quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pelo direito de odiar


Nos últimos dias as palavras homofobia, preconceito e impunidade lotaram as rodas de discussões, blogs e sites gays país afora motivados pela prisão de Wesley Campos, passando quatro dias no Centro de Detenção Provisória de São Paulo, e a soltura, no dia seguinte após ter espancado quatro pessoas, três delas homossexuais, de Jonathan Domingues, principalmente.

Jonathan, 19 anos, agrediu três gays na Avenida Paulista da Diversidade, em São Paulo, alegando ter recebido uma cantada de um dos rapazes, contando com o aval dos pais após ter cometido essa atrocidade pode tornar-se uma espécie de mártir. Mártir da resistência hétero. Mártir da moral e dos bons costumes. Mártir do movimento “Pelo Direito de Odiar”.

Não, ainda não há um movimento com esse nome em nosso país, mas sem medo de ser sensacionalista, afirmo que não me espantarei se alguém, de fato, forjar uma bandeira com esses dizeres, tamanha a desconscientização das pessoas. No entanto, de certa forma, é isso que milhares de homofóbicos, motivados ou não por crenças religiosas, mas, principalmente, por valores deturpados e doentios como machismo e misoginia, recebidos na infância e juventude, dentro de casa, na maioria das vezes, estão defendendo.

Dão-se, inclusive, ao trabalho de irem a blogs e sites LGBTs e postarem comentários absurdamente desrespeitosos, preconceituosos, estapafúrdios, idiotas. Afirmam com todas as letras que possuem o direito de não gostar de gays e os fazem valer agredindo gratuitamente homossexuais. Direito? Que tipo de direito? Quem lhes investiu esse direito?

Dentre as inúmeras acepções que o termo possui no Aurélio, um deles me chama atenção:

Direito – do latim clássico ‘Directu’ – Adjetivo masculino: Íntegro, probo, justo, honrado

Quer dizer que é honrado espancar até quase a morte alguém só por que é gay? Só por que esse alguém não é igual a mim, a você? Então temos o direito de agredirmos negros, judeus, nordestinos, mulheres, idosos só por que eles, sendo diferentes de mim e inferiores, claramente, são dignos tão somente da minha repulsa, afinal, eles sequer são pessoas de respeito?

Quer dizer que é justo tolher alguém de viver sua vida? Reprimir, obrigar a adequar-se ao padrão, ao que é tido como moralmente correto, divinamente bom. É sinal de moralidade empurrar para os guetos, para uma vida de segunda classe, para a escuridão dos dark roons, para a fetidez dos banheiros públicos os sentimentos de todos nós gays que queremos tão somente andar de mãos dadas pelo cinema, morar com o homem ou mulher que escolhermos passar o resto da vida e constituir uma família assim como você que mata ou cujo filho espanca meus iguais?

Todos os dias milhares de adolescentes são espancados, expulsos de casa à própria sorte ou obrigados a fingir ser o que não são pelos próprios pais que preferem o filho morto a gay. Isso é justo? É honesto? Isso demonstra a integridade do caráter de quem?

É esse o direito pelo qual lutam os brasileiros? O direito de serem monstros? Criminosos? Assassinos de inocentes? Protetores, educadores e incentivadores de bestas-feras? Se for esse o direito que quer o Brasil, então algo muito errado está acontecendo neste país sempre tão bem-visto pelos de fora como a terra da esperança, da tolerância. É o direito de odiar o diferente que você quer legar ao seu filho ou neto?

O seu único direito, nesse caso, é o de liberdade de expressão, mas liberdade de expressão não é o mesmo que olhar nos meus olhos, se tiveres coragem de fazê-lo, e dizer que eu sou um viadinho imundo, uma bicha promíscua, um qualhira pecaminoso e que o inferno me aguarda ou que eu ameaço a integridade do seu filho que daqui a alguns anos pode, sem também me encarar os olhos, matar-me apenas por que aprendeu com você, pai, mãe, educador, que ser gay é pior que ser criminoso, pois para estes há os benefícios dos direitos humanos e para mim sobra a repulsa dos humanos direitos.

Não. Você não tem o direito de me odiar. Você não tem o direito de odiar gays. Você não tem o direito de odiar. Mas eu tenho o direito não de ser mais uma vítima em suas mãos. E você, você tem o dever de me respeitar e de não interferir em minha vida.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Jock, adorei o post. Simplesmente, ótimo! É exatamente pelo que devemos lutar: "por nossos direitos". E fazer com que "tais" pessoas conheçam o dever delas, de respeitar o próximo, independente do que for.

Mas, principalmente, de fazê-los enxergar, que não somos piores ou melhores que alguém. E, sim, somos seres humanos que, como qualquer outro, só queremos o direito de ser feliz.

Postar um comentário