Parada do Orgulho LGBT de São José de Ribamar é a segunda maior do estado, perdendo apenas para a de São Luís, que é a terceira maior do Brasil. Na edição do ano passado, 80 mil pessoas participaram das atividades. Este ano a expectativa é que sejam reunidas até 100 mil pessoas. “No primeiro ano, foram 5 mil pessoas e cada dia evolui porque fazemos um trabalho bem feito. As pessoas vão vendo que é importante defender a causa. O preconceito diminuiu bastante, mas não podemos parar de lutar”, afirma Carlos Garcia, coordenador do evento.


Para a organização da Parada LGBT da cidade balneária este ano, foram necessários, para uma equipe de 15 pessoas, dois meses para serem mobilizados o Grupo Solidário Lilás, que será a entidade responsável pela organização, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o DST-Aids, o Fique Sabendo, o Governo Federal, a Prefeitura de São José de Ribamar. Para fazer a segurança, a Polícia Militar também foi acionada.


A novidade deste ano é que o evento será realizado na orla da cidade. A concentração na Avenida Beira Mar acontecerá a partir das 14h. A animação nos trios elétricos serão por conta da Banda energia e dos DJs Leandro e Alisson. “Nós mesmos escolhemos o repertório, que será o que sabemos que agradará o público. A festa deverá durar até às 2h da manhã e é uma forma de reivindicação, que todos podem ir prestigiar. Não somos minoria, somos cidadãos”, relata Carlos Garcia.


Com o tema “Travestis e transexuais merecem respeito”, além da festa, será realizado também um trabalho de conscientização e prevenção. “Escolhemos este tema porque os travestis e transexuais são os que mais sofrem preconceitos e agressões”, considerou Carlos Garcia. Na data, serão distribuídos preservativos e informativos sobre prevenção contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).


Com o mesmo tema, hoje, acontecerá na Casa de Evento Cabana do Mar, a partir das 8h30, o 4º Seminário LGBT São José de Ribamar. Serão feitos debates e três mesas-redondas. A primeira, às 9h30, tratará a respeito do Projeto “Deusa Afrodite” – programa de prevenção voltado para travestis e transexuais. A segunda, às 13h30, será sobre direitos humanos, nome social e espaços institucionais de travestis e transexuais. E a última discutirá como desenvolver a campanha Fique Sabendo sem estigma e preconceito. Terá ainda, às 16h, palestra com o carnavalesco, historiador e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Eugênio Araújo.


O acontecimento não se restringirá, porém, somente à São José de Ribamar. Em São Luís, hoje, acontecerá uma prévia do evento a partir das 22h na Boate Pedrita. A festa foi intitulada Special Pride e terá participação de gogo boys e gogo girls. A atração especial será o paulista Felipe Panda, que foi capa da revista G Magazine.


Além da Parada do Orgulho LGBT de São José de Ribamar, no Maranhão acontecem ainda movimentos semelhantes e mais outros nove municípios: São Luís, Paço do Lumiar, Bacabal, Vitória do Mearim, São Mateus, Caxias, Pindaré, Itapecuru e Pinheiro.

Nesse sábado, a partir das 8h30min, ocorre ainda o IV Seminário LGBT São José de Ribamar. Com o tema "Travestis e Transexuais merecem respeito" serão discutidos a prevenção dem saúde voltada para travestis e transexuais, os direitos humanos desse grupo, como a adoção do nome social em diversos espaços institucionais, além da Campanha "Fique atento" para combater o vírus HIV. Amanhã acontece o Cine Lésbico a partir das 8h. As duas atividades serão sedidas no Cabana do Mar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Santa e a Puta

Minha força não é bruta; não sou freira, nem sou puta.
(Rita Lee)

Banheiros públicos, de shoppings, praças, bate-papo na internet. Esses são apenas alguns dos chamados lugares de pegação freqüentado por 10 entre 10 gays em todo o mundo em seus momentos de caça. Bastam cinco minutos, muita disposição e força de vontade em qualquer um desses locais que se consegue um parceiro ou dois, três, quatro, enfim, para uma boa sessão de sexo. Sim, boa! Sexo é sempre bom, desde que consentido, é claro.



Nem é preciso muito papo. Basta ficar lá como quem não quer nada, olhando com um pouco mais de malícia para os caras que passam, entram e saem ou, no caso da net, jogar um pouco de conversa mole e bingo. Trancados no box do banheiro, no carro estacionando em um local com pouco movimento ou mesmo no meio do matagal mais próximo o pau come solto (e sim, o trocadilho foi intencional!).


Acontece que no fim das contas todo mundo acaba conhecendo a cara e a fama de todo mundo. Em uma mesa de amigos gays, quando passa aquele cara bonitinho, tem um que vai comentar: “Eu já fiz ele! Nós ficamos outro dia no banheiro do shopping.”


Se você faz isso só muito de vez em quando, naqueles dias em que não dá para segurar a vontade de ficar com alguém depois de um longo período jogando cinco contra um e de roçar o edy na quina da mesa, tudo bem, normal. Se você faz isso todos os dias – eu conheço gente que sim – logo você ganha a fama de puta. Isso mesmo: P-U-T-A! Mas se você não faz isso ou por que não gosta ou por que não quer se expor ou por outro motivo qualquer ganha a alcunha de “beesha phyna”, a santa. Só que essas duas denominações tem seu lado positivo e negativo.


Ser a puta é o suficiente para que todos os outros te apontem e digam coisas como: “ah, esse menino fica com todo mundo, quero ele não”, “fulano é bonitinho, mas dá pra qualquer um”, “beltrano quis ficar comigo na boate, mas ele é tão rodado, por isso não quis”, “sicrano não serve pra namorar por que ele vive caçando no banheiro do shopping”. Eu já ouvi isso inúmeras vezes de amigos meus sobre inúmeros caras.


Só que esse comportamento é para alguns caras a única forma de vivenciar sua real sexualidade. Não raramente os principais “predadores” desse tipo de caça são homens casados e com filhos ou outros caras que não tem coragem de saírem do armário.


Fazer a linha santa acaba com todas as suas possibilidades de ser convidado para a aquela festinha cheia de gatinhos sarados e fogosos na casa daquele seu amigo puta. Também te impede de ficar com aquele seu amigo safado do qual você é super-afim por que ele acha que todas as suas investidas são apenas brincadeira, além de criar para outros gays a imagem que você é metido (sem duplo sentido) e se acha melhor que eles, os julga.


No entanto, você acaba sendo o melhor amigo de todos justamente pelo seu comportamento, além de ser visto como um bom cara para se namorar, embora quase nunca passe disto: ser visto. Você é aquele para quem eles ligam pedindo um conselho ou para contar suas aventuras. Você é o porto seguro nos dias de naufrágios no líquido do prazer. A companhia para os momentos de real descontração.


Mas como lidar com isso tudo? Como lidar com a falta de alguém no outro lado da cama ainda que seja por algumas horas se você tem uma visão de mundo e relacionamentos que não passam por banheiros, chats e afins?


Não acho que nenhum dos comportamentos seja mais ou menos correto. Acredito que devemos agir de acordo com nossa personalidade e fazermos o que nos faz sentir bem de verdade, desde que não passemos de certos limites. Eu não sou puta, embora também não seja totalmente santa e nem me sinta confortável com a idéia de ser puta. Estive pensando nisso nos últimos dias, por isso o texto.


E você o que pensa?

STF dá ganho de causa à adoção por casal gay

Do Farme 40º
O Supremo Tribunal Federal discutiu pela primeira vez adoção por um casal gay e negou recurso interposto pelo Ministério Público do Paraná, que visava impedir que Toni Reis e David Harrad pudessem adotar filhos em conjunto. A decisão foi proferida no dia 16 de agosto, só vindo a ser publicada no Diário do Supremo Tribunal Federal no dia 24.


Em julho/agosto de 2005, o casal gay Toni Reis e David Harrad deu entrada na Vara da Infância e da Juventude de Curitiba, para qualificação para adoção conjunta. Passados dois anos e meio onde o casal disponilizou-se a responder todas as solicitações exigidas neste caso, o juiz deu sentença favorável à adoção conjunta, com as seguintes ressalvas: “julgo procedente o pedido de inscrição de adoção formulado... com fundamento no artigo 50, parágrafos 1º e 2º do diploma legal supra citado, que estarão habilitados a adotar crianças ou adolescentes do sexo feminino na faixa etária a partir dos 10 anos de idade.”


O casal, embora feliz pelo reconhecimento da procedência do pedido, considerou as ressalvas discriminatórias e recorreu da sentença. O Tribunal de Justiça do Paraná, determinou que a “limitação quanto ao sexo e à idade dos adotandos em razão da orientação sexual dos adotantes é inadmissível. Ausência de previsão legal. Apelo conhecido e provido.”, decisão essa unânime, em 11 de março de 2009.


O Ministério Público do Paraná propôs embargos de declaração cível. Os magistrados do Tribunal de Justiça do Paraná acordaram, por unanimidade em rejeitar os embargos de declaração em 29 de julho de 2009. Depois de muitas e idas e idas, com uma decisão do Supremo, volta a valer a decisão do Tribunal de Justiça do Paraná, de que o casal pode adotar em conjunto, e sem restrição quanto ao sexo ou à idade das crianças.

Toni, que é presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), disse “sinto orgulho do STF ter respeitado os artigos 3º e 5º da Constituição Federal, que afirmam que não haverá discriminação no Brasil e que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Agora vou realizar meu sonho de exercer a paternidade e ser feliz ao lado do meu marido e nossos filhos”.

Mais informações no
Direito Homoafetivo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Lembranças da minha infância

Hoje é dia da infância e inspirando no Curiosidades de Ana e Echollândia, resolvi escrever algumas linhas sobre a minha.

Eu sou filho de pais adolescentes e antes mesmo de eu completar um ano, cada um foi para um canto e eu fiquei morando com minha avó paterna que foi quem me criou e a quem chamo de mãe – aproveitando para esclarecer, em todos os posts em que cito minha mãe, na verdade, me refiro a minha avó que foi quem me criou e com quem moro ainda hoje.



Então, sempre moramos apenas eu e minha avó. Quando eu já era adolescente, minha mãe e minha meia-irmã passaram a morar conosco, mas recentemente se mudaram para outro lugar. Minha avó-mãe sempre foi super-protetora e não me deixava brincar na rua com e como os outros meninos. Tanto que não falo com qualquer pessoa da vizinhança.


Eu fui uma criança com vários problemas de saúde, alguns persistem até hoje, embora eu tenha melhorado bastante. Passei a maior parte das minhas noites pueris tendo crises respiratórias – quando criança eu tinha muitos problemas respiratórios – e deles resultou minha rinite.


Aos 7 anos eu fui atropelado e disso resultou minha escoliose. Na época precisei fazer uma cirurgia para reconstituir o lóbulo auricular (a orelha. rs) por que ele foi quase totalmente estraçalhado com o impacto. Desse atropelamento, ainda na infância e até o começo da adolescência, sofri com perdas de memória em razão de um coágulo que se formou em minha cabeça, mas que segundo a minha neuropediatra, se desfaria ao longo do meu crescimento. Bem, desde que fiz meu tratamento para recuperar minha memória, nunca mais senti nada.


Eu tinha muitos pesadelos durante a minha infância. Não conseguia dormir só e nem com as luzes apagadas, tinha pavor do escuro. Ele ainda me incomoda hoje, mas sem problemas. Meu pavor do escuro era tamanho que chegava a imaginar coisas, pessoas, criaturas no meu quarto me observando. Em geral, eram cachorros. Outro dos meus traumas de criança. Até hoje não gosto deles.


Mas da minha infância a lembrança mais marcante são os natais e as lembranças não são boas. Sempre éramos apenas eu e ela que estava sempre triste por seus filhos não estarem na nossa casa para compartilharem a ceia. Minha avó-mãe é muito ligada em família. Por isso desenvolvi uma “fobia familiar”. Detesto reuniões de família. Sou sempre distante de todos eles. Não ligo para datas de aniversário, dia dos pais, das mães e outras datas afins.


Fiquei pensando em uma boa lembrança para compartilhar, mas, sinceramente, não me lembro de nenhum momento incrivelmente feliz que tenha vivido. Afora tudo isso, eu sempre fui o primeiro aluno da turma, extremamente tímido e passava minhas horas livres brincando na sala de casa com os inúmeros brinquedos de controle remoto que possuía.


Esse post quebra uma série dos “Pessoalidades” que falam de coisas boas e alegres, mas acho que olhando o passado sem véus conseguimos planejar melhor o futuro e é o que estou fazendo.

Manifesto Pró-Casamento Igualitário

Candidatos das eleições 2010
Carta aberta aos candidatos brasileiros
Manifesto Pró-Casamento Igualitário no Brasil


Senhoras e Senhores Candidatos,

Por meio desta carta-manifesto, nós, abaixo assinados, viemos reivindicar aos candidatos concorrentes no pleito de 2010 e perante a sociedade brasileira a aprovação urgente, no Brasil, do chamado casamento gay, melhor definido como casamento igualitário. Conclamamos que candidatos e cidadãos brasileiros aproveitem o processo eleitoral para refletir seriamente sobre o assunto.

Nós, sejamos lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros ou heterossexuais, somos apoiadores de um direito básico do qual todos os brasileiros devem ter neste país: a Igualdade Civil. Por isso, defendemos que o casamento igualitário, recentemente aprovado na Argentina, o seja também no Brasil. Não pensamos que tal medida seja radical ou subversiva, assim como não pensaram ser radicais aqueles que instituíram o divórcio ou o sufrágio secreto e universal em nosso país. Trata-se simplesmente de uma questão de igualdade civil e justiça democrática. Os conservadores devem aceitar que o Brasil é uma República Laica desde 1889, ou seja, há mais de 100 anos. Também repudiamos veementemente a proposta de se fazer um plebiscito sobre a União Civil Gay. Pensamos que a proposta, mesmo travestida de “democrática”, é cruel, humilhante e degradante com a população LGBT.

As razões para que o casamento igualitário seja aprovado no Brasil são muitas. Entretanto, o principal argumento é que somente esta reforma no código civil daria igualdade legal entre cidadãos com orientações sexuais diferentes da heteronormativa.

Esperamos, com esta carta-manifesto, fazer com que todos os candidatos do Brasil e a sociedade em geral entendam a gravidade da situação de exclusão civil, social e de direitos humanos em que se encontra grande parte da comunidade LGBT – estimada por especialistas em aproximadamente 10\% da população brasileira. Queremos chamar a atenção, especialmente, dos candidatos aos cargos de deputado estadual e federal, governadores, senadores e, principalmente, à Presidência da República, e pedir para que se manifestem claramente, sem hipocrisia, sobre o assunto.

Todas as mulheres e homens são iguais perante a lei
A Constituição Federal Brasileira, desde 1988, garante que todos os brasileiros são iguais perante a lei, portanto, têm os mesmos direitos e deveres. Em seu artigo 5º, a Carta Magna afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...)”

Os cidadãos homo, bi e transexuais cumprem os mesmos deveres que os heterossexuais para com a República, são obrigados a votar, a servir militarmente à pátria (no caso masculino), a pagar os impostos etc. Todavia, a elas e eles ainda são negados, por parte do Estado, vários direitos básicos, como a igualdade civil e jurídica e mesmo a garantia e manutenção de sua integridade física. Direitos básicos estão comprometidos no país, como a garantia à segurança e à vida nos casos de atentados homofóbicos, a que costumeiramente estão expostos os LGBTs em seu dia-a-dia. No Brasil ainda se faz necessária a urgente aprovação do PLC-122, que criminaliza a discriminação por orientação sexual, como em todas as nações modernas do mundo. Não fazê-lo é ser conivente com os assassinatos de gays, lésbicas e transgêneros que acontecem a cada dois dias no Brasil.

Além das violações diárias de seus direitos, os cidadãos LGBTs são, ainda, discriminados pelo Estado brasileiro. Ao não equiparar os direitos civis entre heterossexuais e homossexuais, o Estado fere a isonomia republicana, deslegitimando sua própria base jurídica. Inclusive, com isso, ainda fortalece as pretensões daqueles que querem continuar a discriminar e excluir “legalmente” uma parcela da população brasileira - a LGBT.

Entre os objetivos declarados na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 1º estão: “II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; (...)”. Percebe-se, claramente, que estes dois valores ainda são aviltados a gays, lésbicas, bissexuais e transexuais ao terem negados os direitos civis relacionados ao casamento e a constituição de família.

Sem a equiparação dos direitos civis entre homossexuais e heterossexuais, a legitimidade republicana deve contestada, afirmando a injustiça formal existente no Brasil. Para que essas diferenças sejam progressivamente resolvidas, é necessário que, ao menos legalmente, todos sejam considerados iguais, sem qualquer distinção, inclusive aquelas motivadas pela orientação sexual. O Estado não pode ser agente desta distinção, e por isso, deve urgentemente reconhecer a existência legal das famílias homoafetivas.

A aprovação do casamento igualitário seria a correção da injustiça civil relacionada aos direitos dos cidadãos LGBTs de constituírem família e possuírem os mesmos direitos civis e familiares que os heterossexuais. Somente a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo não se justifica mais na atual conjuntura política e histórica. Além de estabelecer uma evidente separação entre aqueles que deveriam ser constitucionalmente iguais, os direitos limitados por ela concedidos já foram, em parte, contemplados pelas inúmeras decisões do poder judiciário brasileiro, ou concedidas por decisões administrativas de órgãos federais (Receita Federal etc) e empresas públicas (Caixa Econômica etc) e privadas.

Ou seja, somente o casamento igualitário estabelece a isonomia civil de direitos republicanos, sem criar diferenças. Pensamos que a não-equiparação de direitos civis ou a manutenção da desigualdade legal entre todos os cidadãos é tão grave que abre precedente perigoso para garantia da manutenção e da legitimidade do regime constitucional brasileiro.

O Brasil é um Estado Laico
O Brasil também se afirma constitucionalmente como uma democracia que prima pela liberdade de pensamento. Para garanti-la, determina a separação entre Estado e Igrejas: O Art. 19 da Constituição Federal proíbe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público", e também “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”.

Apesar dessa clara norma legal, muitos eleitos, principalmente deputados e senadores, e funcionários públicos não respeitam essa separação entre Estado e Igreja(s), provavelmente por não entenderem o que é um Estado Laico. O laicismo, princípio que rege a base teórica das leis brasileiras, é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. A palavra "laico" é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas.

Entretanto, alguns grupos religiosos conservadores impõe seu pensamento na forma de lobbies político-religiosos, obrigando o conjunto da sociedade a aceitar seus conceitos estritamente religiosos, regulando leis e ditando padrões de comportamento beseados na religião. Um bom exemplo é como os grupos religiosos, sobretudo católicos e neopentecostais, pretendem obrigar a grupos que não confessam seus preceitos a viver de acordo com suas normas e dogmas. Neste caso, eles violam a Constituição pretendendo enfraquecer a exigência do Estado Laico.

Duas modificações importantes instituídas a partir da declaração da laicidade do Estado foram a a criação do Casamento Civil (coexistindo a partir de então com o Matrimônio religioso) e a adoção do Registro Civil de Nascimento (que substitui o Registro de Batismo).

A lei de igualdade civil da qual os brasileiros LGBTs clamam pela aprovação quer ampliar os direitos ao casamento civil. Importante reafirmar que não cabe aqui nenhuma exigência que altere o matrimônio religioso ou que pretenda obrigar as doutrinas a incluir o casamento gay. Isto porque o Estado laico funciona em duas vias: nele não cabe nenhuma interferência religiosa, mas ele também se abstém de decisões que afetem qualquer religião. Não cabe ao Estado brasileiro decidir sobre como a Igreja Católica, por exemplo, casa seus fiéis: só a Santa Sé, no Vaticano, tem esta prerrogativa. Contudo, ao Estado brasileiro cabe proteger todos os seus cidadãos de todas as formas que possam cercear seu direito a liberdade.

O casamento civil é um direito que somente a parcela heterossexual da população brasileira possui. O clamor entre os indivíduos homossexuais, bissexuais e transexuais da República é para que este direito seja ampliado a todos, sem distinções. Assim, não haverá desigualdade jurídica instituída.

Pode-se constatar que o “argumento” mais poderoso contra o casamento gay origina-se do meio religioso, e começa sempre com citações da Bíblia Sagrada. Entretanto, esse discurso não serve como argumento quando se discute políticas públicas, leis e modelos de Estado. Em um Estado laico e democrático, crenças religiosas não podem, em absolutamente nenhuma circunstância, ser incluídas entre elementos formadores do pensamento legislador ou público. Nessas condições, nenhum preceito de base religiosa tem qualquer legitimidade na configuração normativa de leis, códigos ou regulamentos estatais.

Formar família é para poucos?
Um argumento comum dos setores conservadores contrários ao casamento é o de que um casal homossexual não forma uma família. Retrocedendo historicamente, também o modelo de família que se vê hoje em dia (homem, mulher e filhos) pode ser datado como posterior a Segunda Guerra Mundial (isto é, a partir da década de 1950). E isto somente se falarmos do ocidente.

A antropologia e a sociologia comprovam que, fora do mundo ocidental, ainda hoje, o modelo de família pode ser muito distinto do que se convencionou chamar de família. Já no ocidente, mais de 38 tipos de família coexistem hoje nas sociedades urbanas. O “modelo” de família não é unívoco mesmo no mundo ocidental: famílias de mães ou pais solteiros; divorciados que casam-se novamente e reúnem seus filhos, os filhos do cônjuge e os nascidos desse casamento; famílias formadas por pessoas que, na verdade, não têm nenhum parentesco sanguíneo. O modelo de família é extremamente mais amplo do que o texto da lei brasileira permite afluir.

Outro argumento contrário ao casamento gay é o de que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar filhos e, portanto, não podem per si constituir família. Este argumento, se for levado a sério, excluiria também os casais heterossexuais que, por um motivo ou outro, também não geram filhos. Casais estéreis ou casais idosos não deveriam mais constituir uma unidade familiar perante a lei. Isto absolutamente não faz sentido. Até porque a lei brasileira prevê o caso de adoção. Crianças são abandonadas por inúmeros motivos em abrigos e protegidas pelo Estado, e podem ser adotadas por estes casais heterossexuais que não podem gerar filhos. Porque não pelos casais homossexuais?

Outra afirmação usada contra a família homoafetiva é dar uma natureza “transviada” à relação de duas pessoas do mesmo sexo, crendo que os indivíduos não forneceriam bons modelos para a formação de uma criança. Argumenta-se que esta “má influência” seria prejudicial ao desenvolvimento destas jovens mentes.

Há os que sentenciam que o filho de um homossexual teria o mesmo comportamento afetivo sexual, ignorando aqueles que são frutos de lares heterossexuais. Com esse enunciado, nega-se outro direito aos gays: a adoção, em conjunto, de uma criança.

Os candidatos a cargos públicos devem a todos os cidadãos, no mínimo, um posicionamento claro sobre estas questões. Isso é fundamental para que a democracia possa tornar-se mais do que uma bela palavra.

Brasil, agosto de 2010

Clique aqui para assinar a petição.

STJ dá passo para reconhecer união homoafetiva

por Rodrigo Haidar
do Portal Conjur
Enquanto o Congresso Nacional não enfrenta a polêmica questão dos direitos gerados pela união entre gays, a discussão vai ganhando corpo na Justiça. E não são poucas as vitórias que os casais homossexuais têm obtido nos últimos anos.



Na semana passada, dois ministros do Superior Tribunal de Justiça reconheceram aos casais formados por pessoas do mesmo sexo direitos iguais aos previstos na união estável entre homem e mulher. Não é a primeira vez que o tribunal se mostra favorável ao reconhecimento dos direitos de homossexuais, mas é o primeiro processo no qual o mérito da questão é julgado.


Para o relator do processo, ministro João Otávio de Noronha, a regra constitucional que reconheceu a união estável entre homem e mulher é inclusiva e tem natureza anti-discriminatória, já que veio para superar as antigas diferenças entre o casamento e as relações de companheirismo. Por isso mesmo, não pode ser interpretada de forma restritiva para impedir a aplicação da união estável às relações homossexuais.


A regra que garante a união estável está prevista no parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Federal. “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. O argumento de quem não reconhece as uniões homoafetivas é o de que a Constituição é clara ao tratar de união entre homem e mulher.


Mas, para o ministro João Otávio de Noronha, a norma deve ser interpretada de forma mais ampla, levando-se em conta os princípios constitucionais da igualdade e da dignidade humana. O ministro ressaltou que não há no ordenamento jurídico brasileiro qualquer vedação explícita ao reconhecimento das relações homoafetivas. Ao contrário. Noronha apontou que o Novo Código Civil permite que juízes reconheçam as uniões homoafetivas como estáveis e que a Lei Maria da Penha atribuiu a essas relações o caráter de entidade familiar.


O caso está em discussão na 4ª Turma do STJ e não foi definido porque o ministro Raul Araújo pediu vista do processo. O ministro Luis Felipe Salomão acompanhou o relator para reconhecer a união estável do casal homossexual. O Ministério Público do Rio Grande do Sul contesta as decisões de instâncias inferiores, que já haviam reconhecido a união estável homoafetiva do casal que vive junto há 20 anos.


Questão de família - Há cerca de dois anos, a mesma turma do STJ decidiu que, ao não proibir expressamente o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, a Constituição Federal abriu a possibilidade para que homossexuais formem uma família. Na ocasião, os ministros permitiram que a 4ª Vara de Família de São Gonçalo (RJ) julgasse um pedido de reconhecimento de união estável entre dois homens.


Foi a primeira vez que o STJ analisou o caso sob a ótica do Direito de Família. Até então, a união homossexual vinha sendo reconhecida pelos tribunais como sociedade de fato, sob o aspecto patrimonial. A votação na 4ª Turma, na ocasião, foi por três votos a dois. Com o voto de desempate do ministro Luís Felipe Salomão, a Turma afastou o impedimento jurídico para que o mérito do pedido fosse analisado na vara de família.


O ministro Luís Felipe Salomão acompanhou o entendimento do relator, Antonio de Pádua Ribeiro. Salomão ressaltou que a impossibilidade jurídica de um pedido só ocorre quando há expressa proibição legal. Neste caso, não existe nenhuma vedação para o prosseguimento da demanda que busca o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo.


Dos ministros que, então, compunham a 4ª Turma, apenas dois ainda estão no colegiado: Luis Felipe Salomão, que já votou de forma favorável ao casal homossexual, e o ministro Aldir Passarinho Junior. À época, Passarinho decidiu que a Constituição Federal só considera a relação entre homem e mulher como entidade familiar.


Em abril passado, a 4ª Turma tomou outra decisão que beneficiou uma relação homoafetiva. Os ministros negaram recurso do Ministério Público do Rio Grande do Sul e garantiu a adoção de duas crianças por um casal de mulheres. O relator do caso, ministro Salomão, afirmou que o que deve prevalecer na análise desses casos é o interesse das crianças.


O ministro apontou que estudos não indicam qualquer inconveniência em que crianças sejam adotadas por casais homossexuais, importando mais a qualidade do vínculo e do afeto no meio familiar em que serão inseridas.

Lua vermelha em Capricórnio

"Tudo bem, eu não ligo, eu topo todas, mas cuidado, meu bem, por que a minha maré tá cheia e a sua vai subir também. Quinhentos graus de febre e a maré só faz encher. Quer saber, cola em mim, mas cuidado meu bem, porque a lua tá cheia e a minha maré também."

(Marina Lima)

Eu sou de Capricórnio com ascendente em Touro. Tenho as (ditas) principais características de cada um dos dois signos. Capricorniano, sou ambicioso e disciplinado. Prático, prudente, paciente e é até cauteloso quando preciso. Tenho bom senso de humor e sou reservado. Com ascendente em Touro tenho uma forte personalidade. Sou teimoso e de idéias fixas e sou materialista. Sou muito sociável, mas discreto. Gosto de sair e estar com os amigos, mesmo quando estou sem sentido de humor, o que pode me tornar rude. Mas este temperamento deve-se à minha natural timidez.



No entanto, esqueça essa conversa que o capricorniano não gosta de elogios e que é tímido, principalmente em relação a mim. Eu costumo impressionar muito mais pela minha presença elegante e pela forma com que tento parecer discreto. Tudo jogo de cena. Adora me exibir parecendo que estou agindo normalmente. Sou igual ao pavão que caminha um pouco e abre as plumagens como se fosse a coisa mais natural.


Por que disse tudo isso? Bem, não sei se os astrólogos conhecem essa condição astral, mas o fato é que eu estou me sentindo com a Lua Vermelha em Capricórnio, ou seja, estou para o crime, para o clima de paixão, para a esfera da sedução. Vermelho, quente, ardente, fogo!


Nunca me senti tão fullgás quanto agora. Tenho sentido sensações que nunca havia experimentado com tanto fervor quanto agora e mesmo dando vazão a todas elas, a vontade de sentir mais só aumenta. Tenho reencontrado pessoas interessantes que havia deixado passar e que apesar dos (meus) tropeços do início disseram que tinham boas recordações de mim e que gostariam de revivê-las.


Eu tenho me sentido mais eu. Mais confiante, seguro, menos tímido. Faz tudo com mais profundidade, não tenho mais urgências juvenis, cultivo a mestria de quem sabe o que e como quer. E percebo que as pessoas também têm notado isso. Meus olhos e gestos estão mais libidinosos. Gente que mal me via agora me chama. É um mundo tão novo e tudo que eu quero é todo esse mistério.


Como eu disse em “Belo estranho dia para se ter alegria”, estou me libertando de certas amarras, alguns pudores, preconceitos, receios e encarando mais o mundo de peito aberto, cara limpa. E acho que definitivamente o universo conspira a nosso favor quando agimos assim.

"Eu não consigo me controlar. Tenho um demônio na carne, no corpo. Sonho acordada na escuridão da minha cela; utilizo os dedos pra provocar sensações proibidas. Eu não sei explicar como isso acontece. Eu sinto um formigamento percorrer o meu corpo e algo se desprende, e caminha em direção a não sei."

domingo, 22 de agosto de 2010

Mas eu disse SIM e ela me ouvia

A minha vida tem uma menina chamada Marina
Ela é a cobra do meu paraíso
Ela é a dobra do meu paraíso
Ela é a sobra do meu paraíso
Ela é a sombra do meu paraíso
Ela é a cobra
Ela é a cobra
Ela é a cobra

(Antônio Cícero)


Assim que criei o blog, logo nos primeiros posts, prometi que falaria sobre minha artista predileta. Em seus blogs, Thamirys D’Eça e Ana Coaracy o fizeram, o que aumentou ainda mais a minha vontade de fazê-lo, pois bem, agora vou cumprir o prometido. Então hoje falarei sobre como MARINA LIMA passou a fazer parte do meu panteão musical.


Sempre ouvi (quase) de tudo que se pode imaginar. Quando criança passava o dia ouvindo rádio compulsoriamente – minha mãe tinha o hábito de ligar o aparelho assim que acordava, às 6h da manhã, e depois nos horários em que a TV, seu outro vício, estava desligada – portanto, conheço todos os sucessos radiofônicos da década de 1990.


Mas o auge da carreira de Marina foi nos anos 1980, eu sei. Acontece que por influência da minha mãe eu era um noveleiro convicto e Marina teve muitas de suas canções incluídas nas trilhas de novelas e minisséries globais. Assim, eu tinha algum conhecimento, ainda que parco, sobre essa mulher, mas não me tornei seu fã por essa época. Isso foi bem depois.


Em 2007 fui aprovado no vestibular para Jornalismo da UFMA. Foi quando conheci aquela que viria a se tornar minha alma gêmea, Thamirys. Foi ela quem me apresentou Marina Lima, aliás, essa foi apenas uma das inúmeras alegrias que A minha Thata me deu. Espere, preciso esclarecer um fato antes de continuar.


Na verdade, na verdade, quem me apresentou Marina foi outro amigo meu, dos tempos de infância, o Phellipe, que desde menino é seu fã por influência de sua mãe que também é mais uma 'mariniana'. Lembro-me dele andando para todo canto com o CD Pierrot do Brasil, que por acaso, é o meu preferido dentre os 17 já lançados por ela.


Mas Thamirys tem mais culpa nisso, pois foi ela a responsável pela minha paixão pela cantora. Naquele mesmo ano houve show da Marina em São Luís e Thamirys não falava de outra coisa. Também em 2007 Marina estava de volta às rádios com a canção “Difícil” que era trilha da novela “Paraíso Tropical” e essa foi a primeira canção de Marina na qual me liguei de verdade.


A ouvi no rádio, gostei e então decidi procurá-la na internet. Achei e baixei, mas para minha surpresa descobri que havia baixado o arquivo errado. Sim, havia baixado a canção, mas era outra versão. A primeira das três gravadas por Marina. Composição sua e de seu irmão – o poeta e filósofo Antônio Cícero -, a música foi lançada em 1985 no roqueiro LP Todas.


Mas logo aos primeiros acordes a canção me tomou. O verso inicial, sussurrado deliciosamente por Marina, “Sexo é bom!”, me soou incrivelmente libertário. Mas eu queria mesmo era a versão que estava tocando nas rádios àquela época. Continuei a busca e achei outra versão. Baixei, mas ainda não era a do momento. Era a segunda versão feita por Marina, em 1986 no LP Todas Ao Vivo. Essa versão me pegou ainda mais de calças curtas.


Marina mostrou-se ainda mais sacanamente necessária para mim ao improvisar nos versos: “eu disse não, ela não ouvia; mandei um sim, logo serviu, então pensei ‘ela é bela’ por que não comê-la? [em vez de por que não com ela?]. Mas ainda queria a outra versão. Até que achei. Ouvi e era rock, moderno, noturno, pop e bom. Embora não conhecesse a obra de Marina, até então, a canção entrou para o meu set list de imediato.


Nessa época Thamirys e eu tínhamos uma amiga no curso que adorava desfilar pelos corredores com um vestido vermelho bem safado e não dava outra quando Thami a via. “Um vestidinho vermelho que botei pra você ver...” cantarolava ela os versos de outra canção de Marina, Vestidinho vermelho, versão feita por Alvin L de “Beautiful red dress”, do Lauri Anderson, que Marina lançou no álbum Lá nos primórdios em 2006, o último lançado por ela e o mesmo da terceira versão de “Difícil”.


Nesse mesmo álbum estava a canção “Três”, a primeira composta por Marina e seu irmão para o show Primórdios que gerou o álbum (quase) homônimo. Essa foi a canção definitiva. A que me chapou de tal forma que eu só posso chamar de fundamentalismo músico-religioso.


A voz quente, rouca e sensual de Marina me seduziu como se fosse o canto de uma sereia e desde então seus versos me embalam. Seja na alegria ou na tristeza, eles estão sempre lá dizendo o que preciso ouvir.


Mas para que tudo isso acontecesse, era preciso que eu estivesse pronto para recebê-la e eu estava. Como e por que serão temas do próximo post que dedicarei a Marina.


Curiosamente hoje ela postou em seu twitter (@marinalimax) o seguinte: “quando uma pessoa atinge uma mudança básica em sua natureza, o universo deve responder, e refletir a energia milagrosa de volta para nós”.


Este é apenas um dos diversos posts que dedicarei a ela. Isto não é uma coluna ou série fixa de postagens, apenas não posso descrevê-la e nossa relação em um único texto. Até o próximo post sobre eu e Marina Lima.


Ouça aqui as canções de Marina que me despertaram, em todos os sentidos.


Três



Vestidinho vermelho



Difícil

Belo estranho dia para se ter alegria

No post “Eu GRITEI com minha mãe” eu prometi que também falaria de coisas boas quando postasse textos com a tag “Pessoalidades”, pois bem, hoje vou fazê-lo. Não, eu não conheci o meu príncipe encantado, não arrumei um emprego bacana, não ganhei na loteria e ainda não fui a um show da Madonna, mas tenho me sentido estranhamente feliz há algumas semanas.
Embora eu ache que hoje é um belo estranho dia para se ter alegria, é assim que me sinto e é sobre esse meu estado de espírito que quero discorrer hoje.



Os últimos tempos foram pesados. Houve momentos em que eu nem sei como resisti. Derramei lágrimas à exaustão, esbravejei, bati, desisti, voltei, me apaixonei, me frustrei... No post “Eu tenho medo!?” eu disse que “eu desaprendi a acreditar em algum momento em que o medo me tomou vorazmente”. Agora acho que estou voltando a crer no mundo, nos outros, em mim. “É que eu tô sozinho há tanto tempo que eu me esqueci o que é verdade e o que é mentira em volta de mim”, já disse Cazuza.


Tenho uma amiga que diz que muita felicidade é sinal de muito choro por vir, mas já chorei tanto nos últimos tempos que acredito que comigo as coisas funcionam ao contrário. Eu estou mais aberto aos bons sentimentos, mais disposto a conhecer as pessoas antes de julgá-las e até de tentar retomar antigas relações que apodreceram. Já não olho mais com tanto rancor para aqueles que me magoaram. Eu quero apenas poder olhar o mundo com meus olhos felizes, sem me machucar, sem me perder, sem deixar nada importar.


Estou me libertando de certas amarras, alguns pudores, preconceitos, receios e encarando mais o mundo de peito aberto, cara limpa. Os óculos escuros dos quais não abro mão nunca, agora não são mais para disfarçar minhas expressões, mas apenas para me proteger do sol. Tenho feito mais o que me dá prazer e não dando mais tantos ouvidos à maldade alheia. Eu sinto vontade de dançar e cantar a todo instante e de fazer coisas novas e diferentes.


Não sei ainda se isso significa que estou amadurecendo ou me tornando mais inconseqüente, só sei que me sinto mais forte e livre que nunca. Tenho feito um esforço sobre-humano para isso e aos poucos tenho conseguido. Esse é um dos motivos da minha estranha felicidade.


O outro é que não somos responsáveis apenas por nós, mas pelos que nos cercam. Não devo ser feliz apenas por mim, mas por aqueles que amo e me amam e que se sentem infelizes quando eu o estou. Eles também precisam de mim e eu preciso estar pronto para quando eles precisarem. Não falo que viverei em função dos outros ou me colocarei em segundo plano, mas tenho grandes amigos que precisam que eu enxugue as suas lágrimas nesse momento e não o contrário.


O choro deles me faz sentir mal, mas não sou mais tão suscetível quanto antes. Acontece que felicidade é algo recíproco. Se eu estiver feliz, meus amigos também estarão e se eles estiverem felizes, eu também estarei, por isso tenho que ajudá-los hoje para que eles possam me ajudar amanhã.


Talvez seja egoísmo meu, mas o fato é que me sinto sim feliz e quero viver isso em sua plenitude.