quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sim, meu filho é gay!

No dia 04.07 eu postei o texto: Mãe, eu sou gay!

Ele nasceu de uma conversava com um amigo cuja a mãe “não sabe” sobre ele e baseado nisso, resolvi escrever sobre o dia em que contei isso à minha mãe.

Para minha surpresa o post foi o mais comentado do blog e todos os comentários foram incríveis. Filhos falando sobre sua experiência com suas mães, héteros com filhos héteros analisando a situação e até mesmo uma mãe comentou sobre sua relação com o seu filho gay.

Lilah, cujo filho Lucas é gay, escreveu sobre sua reação ao saber que tinha um filho homossexual no seu blog, o Tramas, tranças e bobagens.

Li a postagem e achei que deveria compartilhá-la com todos vocês como forma de agradecê-los pela leitura fiel destes desabafos insanos. Boa leitura e não deixem de acompanhar OLiquidificador.


por Lilah Bianchi
do Tramas, tranças e bobagens
Eu não sei quando eu percebi que meu filho era gay. Nem me pergunte como ou por que, com certeza eu não saberia dizer. Talvez venha na descrição do trabalho de mãe: “sempre saber o que o filho sente”. Vai ver está junto com “prever o tempo” e “detectar mentiras”. A questão é que eu soube acho até que antes dele mesmo realizar isso.

Lucas é o terceiro, filho do segundo casamento, fruto de uma gravidez difícil e muito desejada. Foi, desde muito pequeno, uma criança calma, tranquila, que nunca deu nenhuma dor de cabeça. Os irmãos estavam quebrando a casa? Lucas estava no quarto brincando com lego. Os irmãos davam nó no pelo do cachorro e comiam a ração(juro que faziam isso!)? Ele limpava a sujeira e dava bronca nos dois. Era bom aluno, lutava caratê, gostava de jogar videogame e torcia para o Flamengo, como qualquer criança de bom gosto (rsrs). Mas, eu olhava para ele, com 10 ou 12 anos e uma voz me dizia que ele era diferente dos irmãos.

Enquanto o do meio namorava qualquer coisa com saias, o mais velho engatava um namoro longo, eu via Lucas sozinho, cada vez mais e mais isolado. Aos poucos o isolamento virou tristeza. A proximidade que sempre tivemos virou distância. O menino doce ficou agressivo, impaciente, sem tempo para a família e os amigos. O pai colocava tudo na conta da “aborrescência”, mas eu via um pouco mais que isso. E comecei a ter medo.

Que ninguém se engane, não foi um processo simples. Não sou nenhuma mulher maravilha. Tive medo do que iam pensar. Tive medo do que a família ia dizer. Questionei minha própria competência como mãe, me perguntei se havia falhado em alguma coisa, se de alguma forma era minha “culpa”. Ah, mães são especialistas em culpa! Nos culpamos sempre, por tudo e qualquer coisa. Tive dúvidas. Temi pela reação do meu marido, machista como a maioria dos brasileiros, ao descobrir que o único filho homem era gay.

A certeza veio ao descobrir revistas em seu quarto. Toda mãe de adolescente já encontrou playboy embaixo do colchão, muito antes de seus filhos terem idade legal para comprar. Eu encontrei homens nus ao invés de mulheres.

Talvez a melhor coisa que eu tenha feito foi não me sentar e esperar. Eu quis entender. Eu quis estar pronta para o dia que ele me contasse. Mais que isso, eu quis que ele soubesse que eu ouviria, que ele podia contar. Claro que no meio do caminho eu cometi enganos. Exagerei ao pressioná-lo, não muito discretamente, para me contar. Exagerei em livros, filmes, dicas e indiretas. Como ele diz hoje, ele não saiu do armário, eu chutei ele para fora.

Quando ele finalmente contou, não foi o pai que teve problemas, mas o irmão mais velho. Medo que os amigos achassem que ele também “era viado”. Não foi um tempo tranquilo. Nem um que deixou saudades, mas ele aprendeu a respeitar o espaço do irmão e no processo eles se tornaram mais amigos do que eram antes. E aprendeu tão bem, que sua madrinha de casamento é transex. Minha família descobriu sobre diversidade. Meu caçulinha, cresce hoje numa casa onde orientação sexual é só um aspecto da vida e não define nada.

Se você é mãe, pai, irmão... o que eu posso dizer é que aquela pessoa na sua frente dizendo “sou gay” é mesma que você trocou fraldas, ninou, levou para o parquinho. É o mesmo irmão que você jogou bola ou brincou de bonecas. É ainda o mesmo filho que lhe deu beijos melados. O mesmo irmão que dividiu o último biscoito. O mesmo sobrinho que brincou de cavalinho nas suas costas. É ainda a mesma pessoa. E ainda ama você do mesmo jeito.

Eu? Sou mãe de quatro meninos. Um deles, acontece gostar de meninos ao invés de meninas. Um deles é gay. Assim como um deles tem olhos azuis, o outro tem alergia a camarão e o quarto a vida me deu de presente, ao invés de ser gerado por mim. Só do jeito que Deus fez cada um deles. Absolutamente, perfeitos.

1 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns.... Muito bom o seu poaicionamento. q DEUS ilumine a cabeça das pessoas e q as mesmas possam agir da mesma fora.
q DEUS lhe abençõe grandiosamente.

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