quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Simples como o fogo

Iniciamos hoje um especial sobre a cantora Marina Lima que aniversaria no dia 17 deste mês, fazendo 55 anos, publicando até aquela data um post especial em sua homenagem. Como 17 é também o número de álbuns lançados pela cantora ao longo dos seus 31 anos de carreira, faremos 17 postagens pegando como mote um dos seus discos.


Assim, falarei da vida e obra da cantora, além da minha relação com sua música, conforme anunciei no post “Mas eu disse sim e ela me ouvia”.

O ano era 1979 e Marina, ainda sem assinar o ‘Lima’, tinha então 24 anos. Nessa época os maiores referenciais na música brasileira, dentre outros grandes nomes, eram as baianas Maria Bethânia e Gal Costa que poucos anos antes haviam lançado, em conjunto com Caetano Veloso e Gilberto Gil, o disco “Os doces bárbaros”, uma das obras-primas da música brasileira.


Nessa mesma época aquilo que teríamos hoje como música pop começava a se definir com o lançamento do LP “Off The Wall”, primeiro da carreira solo de Michael Jackson e que até hoje é o álbum de Black music mais vendido da história, 20 milhões de cópias.


E foi nesse cenário que é lançado Simples como o fogo, primeiro álbum da cantora influenciada por estilos como o pop, rock, blues, o samba e a bossa. Mas a primeira aparição de Marina no cenário da MPB deu-se dois anos antes quando Gal Costa gravou uma composição sua, a canção “Meu doce amor”.


Mas a apresentação de Marina na MPB quase ocorre mais cedo, em 1976, quando Bethânia tentou gravar “Alma caída”, primeira das inúmeras parcerias de Marina e seu irmão, o poeta, filósofo e letrista Antônio Cícero. Essa gravação foi impedida pela censura militar e canção só veio a ser gravada anos depois, em 1989, no LP Estrebucha baby de Zizi Possi.


O primeiro LP de Marina já trazia impresso uma das características mais marcantes da carreira da cantora: a sonoridade única. Marina queria fazer um trabalho que fosse distinto de tudo que se ouvia àquela época. Para tanto ela mescla o blues e o rock, o samba, a bossa e música pop, que, aliás, nessa época inexistia no Brasil.


Abrindo o álbum, a canção "Solidão", de Dolores Duran, que ganhou uma interpretação forte e envolvente de Marina que em nada lembra o clima dor-de-cotovelo original. Apesar da letra triste é uma canção bem para cima, alegre. Em seguida, "Transas de amor", canção que nasceu de um papo de Marina e Cícero quando ela ainda tentava se compreender, a seu corpo e desejos. Essa canção imprime outra das características da cantora, a atualidade dos temas de suas composições. A música fala da relação sexo descompromissado e sexo com amor.


Depois de cantar seu desconforto com a solidão e sobre os dilemas de transar por transar ou não, Marina fala em "A chave do mundo" do amor que ao mesmo tempo em que aquece, queima, um amor simples como o fogo e em seguida, em uma balada meio rock, meio blues, trata da como pode ser "Tão fácil" fácil amar e se perder de amor.


Como toda jovem, difícil, esquisita, hiperativa, angustiada, essa é a "Maneira de ser" de Marina, tema dessa canção. Noturna, ela canta as lágrimas de um fim de amor sobre a carta de adeus em "Revolta", composição de Moraes Moreira. E depois fala sobre como é ficar "Literalmente louca" com um simples olhar da pessoa amada. "Não há cabeça", composta por Ângela RoRo, e os antagonismos sentimentais segue-se no álbum antecipando-se à "Memória fora de hora", uma canção de letra bem curta que fala da saudade de algo que está distante e encerrando o disco, "Muito", do Caetano Veloso, e a volúpia, a gula, o exacerbar dos sentimentos.


Desse álbum me marca muito a canção "Memória fora de hora" que acabou se tornando uma seção do blog onde falo das minhas angústias e de coisas que me ocorrem inesperadamente. O verso “o meu amor mora lá no Rio” é literal para mim. "Transas de amor" também me diz muito. Às vezes fico na dúvida se “os sonhos de quem ama não cabem só na cama”.

Quando Marina surgiu na cena pop brasileira, no final dos anos 70, foi um verdadeiro alvoroço. A tímida cantora carioca que tem o charme do mundo, com a sua mistura única de pop-rock com a MPB mais tradicional, arrebatou uma legião de fãs com o seu estilo "cool", e uma voz bela e sensual misturada a composições inteligentes.

O trabalho, de certa forma, foi um pouco incompreendido. Afinal de contas, as pessoas sempre demoram um pouco para digerir o diferente, no entanto, Simples como Fogo é complexo musicalmente e ao mesmo tempo leve e envolvente. Com ele, Marina deixou uma bela primeira impressão.

Ouça aqui algumas canções desse LP:

Transas de amor


A chave do mundo

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