sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um abraço?!

Há um mês, mais ou menos, não publico nada aqui e apesar disso, ganho novos seguidores e o número de visitas ultrapassou 10 mil, 500 delas neste período de seca. Sendo assim me sinto obrigado a postar algo, embora não saiba exatamente o que quero lhes dizer hoje. Apenas sei que preciso fazê-lo.

Mas essa necessidade está muito além de manter o público. Ela vem do fato de justamente neste último mês ter conversado com alguns amigos meus que estão passando por momentos de muitas dúvidas e questionamentos tentando decidir coisas que eles mesmos não sabem se querem ou se estão prontos.

São longas conversas pelo MSN, pelo celular, pessoalmente, numa tarde qualquer ou tarde da noite. No começo delas uma mesma frase: “eu quero contar pros meus pais que sou gay”. Outros não falam comigo sobre, mas eu os vejo muito além do sorriso no rosto ou da cara amarrada. E isso tudo me fez lembrar tudo que vivi entre 2006 e 2009 quando o mesmo pensamento me vinha à cabeça, mas diferente deles, eu não tinha com quem falar.

Eu me sentia perdido, sozinho e carregando muito mais dúvidas que respostas e hoje vejo eles passando pelo mesmo e sinto como se fosse comigo e mesmo sabendo que não há grandes coisas que eu possa fazer, gostaria que eles soubessem que não estão sozinhos e que de alguma forma estou ao lado deles.

Quando nossa ficha cai e temos a certeza que somos gays, começamos a nadar contra a maré. A travar uma luta de Titãs. Somos nós (sozinhos) contra todas as angústias, medos, auto-preconceitos, alguns sentem raiva de si e quase sempre a estação de chegada dessa longa viável até a auto-aceitação é a solidão, o isolamento e na sua pior forma: experimentamos a cela da nossa mente.

Vivemos dentro de nós o que não temos coragem de viver no mundo até que decidimos abrir os portões, correr e assumir, sair do armário, enfim, mas essa parte é ainda mais assustadora que a primeira, afinal, como ter certeza que aquelas pessoas com as quais convivemos nossa vida toda continuarão ali quando souberem quem realmente somos, ou melhor, quando se virem obrigadas a encarar quem realmente somos?

Como ter a certeza que não seremos agredidos, expulsos, que não tentarão nos convencer que estamos confusos ou que não terão a certeza que somos apenas mais um dentre tantos outros sem vergonhas?

Não tem como saber tudo isso até dizer as tão temidas palavras: “eu sou gay”. Eu as disse tem um tempo e as coisas ainda não ficaram bem, mas aprendemos a viver ou nos adaptamos. Quando eu disse "mãe, eu sou gay" meus pés ficaram sem chão, mas eu já sabia que seria assim.

Não sei se me fiz entender ou se escrevi um texto com alguma coerência. Como disse me senti obrigado a fazer isso em nome de todos os meus amigos que convivem diariamente com esse monstro embaixo do colchão e que não sabem como livrar-se dele e que buscam somente, nesse primeiro momento, alguém com quem dividir essa angústia.

Um desses amigos abriu as portas ontem e quase me fez mandá-lo embarcar-se via Sedex para minha casa, tamanha a minha aflição. Mas por sorte, ele tem amigos bem mais eficientes que eu, né @LilahLeitora? Agora ele está rearrumando o armário. Esse texto vai especialmente para ele, mas também para os meus outros amigos que estão à beira do caminho e todos os que se sentirem tocados.

Leia AQUI o porquê desse texto e AQUI onde tenho buscado algumas respostas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Estou assim

Não houve engano algum. Eu entendi muito bem o que você disse. Não houve engano algum. Absolutamente, você foi tão clara. Suas palavras ainda ardem na memória e aquele fogo ainda queima o coração.
(Marina Lima – Arquivo II)



“Marina, Marina morena, você me pintou”. Se o saudoso Caymmi, da imponência do seu assento etéreo, me permitir, gostaria de usar seu verso para falar de outros versos de uma outra Marina, também morena, mas carioca, cuja voz rouca ronda minha mente como espírito obssediador me cantando coisas em meio ao turbilhão de trilhas de musicais que ganham vida com os timbres teatrais de Barbra Streisand, Liza Minnelli, Indina Menzel, Kristin Chenoweth, dentre tantas outras que tenho ouvido nos últimos tempos.

Marina, a Lima, apesar do alto volume dos meus fones de ouvindo, consegue-se sobrepor a todas elas martelando minha cabeça como o tique-taque do relógio que bate depois da meia-noite quando o silêncio sensibiliza ainda mais os ouvidos e nos faz perceber o mais baixo dos sons, me dizendo coisas que nem sempre quero ouvir e, vencido, acabo buscando com urgência seus CDs que me fazem querer partir, poder ficar sem nexo e em qualquer lugar.

Seus versos, provérbios, prenúncios, profecias, de sua autoria ou apenas cantados por si me perseguem, torturam e regojizam e me dizem coisas como:

“E me apaixonam questões ardentes que nem consigo assim de repente expor.”

“Olhei pro amanhã e não gostei do que vi. Sonhos são como deuses, quando não se acredita neles deixam de existir.”

“Tempo vai passando, mas às vezes passa e ainda fica atrás daquela mal contada história de amor.”

“Eu podia ser mais forte se quisesse.”

“Eu não sei mais quem eu sou e o que pretendo.”

“Se o que acontece não segue a regra, será a vida em vão?!”

“Acreditar. Não posso acreditar como alguém tão livre se deixe escravizar. Desistir como se fosse só deletar.”

“Estou assim: com o sangue estancado na veia.”

“Só dias seguindo quando é frio em meu coração.”

“Quero acreditar que no fundo do amargo tem uma gota doce.”

“Um coração cansado de sofrer e de amar até o fim. Acho que vou desistir.”

“Minha vida absurda e a terra a girar. Quem escuta o meu sim?”

“É porque eu não quero que nada aconteça. Deve ser porque eu não ando bem da cabeça ou eu já cansei de acreditar.”

“Às vezes fujo pro meu pedestal e faço tudo pra não cair, mas quando eu desço eu desço tão mal. Do que me adiante fugir?”

“À beira do abismo, queira ou queira, estamos prestes a voar.”

“Os passos que não dei ainda virão em outra direção.”

E ainda há tantos outros...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Na porta e outro Oi

Faz tempo que eu saí.

Voltei algumas vezes e fui de novo.

Agora estou na porta.

Não sei se quero abri-la.

Na verdade, eu queria que alguém o fizesse por mim.

Depois me pudesse para dentro e não perguntasse nada.

Apenas me deixasse deitar sobre o sofá e ficar.

Eu já estive ante essa mesma porta antes.

Com as mesmas sensações de agora.

Em todas as vezes eu a mantive fechada e parti.

Queria escerver algo mais auvissareiro, mas, não sei por que, estou sem cabeça para muita coisa. Quem lê este blog desde o começo já percebeu que sumo às vezes, mas acho que dessa vez será um período mais longo que eu gostaria. Em todo caso, passo todos os dias por aqui, leio os comentários e até ganhei três novos seguidores nessas quase três semanas sem postar e o número de visitas diárias permanece dentro da média.

Assim que puder, volto a escrever com a paixão de sempre. Tenho sentido dores de cabeça todos os dias, apesar de não está doente, pelo menos é isso que me dizem os exames. Estou sentindo uma vontade devastadora de sumir por uns dias desse caos. Queria ficar só. Sem qualquer contato com o mundo. Por hora quero apenas que saiba que os tenho observado e que continuo por aqui, de alguma forma, e que voltarei o mais breve possível.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um Oi e a Caixa de Pandora

Meus caros, sei que estou em débito com vocês. Há uma semana não escrevo nada. Estou me forçando a digitar essas malogradas linhas para dar alguma satisfação a todos que diariamente vem até aqui ver o que há de novo e se deparam com o nada.

Ando sem inspiração para escrever, embora não me faltem assuntos. A cabeça dói, literalmente. As últimas semanas foram de muita exaustão física e mental. Trabalho praticamente dobrado em nome do jornalismo o que me deu muita satisfação, é claro, pois amo o meu trabalho, mas acho que preciso me desligar um pouco para recobrar as forças e poder dar conta de tudo que me espera. Talvez por isso tenha sumido daqui.

Estou com algumas preocupações. O sono, que já não era dos melhores, ficou ainda pior. A vontade é de sumir por um tempo. Jogar tudo pro ar, mas falta coragem e não sei até que ponto isso é bom ou ruim.

Mas hoje quero, além de pedir-lhes que não deixem de visitar este espaço apesar das minhas constantes ausências, falar sobre a Caixa de Pandora, mais precisamente sobre a minha Caixa de Pandora e também por que estava sentindo falta de falar sobre mim.

Se você já ouviu falar sobre a lenda da Caixa de Pandora, mas está sendo traído pela memória, aqui vai uma pequena ajuda:

A Caixa de Pandora é um mito grego que narra a chegada da primeira mulher à Terra e, com ela, a origem de todas as tragédias humanas. De acordo com a lenda, o titã Prometeu presenteou os homens com o fogo para que dominassem a natureza. Zeus, deus do Olimpo, que havia proibido a entrega desse dom à humanidade, arquitetou sua vingança criando Pandora, a primeira mulher.

Antes de enviá-la à Terra, entregou-lhe uma caixa, recomendando que ela jamais fosse aberta. Dentro dela, os deuses haviam colocado um arsenal de desgraças para o homem, como a discórdia, a guerra e todas as doenças do corpo e da mente mais um único dom: a esperança. Vencida pela curiosidade, Pandora acabou abrindo a caixa, liberando todos os males no mundo, mas a fechou antes que a esperança pudesse sair.

Assim como com Pandora, minha esperança ficou trancada na caixa. Não a deixei sair. Junto com ela tranquei todos os bons sentimentos. Os males, peguei-os todos e fiz uma armadura intransponível da qual nunca me dispo. Quando isso acontece é por tão pouco tempo que nem sempre (ou quase nunca) se pode me ver. Só alguns privilegiados tem olhos extremamente aguçados, mas desses eu dou cabo da pior forma possível.

Às vezes acho que não tenho sentimentos, mas engrenagens. De tanto ouvir amigos, familiares, conhecidos e afins me chamarem de insensível, na maioria das vezes tenho certeza que o que tenho são engrenagens. Ao longo da minha, mesmo quando ainda era bem criança, ouvi as pessoas dizerem: “Jock, tu és muito mal”; “Jock, tu não tens coração”; Jock, tu és muito frio”; “Jock, tu és insensível”; “Jock, tu és egoísta” etc e tal. Ainda nem tinha 6 anos completos quando isso aconteceu pela primeira vez. Minha mãe, perdi as contas de quantas vezes ela disse tais coisas. Acho que internalizei isso.

O fato é que isso ficou impregnado em mim depois de todos esses anos. Acho que não limpa mais, sendo assim, as pessoas só tem duas opções, oito ou oitenta, amar-me ou deixar-me. Tenho muitos que me amam, mas os que me deixaram somam bem mais. Fazer o quê?

Bem, amigos, ficarei por aqui. Gostaria de aprofundar-me mais, mas deixarei para a próxima. Minha cabeça dói muito. Queria apenas que soubessem que estou por aqui ainda.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

LGBT News - Eleições 2010

Ontem (03.10), 135,8 milhões de eleitores foram às urnas para decidir sobre o Brasil do pós-Lula. Depois de oito anos sob o comando do petista, os brasileiros precisavam escolher o sucessor do presidente de popularidade recorde. Além do novo nome que ocuparia o Palácio do Planalto, estavam em jogo 27 governos estaduais, dois terços do Senado e toda a Câmara de Deputados.

A eleição do novo presidente ficou para o segundo turno, quando disputarão Dilma (PT) e Serra (PSDB). Dos 27 estados do país, 9 decidirão no segundo turno quem os governará pelos próximos quatro anos: Distrito Federal, Goiás, Rondônia, Paraíba, Piauí, Roraima, Pará, Amapá e Alagoas.

Cientes da importância do voto consciente para garantir a cidadania de todos os cidadãos, diversos grupos fizeram campanha para os candidatos que defendiam as suas causas. Dos candidatos que assinaram o Termo de Compromisso da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros), foram eleitos um governador, uma senadora, 17 deputados federais e 25 deputados estaduais.


Jean Willys, eleito deputado federal pelo RJ

Apesar da reação dos evangélicos e católicos (leia comentário do blogueiro na coluna de hoje, aqui) que alavancaram Marina Silva (PV) e levaram as eleições presidenciais para o segundo turno, os LGBT conseguiram um avanço com as eleições deste domingo elegendo o primeiro deputado federal gay assumido eleito com uma plataforma LGBT, o ex-big brother Jean Wyllys pelo PSOL-RJ (à esquerda), com 13.018 votos, 0,16%, do total das urnas fluminenses.

Alírio Neto, eleito deputato distrital
Além disso, houve ainda a reeleição de Alirio Neto do PPS-DF, deputado distrital conhecido por defender a causa LGBT (à direita).

São Paulo foi o estado mais elegeu políticos pró-gays. Foram 6 deputados federais e 5 estaduais. No Maranhão (estado onde moro), nenhum candidato assinou o Termo de Compromisso, mas esperamos que esses eleitores não sejam relegados. Confira abaixo a lista dos aliados e gays eleitos:


Governador:
Bahia
Jaques Wagner (PT)

Senador:
Bahia
Lídice da Mata (PSB)


Deputados federais:
Bahia
Nelson Pelegrino – PT


Ceará
Artur Bruno – PT
Distrito Federal
Erika Kokay - PT


Paraíba
Luiz Couto - PT
Pernambuco
Mauricio Rands - PT
Piauí
Átila Lira - PSB
Marllos Sampaio - PMDB
Paraná
Dr. Rosinha - PT


Rio de Janeiro
Jean Wyllys – PSOL - Gay
Rio Grande do Sul
Manuela D’Ávila – PcdoB
Paulo Pimenta - PT


São Paulo
Ivan Valente - PSOL
José Aníbal - PSDB
Paulo Teixeira - PT
Mara Gabrilli - PSDB
Vicente Candido – PT
Roberto Freire - PPS

Deputados estaduais:
São Paulo
Bruno Covas - PSDB
Carlos Giannazi - PSOL
Mauro Bragato - PSDB
Samuel Moreira - PSDB
Barros Munhoz - PSDB
Bahia
Bira Coroa - PT
Marcelino Galo - PT
Maria Del Carmen - PT


Distrito Federal
Alirio Neto - PPS - Gay
Arlete Sampaio - PT
Eliana Pedrosa - DEM
Wasny de Roure - PT
Espírito Santo
Claudio Vereza - PT


Goiás
Mauro Rubem - PT
Minas Gerais
Luiz Humberto Carneiro - PSDB
Luiza Ferreira - PPS
Pará
Bernardete - PT
Edmilson Rodrigues - PSOL


Pernambuco
Isaltino Nascimento - PT
Paraná
Fabio Camargo - PTB
Professor Lemos - PT
Tadeu Veneri - PT


Rio de Janeiro
Carlos Minc - PT


Rio Grande do Sul
Raul Pont - PT
Santa CatarinaAngela - PCdoB

sábado, 2 de outubro de 2010

Contrato Social II - a disseminação de um pensamento

“Aquilo que o publico realmente abomina na homossexualidade não é a coisa em si, mas o fato de ser obrigado a pensar nela.”

E. M. Forster

Eu já falei sobre o tema no texto “Contrato Social”, mas hoje gostaria de discuti-lo novamente, dessa vez, sob outra ótica: a de um exemplo claro da tentativa da perpetuação de um pensamento. Não que eu desacredite, agora, em tudo que disse antes, mas acho que esse texto é bom complemento daquele. Por isso, leiam o texto anterior, depois a reportagem linkada abaixo e por fim minhas considerações acerca de tudo e tirem suas próprias conclusões. Se puderem compartilhá-las comigo comentando no blog, melhor ainda. Boa leitura.

 

Na sua edição do dia 12 de maio desse ano, a revista Veja publicou a seguinte reportagem especial: “A geração tolerância: os adolescentes e jovens brasileiros começam a vencer o arraigado preconceito contra os homossexuais, e nunca foi tão natural ser diferente quanto agora. É uma conquista da juventude que deveria servir de lição para muitos adultos.” A reportagem é antiga, mas essa discussão é sempre atual.

Com tocantes e felizes histórias de jovens gays que conseguiram vencer o preconceito familiar, a reportagem conta como diversos jovens 'vivem livremente' (!!!) a sua sexualidade, ressaltando a discrição como pré-requisito para a aceitação. Em um dos trechos da reportagem pode-se ler que “declarar-se gay em uma turma ou no colégio de uma grande cidade brasileira deixou de ser uma condenação ao banimento ou às gozações eternas”.

Ora, é bem verdade que muitos avanços no combate ao preconceito já foram alcançados, mas essa é uma realidade vivenciada pela imensa minoria dos gays em nosso país. Não que a reportagem seja no seu todo ilusão, mas passar isso com a realidade atual de todos os gays e da sociedade em relação à homossexualidade é no mínimo hipocrisia. Basta perguntar sobre isso e de cada 10 entrevistados, com toda certeza, pelo menos 8 afirmarão que sofrem com a discriminação em casa, na escola, na universidade, no trabalho, ainda que de forma velada.

Nos últimos meses tive excelentes conversas com a @lilahleitora e o @AndreV_ sobre algumas das diversas questões que permeiam o “mundo LGBT” e um dos pontos que mais discutimos foi justamente essa aceitação e liberdade vividos por essa jovem geração de homossexuais e sempre chegamos ao mesmo questionamento: o que vivemos hoje é, realmente, a era da aceitação ou do comodismo?

Eu tenho 22 anos e há pouco mais de um 'assumi' definitivamente que sou gay – mas sobre isso dedicarei um post futuro – e não percebo que essa seja uma questão que seja vista com tanta naturalidade quanto prega a Veja em suas páginas ou diversas outras reportagens de rádio, TV, jornal; na verdade o que há é justamente um camuflamento, por parte da maioria das pessoas – gays e homofóbicos – desse sentimento.

Para muitos gays é uma grande conquista poder ir ao cinema, shopping, praia e outros locais públicos – que não os ambientes LGBT – com seu namorado, e de fato é, mas a maioria dos casais gays que conheço comporta-se, em público, como um casal de amigos, se eles fogem dos estereótipos gays, não há quem diga que algum tipo de relação amorosa entre ambos.

E esse tipo de postura não só é bem-vista como incentivada pela sociedade. Quantas vezes já não ouvi “o fulano é gay, mas é sério, ele não demonstra isso para ninguém”. E já ouvi de muitos gays o seguinte: “eu sou discreto, não preciso esfregar minha sexualidade na cara de ninguém para ser respeitado”. Oras, acontece que isso não é aceitar e não é assim que acabaremos com o preconceito. Isso é apenas uma forma de não tratar o assunto.

Quer dizer que eu preciso reprimir-me em público para ser respeitado pelos outros? Um homem heterossexual é mais respeitado se esconde essa sua condição? Deixar de dar um beijo no meu namorado em plena praça de alimentação de um shopping é o caminho ideal para que as pessoas entendam que toda forma de manifestação de carinho é válida? Eu não devo “esfregar” minha sexualidade na cara das pessoas, mas sou obrigado a ter um casal hétero sentado ao meu lado no cinema se beijando como se fizesse sexo? A resposta para todas essas perguntas é NÃO!

Mas na ânsia de serem aceitos a maioria dos jovens gays caem nesse poço e não percebem que estão apenas deixando de serem vistos, inclusos, mas sendo empurrados para um novo estereótipo de gay: o gay discreto. “Ora, não me exponha suas vergonhas que nos daremos bem” é assim que percebo que somos encarados pela, ainda, maioria das pessoas com as quais convivemos. Estamos sendo absorvidos pela multidão, nos tornando invisíveis e o que é pior: por vontade própria.

Pior ainda é o fato de muitos gays criticarem aqueles que na contramão do comodismo, lutam diariamente pela garantia de todos exercerem seus direitos que são cerceados todos os dias. É no mínimo contraditório que todos os gays queiram ter ou adotar filhos, casarem-se, serem respeitados, mas nada fazem por isso. Apenas sentam-se e esperam que a sociedade os receba de braços abertos.

Não estou aqui dizendo que temos que ir às ruas marchando e gritando contra a homofobia. Somente isso não resolverá. Mas é preciso que percamos o medo de sermos gays, perder o medo do estigma. E daí se nos apontarem na rua ao nos verem de mãos dadas com o nosso namorado? Mas é preciso mostrar que a homossexualidade é tão natural quando o nascer do sol todas as manhãs.

Tendo em vista toda a dificuldade de ser gay em um mundo tão hostil à causa, não soa razoável que alguém escolha, voluntariamente, ser gay. A única escolha está em se aceitar e vivenciar a própria sexualidade. Renunciar a tudo isso e fingir ser algo que não se é também é uma escolha. Tentar coibir os excessos praticados contra aqueles que têm uma orientação sexual diferente da maioria não é benesse, não é um prêmio, não é um superpoder. É tratar um homossexual pelo que ele é: um cidadão.

O que se pode compreender, segundo a matéria da Veja, é que nós, os gays, somos os culpados por toda a discriminação que sofremos, em especial os militantes.  Esqueçamos a PCL 122, as paradas, essa baboseira toda de luta pelos direitos. Na verdade, as pessoas nos amam. O mundo é cor-de-rosa. Viva a alienação!!!