quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Justiça para quem?


Na semana passada, duas notícias correram todos os blogs, sites e outras publicações voltadas para os LGBTs no Brasil. A primeira delas foi a prisão do jovem Wesley Campos, de 18 anos, sob a acusação de estupro de vulnerável, após ser visto beijando um menor de 13 anos no cinema de um shopping paulista, conforme você pode ler AQUI. A outra foi sobre a agressão de pelo menos 3 jovens gays por um grupo de 5 garotos, 4 deles menores, motivada pela intolerância sexual dos agressores em plena Avenida Paulista, como você pode ler AQUI.

Wesley Campos foi solto apenas na noite de ontem, após ter passado cinco dias detido. Ele ainda responderá por estupro e pode pegar 15 anos de prisão, apesar de o menor já ter afirmado que o beijo foi consentido. Jonathan Domingues, 19 anos, o único maior dentre os 5 jovens que agrediram gays na Avenida Paulista e que aliciou os 4 menores que o acompanharam nos ataques, apesar das acusações de formação de quadrilha e agressão, foi liberado no dia seguinte sua pena não chegará a 5 anos, se condenado.

As duas prisões tem como causa principal a homofobia, mas ela foi encarada, nos dois casos, de forma diferente. No caso de Wesley, ela foi o motivo da sua detenção. No caso de Jonathan, ela foi o motivo da sua soltura. Como comentei AQUI quando da prisão de Wesley, todos os dias, inúmeros homens héteros, saem com meninas menores, entre 13 e 17 anos e não me lembro de nenhum caso em que alguém tenha sido preso sob a mesma acusação.

Da mesma forma, todos os dias dezenas de gays são agredidos, espancados e até mesmo assassinados e seus algozes, quase nunca, recebem a punição devida. Pior, na maioria dos casos, seus crimes caem no lugar comum. São encarados como apenas mais um caso de homicídio ou mais um caso de agressão motivado por um desentendimento qualquer. Caem no esquecimento ou, no máximo, no roteiro de algum programa de humor que leva ao riso milhares de telespectadores logo que a bichinha afetada aparece no ar.

O próprio advogado de defesa de Jonathan afirmou que a agressão ocorreu por que um dos gays espancados teria lhe passado uma cantada. Versão que já foi contestada por testemunhas da ação criminosa. Há ainda alguma dúvida que o caso seja de homofobia? Então dar em cima de alguém é motivo para quase homicídios? Todos os dias milhares de homens dão em cima de mulheres pelas ruas sem considerar a possibilidade delas serem lésbicas e nem por isso levam socos. A polícia já trabalha com a hipótese de intolerância sexual. Acontece que a homofobia não é crime neste país.

E enquanto não houver uma legislação mais rígida para tratar de casos como esses, teremos que lidar com esse tipo de situação. Em outras palavras e de certa forma, o Brasil protege homofóbicos e reprime gays.

Ser gay, demonstrar afeto em público, é motivo para prisão, expulsão de shoppings, cinemas, para vaias públicas, humilhações de toda sorte e de condenação por aquele que tem o dever de garantir o exercício dos meus direitos: o Estado. Pois não há quem me fará crer que prender um homem só por que este beijou outro, menor de 14, o que é crime, é cerceamento de direitos. Se é crime namorar menores de 14 por que os denunciantes de Wesley não fazem o mesmo com os homens que namoram meninas adolescentes? Crime é crime! Ser gay agora é agravante da pena?

Agora se você xingar, humilhar, reprimir, espancar, matar um gay, fique tranqüilo. Algumas cestas básicas, uma semana cuidando de idosos abandonados em asilos resolve o problema. Afinal, o que há demais em tentar ensinar esses gays a serem homens de verdade? Seu pai lhe ensinou isso, não é mesmo? O Estado lhe garante isso!

Até quando iremos conviver com essa impunidade? Com esta balança viciada onde há dois pesos e duas medidas? Quando eu poderei sair à rua sem o risco iminente de ser espancando covardemente por um grupo de garotos que eu nunca vi só por que eu sou gay? Quando eu vou poder abraçar e beijar meu homem em público sem correr risco? Até quando nossos legisladores deixarão seus interesses particulares falarem mais alto fingindo não haver a necessidade da aprovarão a PL 122? Até quando?

5 comentários:

Murilo Araújo disse...

Excelente texto, Jock!

Permanece comigo a mesma angúistia: ATÉ QUANDO?
Beijos afetivos!

Pará Diversidade disse...

Muito bom!!! Podemos republicar no nosso site? Abs!

Jock Dean disse...

Pará Diversidade, sintam-se à vontade para republicar qualquer texto. Basta linkar o blog, pôr os créditos que tudo fica bem. Há espaço para todos e essa união é mega-importante.

Jock Dean disse...

Murilo, como estava conversando com uma amiga, só tomarão alguma atitude de fato quando o filho gay de algém "importante" estiver no lugar desses anônimos. Tristeza. Mas esse é o Brasil.

Ricardo Hugo disse...

Jock, Parabéns pelo texto!

Compartilhamos a mesma indignação e luta!
Soube que sábado dia 20/11 as 17h, no cruzamento da av. Paulista com Augusta, vai haver um ato em resposta aos casos mencionados por vc aqui e outros mais. Estarei lá, se poder divulgar... a força e união são importante nessas horas. Precisamos reunificar a luta dos setores oprimidos e discriminados e retomar nossas lutas pela igualdade, de maneira que, o convite não é só para gays, mas tb para negros(as), mulheres, trabalhadores e todos outros setores oprimidos da sociedade.
No ato, acenderemos velas em memória a todos os GLBTs mortos por homofobia e levaremos cartazes de denuncia e luta.

Grande beijo!

Postar um comentário