sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FELIZ 2011

Fiquei a semana toda pensando em 2011 coisas para dizer-lhes neste 31 de dezembro, mas teremos 365 novos inteirinhos para dividirmos angústias, dúvidas, opiniões, idéas, experiências e, tenho certeza, ALEGRIAS. Sendo assim, deixo aqui meus agradecimentos a todos vocês que todos os dias, ou mesmo esporadicamente, passam por aqui e me fizeram ver um mundo com um colorido todo especial nesses poucos meses do blog. Cresci muito com cada um que conheci por aqui, mesmo que apenas por meio de um singelo comentário postado. Obrigado e que continuemos cada vez mais fortes e unidos. Tudo o que gostaria de dizer, acredito, se resume no vídeo abaixo. FELIZ 2011.

Zélia Duncan - Os imorais

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Vou confessar que:

Eu roubei mais essa ideia da @Lilahleitora do blog Tramas, Tranças e Bobagens que por sua vez roubou da Ju Ramalho do Dedo de Moça. Esse é o momento e o espaço para que se confesse e se faça toda a mea culpa, mea culpa... Ou nada de culpa! O que você fez esse ano que merece um confessionário ou não deixar passar em branco de jeito nenhum? Pode ser realizações, culpas mesmo (aliás quem não tem?) qualquer coisa realizada que queremos contar,desabafar, revelar nos gabar ou nos livrar!

A minha grande dúvida é se tenho meu último rompante de sinceridade desse ano ou se poupo algumas pessoas da minha acidez. Mas que seja. Está aberto o confessionário 2010! Eu confesso que:

Não cumpri nenhuma das minhas promessas para 2010. Disse que começaria academia, que poria meu aparelho ortodôntico, que mudaria o cabelo e que faria uma reeducação alimentar. Fiz alguma dessas coisas? NUNCA! Prometi tudo pra 2011 de novo, vamos ver, né?

Assumi responsabilidades além das minhas possibilidades e que não dei conta da metade. Tanto que passei algumas semanas sem postar nada aqui em alguns meses. Até hoje devo uma resenha pra @Lilahleitora. Em 2011 só assumirei os compromissos que de fato eu puder abarcar. O blog está no top five.

Gastei muito mais que devia esse ano. Passei 2010 com o meu limite estourado do cartão de crédito por causa da minha compulsão e que teve um mês que a fatura do meu cartão foi mais da metade do meu salário, mas há três meses não compro nada.

Meu mau-humor diário, na maior parte das vezes, era só tipo para manter afastada gente indesejada. Tem dias que não estou afim, então finjo que estou de mau-humor e faço cara feia pras pessoas não falarem comigo.

Fiz a egípcia no maior cinismo pra gente que estava a um palmo de mim. Eu sofro de uma preguiça descomunal e às vezes fico com preguiça até de falar, então, finjo que não vejo as pessoas. Os óculos escuros e os fones de ouvido no volume máximo ajudam nisso.

Roubei a revista Contigo! Especial 30 anos de carreira da Madonna do consultório do meu médico. Ah, gente, vai dizer que vocês nunca arrancaram aquela página com foto do ídolo de vocês das revistas do salão de beleza, do consultório do dentista...? Além disso a revista estava lá jogada num canto. Ninguém tava dando a mínima pra ela.

Sinto saudades da minha irmã mais nova. É bem verdade que quando morávamos juntos eu vivia implicando com ela, dizendo coisas do tipo “teu cabelo parece palha de milho”, “essa acne na tua testa parece um chifre de unicórnio” ou quando ela me acordava às 8h da manhã de domingo com o maldito CD do Léo Magalhães que ela tem, mas chorei horrores quando ela foi embora.

Arrependo-me de ter magoado todas as pessoas que magoei ao longo da vida em nome da minha maldita segurança.Essa última confissão não é sobre 2010, mas da vida toda, porém esse ano aconteceu algo que me fez repensar a vida toda.

Então, o que achou das minhas confissões? Bobas?! Oxi, você queria mesmo que eu confessasse o que eu fui fazer no dark room da OBS dia 05 de junho? E a minha privacidade? E a minha dignidade? Agora faça as suas também.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Eu desejo...

Decidi aceitar o convite da @Lilahleitora, do delicioso Tramas, tranças e bobagens para participar da blogagem coletiva e listar cinco desejos meus para 2011. Bem, sendo assim, o meu último desejo para 2010 seria um número maior de desejos para 2011, porque né? Daí que agora não sei se peço utilidades ou futilidades, mas enfim, vamos aos desejos:

1º - Quero conhecer a @Lilahleitora
Graças a esse blog e ao Google, eu conheci a pessoa mais incrível de todas, a Lilah, que me adotou e me dá colo quando tô manhoso e a quem eu gosto de chamar de mãe. A gente só se fala pelo MSN e o universo conspira contra nós toda vez que tentamos falar no Skype. O fato é que eu nunca a vi ou ouvi, portanto, quero muito abraçá-la pessoalmente esse ano.

2º - Arrumar um emprego
Eu quero ser independente, ter minha própria casa, poder pagar minhas contas sozinho, fazer supermercado, viver minha vida sem ter que dar satisfações sobre horários, com quem eu saio ou pra onde vou. Adoro o conforto do ‘Hotel da Mamãe’, mas ou você tem vida própria ou tem os mimos de mamãe, néam?

3º - Aprender a dirigir
Mamãe vive dizendo que se eu tivesse CNH ela já teria comprado um caro, pois bem, minha senhora, prepare o bolso por que eu não termino junho sem esta bendita carteira, afinal, andar de ônibus não é coisa de Deus. Só pra constar: se o primeiro desejo se realizar antes desse, abro mão do carro, tá mãe, em todo caso vou tirar a carteira, então se a senhora ainda quiser me dá o presente... rs.

Bem, dos desejos úteis, esses são os mais importantes, portanto vamos para as futilidades, afinal, eu não sou de ferro.

4º - Eu quero um Ipad
Eu adoro novas tecnologias e acho que ser uma pessoa conectada é imprescindível nos dias de hoje e nem me venham com esse discurso que quem passa muito tempo on line é por que não tem vida social. Além disso, não há quem não queira um Ipad. Em todo caso, se mamãe cumprir a promessa de me dar um notebook de presente de aniversário já ficarei imensamente feliz.

5º - Quero DVDs novos
Ain... to super querendo os seguintes DVDs: I Am World Tour (Beyoncé); Taking Chances World Tour The Concert 2010 (Celine Dion); Sticky & Sweet Tour (Madonna); Dentro do mar tem rio (Maria Bethânia); Inclassificáveis (Ney Matogrosso); Samba meu (Maria Rita); Elas cantam Roberto Carlos (Roberto Carlos e cantoras); Tecnomacumba Ao Tempo e Ao Vivo (Rita Ribeiro) e vários outros, mas esses são os que mais quero nesse momento.

São coisas bobas, né, mas que me deixarão imensamente feliz. Então tô na torcida.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ao velho Noel

Bem, eu relutei, mas acabei não resistindo, apesar de o senhor ter ignorado, nos últimos 10 anos, sem dar qualquer justificativa, as minhas cartinhas anuais com pedidos de armas, bombas e novos vírus mortais, o que deixou o senhor com muito descrédito ante esse que vos escreve, eu resolvi lhe dar uma nova chance de me presentear esse ano, Papai Noel.

Bem, tem uma série de coisas que eu gostaria muito de ter em 2011. A primeira delas é um emprego que me pague R$ 1 milhão de salário mensal. Também adoraria um carro importado porque não aguento mais andar de ônibus. A pior parte do meu dia é a 1h que passo todas as manhãs em pé no Rodoviária/São Francisco a caminho do trabalho. Também quero uma singela mansão de 24 quartos no Calhau. Ah, não posso esquecer de pedir um namorado que seja um misto de George Clooney, Brad Pitt, Tom Cruise e Fiuk, por que já cansei de ficar sozinho, néam?

Hum... também quero um guarda-roupas recheado de peças Dolce&Gabanna, Armani, Lacoste, Natan, Victor Hugo, Dumond, Vivara, Iódice, Diesel, Christian Dior, Louis Vuitton, Salvatore Ferragamo, Bulgari, Cartier, Giorgio Armani, Versace, Carlos Miele, NK Store, Marc Jacobs etc. Bem, pensei em pedir novamente aquele AR15, mas como o senhor me ignorou das outras vezes, deixa pra lá. E por favor, eu gostaria de umas 6.000 calças super-skinny pretas tamanho 38 e o não menos importante portal mágico para a Bolívia. Obrigado.

Bom, eu realmente gostaria de ter todas essas coisas ('Cause we're living in a material world and I, I'm a material gay). É bem verdade de que não preciso de tudo isso, ainda mais nessas quantidades exorbitantes. Talvez precise de um ou outro desses presentes (mas se o senhor quiser me mandar um ou dois ou todos, eu não vou reclamar, juro, nem vou ficar chateado), mas na verdade o que eu quero muito e há muito tempo é apenas PAZ.

2010 não foi um ano fácil para ninguém eu sei e no meu caso, acho que foi o pior que já tive. Acho que não chorarei por nada nos próximos 200 anos, tantas foram as lágrimas que derramei nesses 365 dias que se encerram. Dias de extrema solidão, dias em que me sentia um nada, dias e dias em que chorei com o coração partido de amor não correspondido, dias e mais dias de brigas familiares. Dias em que tudo o que queria era desistir.

Então depois de tanto pensar qual o grande presente que eu quero nesse Natal, decidi que quero uns 20 barris de PAZ. Em 2011 eu quero apenas que meu coração bata calmamente como se fosse o acorde de uma canção de Tom ao piano. Quero o vento batendo no meu rosto. Quero sorrir com fartura e naturalidade. Quero abraços apertados. Beijos carinhosos e dias de sol, muitos dias de sol.

Como acredito que o senhor seja um homem que acompanhe as novas tecnologias, em vez de postar a carta nos Correios, com destino à Lapônia, irei postar aqui mesmo no blog, até por que sempre achei que o senhor significasse, afinal anda pra cima e pra baixo com todas essas renas, néam, então deve está sempre passando por aqui.

Não sei por que, mas estou esperançoso nesse fim de 2011. Sei que está um pouco em cima da hora para lhe fazer o meu pedido, mas eu voltei a acreditar no tal milagre de Natal. Vê se não me decepciona dessa vez, hein.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vivemos em uma democracia?

Essa frase, acerca do que é dito sobre gays, foi dita por um conhecido meu que é mais um dos que não tem preconceito, mas...

 

“O Brasil é democracia. Nós podemos falar o que bem entender.”

 

Já escrevi e recomendei inúmeros textos sobre essa questão, mas não custa lembrar, já que as pessoas se recusam a entender o óbvio.

Não! NINGUÉM pode dizer o que bem entender só porque vivemos em uma democracia. Até por que nossa democracia me parece muito mais “unocrata” que democrata. Toda vez que alguém levanta a voz para ofender ou propagar desinformações sobre gays, são poucos os que se opõem, mas basta um único gay se opor a esse tipo de comportamento que não faltam vozes para sufocá-lo.

Dizem que ele (eu, você, nós, gays) gosta de se vitimizar, que quer tratamento privilegiado “só porque é viado”, que quer submeter os outros ao seu “estilo de vida”, que somos radicais, pois não aceitamos nem “uma piadinha inocente” e uma série de outros argumentos vazios de qualquer fundamentação.

Então, baseados no seu sagrado direito de “falarem o que quiser”, já que estamos em uma democracia e temos o direito à liberdade de expressão, milhares de homofóbicos gastam seu tempo e energia falando “bobagens” sobre gays, sobre ser gay, ajudando a reforçar a idéia de que somos promíscuos, que só vivemos pelo sexo, que somos inferiores, afinal, quando ofendemos alguém é porque queremos preteri-lo e eu NUNCA ouvi ninguém chamar outra pessoa de “viado”, “boiloa”, “bicha” e afins em tom elogioso.

Permitam-me explicar-lhes uma coisa. Não importa se você tem vários amigos gays e não tem nada contra gays, MAS prefere que seu filho não o seja ou não gosta de ver dois homens ou duas mulheres se beijando, pois você é um homofóbico. Não existe meio-preconceito ou preconceito em maior ou menor grau. Preconceito é preconceito, apenas. E se você tem alguma restrição com relação a homossexuais você é SIM preconceituoso e, consequentemente, homofóbico. Seria o mesmo que eu dizer que nada tenho contra negros, mas preferir que eles não dividam o elevador social comigo como já vi diversas vezes nos condomínios da minha moderna São Luís do Maranhão.

Quer alguns exemplos da nossa democracia? Bem, em novembro de 2008, grávida de 7 meses, Claudia Leitte, e seu marido, falaram o seguinte à uma revista de celebridades: “Eu adoro gays, mas prefiro que meu filho seja macho”, afirmou a cantora. “Deus me livre, ele será bem criado”, completou o empresário Márcio Pedreira, marido da cantora.

Oras, se você não tem nada contra gays qual o problema de seu filho ser mais um? E desde quando ser gay é sinônimo de má-criação? Eu fui muitíssimo bem criado. Recebi a melhor educação que meus pais puderam pagar, sempre fui um dos melhores alunos da turma e durante anos fui o modelo de filho que TODAS as amigas da minha mãe desejavam e sou gay. Eu nasci gay e não há nada que pudesse mudar isso.

Se uma mãe dissesse que preferia que seu filho fosse hétero por não querer que ele sofresse tanto preconceito e privação, eu juro que entenderia. Eu sei o que passo. A dor e o sofrimento são quase mortais em dados momentos e que mãe quer que seu filho sofra? Mas a questão é que a maioria delas não quer um filho gay por vergonha, por preconceito.

Mais recentemente Reinaldo Gianechinni, também em uma entrevista, quando perguntado sobre o que pensa acerca dos comentários de que é gay disse: "Se você for ler tudo o que falam de PORCARIA a seu respeito, realmente é deprimente. Em um site de notícias sobre celebridade essa declaração do ator é antecedida pela seguinte frase da jornalista responsável pelo texto na internet: “Mesmo sendo frequentemente visto com mulheres bonitas, o galã ainda é tachado pelas MÁS LÍNGUAS como gay.” Quer dizer que ser gay é uma porcaria e que esse tipo de especulação é algo negativo feito pelas más línguas, isto é, por pessoas desonestas e que querem prejudicar outrem?

Esses são apenas dois exemplos insignificantes perto dos absurdos que políticos falam em seus discursos. Como o deputado federal, Jair Bolsonaro (PP/RJ), que disse ser a favor de palmadas para o filho deixar de ser gay e depois destilou críticas ao Kit de Combate à Homofobia nas escolas: “Atenção, pais de alunos de 7, 8, 9 e 10 anos, da rede pública: no ano que vem, seus filhos vão receber na escola um kit intitulado Combate à Homofobia. Na verdade, é um estímulo ao homossexualismo, à promiscuidade”, afirmou.

Há ainda líderes religiosos como Silas Malafaia, da Assembléia de Deus, que espalhou outdoors homofóbicos no Rio de Janeiro e comparou a homossexualidade, a zoofilia em rede nacional. Ou reverendo Augusto Nicodemus que atacou o projeto de lei que criminaliza a discriminação por orientação sexual, PLC 122, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E o que falar do General do exército brasileiro que disse que homossexuais deveriam procurar outro ramo de atividade que não o exército? Fernanda Young terá exibida, na Globo, em 2011, uma série de comédia sobre um ex-gay. Oi?

Enfim, a lista de exemplos de pessoas, programas, piadas, declarações desse tipo seria suficiente para alimentar este blog por anos. Citei apenas alguns para que você, caro leitor, compreenda a dimensão de tudo que é, erroneamente ou propositadamente, dito todos os dias sobre gays. E o que todas essas pessoas tem em comum? O acesso fácil à mídia e o trânsito livre entre a população.

Por que sim, o que dizem é tido como verdade pela maioria dos fãs, partidários, correligionários, eleitores dessas pessoas. Por que é engraçado fazer piadas sobre gays? Por que é democrático alimentar o preconceito e a discriminação? As pessoas não compreendem que essas "pequenas" afirmações incutem conceitos terríveis na cabeça das pessoas. Que os jovens desse pais vão crescer repetindo as mesmas piadas infelizes, as mesmas agressões desumanas que seus ídolos de hoje e que assim NADA vai mudar, que nossa sociedade NUNCA vai evoluir.

A razão dessas linhas, talvez desconexas, é a quantidade de absurdo que tenho ouvido e lido nas últimas semanas pelas quais tentei não me revoltar, mas a gente cansa, não é? Não é simples revolta ou melindre, é a sensação de ser desrespeitado todos os dias da hora em que acordo a hora em que vou dormir, pois mesmo quando não dizem para mim, dizem para outro gay e eu me sinto tocado, afinal, amanhã o gay ofendido pode ser eu.

A verdade é que democracia é um direito que todos defendem, poucos conhecem e quase ninguém pratica.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Terroristas religiosos

Antes, um breve testemunho:

Quando eu assumi que sou gay há 2 anos, a minha melhor amiga até então, a quem conhecia há mais de 5 anos e tinha como uma irmã me disse: "Jock, eu conheço pessoas na minha Igreja que podem te ajudar. Lá tem muita gente que ficou curada!". A amizade segue até hoje, mas ela não é mais a minha melhor amiga.

Esse texto rondava minha cabeça desde que o blog ficou colorido, mas nunca me pus a escrevê-lo por que não me achava (e continuo) apto a discutir o tema e segundo por que não sabia o tom que gostaria de dar a ele, mas os últimos acontecimentos o moldaram antes mesmo que ele ganhasse o Word. Eu queria falar de religião, mas não conheço o suficiente para tal, então decidi falar sobre religiosidade.

Eu fui um menino católico relativamente atencioso. Fui batizado antes do meu primeiro aniversário. Aos 10 anos já tinha feito a 1ª Eucaristia e aos 15 estava fazendo a Crisma. Com o tempo acabei me afastando da Igreja e hoje transito entre o ateísmo e o agnosticismo e nas horas de tormenta, seja por uma fé recolhida, seja pela força da tradição, recorro a Deus.

Uma das primeiras lições que aprendi no meu período de moço católico é que Deus fez seus filhos segundo sua imagem e semelhança, mas a mim ele fez gay. Não ele não seria desatento justo no meu caso até por que ser gay é pecado, está na Bíblia, então ele não me fez gay, mas me deu o livre arbítrio e eu escolhi ser gay. Pelo menos é isso que milhares dos seus fiéis (per)seguidores usam como justificativa para me achincalhar todos os dias. Então se eu tenho o livre arbítrio por que continuo gay? Por que insisto em querer ser humilhado, ridicularizado, agredido, segregado se basta a mim escolher o caminho certo?

E se Deus de fato fez as pessoas como sua imagem e semelhança, os meus fiéis perseguidores me fazem crer que Deus é na verdade uma figura absurdamente desagradável. Por que as imagens e semelhanças suas que vejo nas ruas são ciumentas, orgulhosas, controladoras, mesquinhas, injustas, intransigentes, genocidas étnicos e sociais, vingativas, sedentas de sangue, perseguidoras implacáveis, misóginas, homofóbicas, racistas, filicidas, megalomaníacas, sadomasoquistas, malévolas, cruéis, vingativas, caprichosas. Por que é essa a imagem de Deus que me vendem, todos os dias, os milhares de terroristas religiosos que tentam relegar os gays ao limbo.

O Deus que eu conheci nas tardes de catequese era de amor, tanto que o Filho, feito a imagem e semelhança do Pai disse amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Então por que eu só conheço o ódio irracional que vem desses fiéis? E foi o mesmo que disse não julgueis para não sede julgado. Sendo assim, por que tenho que ouvir todos os dias que irei para o inferno ou que sou um doente e que represento risco para seus filhos?

Não foi Ele quem ensinou e pregou a abnegação, a humildade, a fraternidade, a prezar pela justiça acima de tudo, a respeitar o semelhante, a exercitar a tolerância, a solidariedade? No entanto o que percebo é o preconceito, a intolerância, a tirania daqueles que se convenceram que preciso de ajuda para sair do pecado e tentam me forçar a freqüentar igrejas para alcançar a graça da cura. O fato é que muitas pessoas se dizem seguidores de Jesus sem dar os primeiros passos de obediência à palavra Dele.

Esse terrorismo religioso que sofremos, e nem estou entrando no mérito das igrejas em si, mas dos seus fies, é justificado pela fé que seria um estado de verdade absoluta e incontestável, mas esse tipo de verdade é, na verdade, fundamentalismo, pois a fé também é racional e eu não percebo racionalidade nos que me ojerizam, só vejo fanatismo.

Fé sem razão não é fé, é fideísmo.

Leia AQUI a inspiração para esse texto. Um relato visceral do @Guhalves.

Leia AQUI um texto maravilhoso sobre o tema da @Lilahleitora que possui o know-hall que eu não possuo para discutir o assunto.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Rede de Combate à Homofobia

Estamos vivendo um momento delicado no que concerne à luta dos LGBTs pelo exercício dos seus direitos. Está na moda espancar, agredir, ofender gays. O pior é que as pessoas fazem vistas grossas quanto a isso como se no Brasil homofobia fosse palavra inventada. Aliás, é justamente isso que eles, os homofóbicos, querem que toda a sociedade pense: que não há discriminação e que nós, gays, é que gostamos de nos vitimizar, que temos mania de perseguição e que queremos tratamento privilegiado.

Na verdade, queremos apenas ser tratados como todos os outros grupos sociais: com respeito. Mas para isso é preciso, infelizmente, que haja dispositivos legais que garantam isso. Por isso é tão importante denunciar os casos de homofobia e lutarmos pela aprovação da PL 122 para que enfim toda essa barbárie possa ser combatida com todo o rigor devido.

Não sou nenhum utópico, sei que a PL122 não extinguirá o preconceito da sociedade, pois ele é fruto, antes de mais nada da nossa herança cultural machista e misógina e da educação deturpada que as crianças recebem em casa ou na escola, aprendendo que gays são inferiores. As leis Caó e Maria da Penha não acabaram com o preconceito e violência contra negros e mulheres, respectivamente, mas deixou claro que quem atentasse contra esses segmentos não seria mais tratado como um criminoso qualquer.

Então, quero reforçar entre todos os LGBTs, participem ou não de grupos de combate à homofobia, bem como aos simpatizantes da causa que entrem na nossa Rede de Combate à Homofobia. A @Lilahleitora autora do Mãe, sou gay, criou no Tumblr o perfil Denunciando a Homofobia onde serão denunciados todos os casos de homofobia registrados na internet para que estes possam ser encaminhados ao Safernet e ao Ministério Público que tomarão as providências legais cabíveis.

Se você tem um print de comentários homofóbicos, de um site que pregue homofobia ou algo semelhante envie para o email do blog (lilahleitora@gmail.com) que serão publicados no Tumblr. Caso queira, enviem também para o e-mail de OLiquidificador (oliquidificador@hotmail.com) que encaminharemos para a Lilah. Peço também a todos que possuem blogs, sites e outras páginas na internet dedicadas à causa LGBT que divulguem essa iniciativa. Chega de ficar calado, vamos expor o verdadeiro câncer desse país: a intolerância e o preconceito.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pelo direito de odiar


Nos últimos dias as palavras homofobia, preconceito e impunidade lotaram as rodas de discussões, blogs e sites gays país afora motivados pela prisão de Wesley Campos, passando quatro dias no Centro de Detenção Provisória de São Paulo, e a soltura, no dia seguinte após ter espancado quatro pessoas, três delas homossexuais, de Jonathan Domingues, principalmente.

Jonathan, 19 anos, agrediu três gays na Avenida Paulista da Diversidade, em São Paulo, alegando ter recebido uma cantada de um dos rapazes, contando com o aval dos pais após ter cometido essa atrocidade pode tornar-se uma espécie de mártir. Mártir da resistência hétero. Mártir da moral e dos bons costumes. Mártir do movimento “Pelo Direito de Odiar”.

Não, ainda não há um movimento com esse nome em nosso país, mas sem medo de ser sensacionalista, afirmo que não me espantarei se alguém, de fato, forjar uma bandeira com esses dizeres, tamanha a desconscientização das pessoas. No entanto, de certa forma, é isso que milhares de homofóbicos, motivados ou não por crenças religiosas, mas, principalmente, por valores deturpados e doentios como machismo e misoginia, recebidos na infância e juventude, dentro de casa, na maioria das vezes, estão defendendo.

Dão-se, inclusive, ao trabalho de irem a blogs e sites LGBTs e postarem comentários absurdamente desrespeitosos, preconceituosos, estapafúrdios, idiotas. Afirmam com todas as letras que possuem o direito de não gostar de gays e os fazem valer agredindo gratuitamente homossexuais. Direito? Que tipo de direito? Quem lhes investiu esse direito?

Dentre as inúmeras acepções que o termo possui no Aurélio, um deles me chama atenção:

Direito – do latim clássico ‘Directu’ – Adjetivo masculino: Íntegro, probo, justo, honrado

Quer dizer que é honrado espancar até quase a morte alguém só por que é gay? Só por que esse alguém não é igual a mim, a você? Então temos o direito de agredirmos negros, judeus, nordestinos, mulheres, idosos só por que eles, sendo diferentes de mim e inferiores, claramente, são dignos tão somente da minha repulsa, afinal, eles sequer são pessoas de respeito?

Quer dizer que é justo tolher alguém de viver sua vida? Reprimir, obrigar a adequar-se ao padrão, ao que é tido como moralmente correto, divinamente bom. É sinal de moralidade empurrar para os guetos, para uma vida de segunda classe, para a escuridão dos dark roons, para a fetidez dos banheiros públicos os sentimentos de todos nós gays que queremos tão somente andar de mãos dadas pelo cinema, morar com o homem ou mulher que escolhermos passar o resto da vida e constituir uma família assim como você que mata ou cujo filho espanca meus iguais?

Todos os dias milhares de adolescentes são espancados, expulsos de casa à própria sorte ou obrigados a fingir ser o que não são pelos próprios pais que preferem o filho morto a gay. Isso é justo? É honesto? Isso demonstra a integridade do caráter de quem?

É esse o direito pelo qual lutam os brasileiros? O direito de serem monstros? Criminosos? Assassinos de inocentes? Protetores, educadores e incentivadores de bestas-feras? Se for esse o direito que quer o Brasil, então algo muito errado está acontecendo neste país sempre tão bem-visto pelos de fora como a terra da esperança, da tolerância. É o direito de odiar o diferente que você quer legar ao seu filho ou neto?

O seu único direito, nesse caso, é o de liberdade de expressão, mas liberdade de expressão não é o mesmo que olhar nos meus olhos, se tiveres coragem de fazê-lo, e dizer que eu sou um viadinho imundo, uma bicha promíscua, um qualhira pecaminoso e que o inferno me aguarda ou que eu ameaço a integridade do seu filho que daqui a alguns anos pode, sem também me encarar os olhos, matar-me apenas por que aprendeu com você, pai, mãe, educador, que ser gay é pior que ser criminoso, pois para estes há os benefícios dos direitos humanos e para mim sobra a repulsa dos humanos direitos.

Não. Você não tem o direito de me odiar. Você não tem o direito de odiar gays. Você não tem o direito de odiar. Mas eu tenho o direito não de ser mais uma vítima em suas mãos. E você, você tem o dever de me respeitar e de não interferir em minha vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Justiça para quem?


Na semana passada, duas notícias correram todos os blogs, sites e outras publicações voltadas para os LGBTs no Brasil. A primeira delas foi a prisão do jovem Wesley Campos, de 18 anos, sob a acusação de estupro de vulnerável, após ser visto beijando um menor de 13 anos no cinema de um shopping paulista, conforme você pode ler AQUI. A outra foi sobre a agressão de pelo menos 3 jovens gays por um grupo de 5 garotos, 4 deles menores, motivada pela intolerância sexual dos agressores em plena Avenida Paulista, como você pode ler AQUI.

Wesley Campos foi solto apenas na noite de ontem, após ter passado cinco dias detido. Ele ainda responderá por estupro e pode pegar 15 anos de prisão, apesar de o menor já ter afirmado que o beijo foi consentido. Jonathan Domingues, 19 anos, o único maior dentre os 5 jovens que agrediram gays na Avenida Paulista e que aliciou os 4 menores que o acompanharam nos ataques, apesar das acusações de formação de quadrilha e agressão, foi liberado no dia seguinte sua pena não chegará a 5 anos, se condenado.

As duas prisões tem como causa principal a homofobia, mas ela foi encarada, nos dois casos, de forma diferente. No caso de Wesley, ela foi o motivo da sua detenção. No caso de Jonathan, ela foi o motivo da sua soltura. Como comentei AQUI quando da prisão de Wesley, todos os dias, inúmeros homens héteros, saem com meninas menores, entre 13 e 17 anos e não me lembro de nenhum caso em que alguém tenha sido preso sob a mesma acusação.

Da mesma forma, todos os dias dezenas de gays são agredidos, espancados e até mesmo assassinados e seus algozes, quase nunca, recebem a punição devida. Pior, na maioria dos casos, seus crimes caem no lugar comum. São encarados como apenas mais um caso de homicídio ou mais um caso de agressão motivado por um desentendimento qualquer. Caem no esquecimento ou, no máximo, no roteiro de algum programa de humor que leva ao riso milhares de telespectadores logo que a bichinha afetada aparece no ar.

O próprio advogado de defesa de Jonathan afirmou que a agressão ocorreu por que um dos gays espancados teria lhe passado uma cantada. Versão que já foi contestada por testemunhas da ação criminosa. Há ainda alguma dúvida que o caso seja de homofobia? Então dar em cima de alguém é motivo para quase homicídios? Todos os dias milhares de homens dão em cima de mulheres pelas ruas sem considerar a possibilidade delas serem lésbicas e nem por isso levam socos. A polícia já trabalha com a hipótese de intolerância sexual. Acontece que a homofobia não é crime neste país.

E enquanto não houver uma legislação mais rígida para tratar de casos como esses, teremos que lidar com esse tipo de situação. Em outras palavras e de certa forma, o Brasil protege homofóbicos e reprime gays.

Ser gay, demonstrar afeto em público, é motivo para prisão, expulsão de shoppings, cinemas, para vaias públicas, humilhações de toda sorte e de condenação por aquele que tem o dever de garantir o exercício dos meus direitos: o Estado. Pois não há quem me fará crer que prender um homem só por que este beijou outro, menor de 14, o que é crime, é cerceamento de direitos. Se é crime namorar menores de 14 por que os denunciantes de Wesley não fazem o mesmo com os homens que namoram meninas adolescentes? Crime é crime! Ser gay agora é agravante da pena?

Agora se você xingar, humilhar, reprimir, espancar, matar um gay, fique tranqüilo. Algumas cestas básicas, uma semana cuidando de idosos abandonados em asilos resolve o problema. Afinal, o que há demais em tentar ensinar esses gays a serem homens de verdade? Seu pai lhe ensinou isso, não é mesmo? O Estado lhe garante isso!

Até quando iremos conviver com essa impunidade? Com esta balança viciada onde há dois pesos e duas medidas? Quando eu poderei sair à rua sem o risco iminente de ser espancando covardemente por um grupo de garotos que eu nunca vi só por que eu sou gay? Quando eu vou poder abraçar e beijar meu homem em público sem correr risco? Até quando nossos legisladores deixarão seus interesses particulares falarem mais alto fingindo não haver a necessidade da aprovarão a PL 122? Até quando?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Garoto de 18 anos é preso por beijar menino de 13

Manchete do dia:

JOVEM DE 18 ANOS É PRESO POR BEIJAR GAROTO DE 13 EM CINEMA DE SHOPPING
Beijo consentido por menor durou 5 minutos, diz gerente em SP. Maior responderá por estupro de menor de 14 anos, segundo a lei.




Não. Não sou uma pessoa que gosta de se fazer de vítima. Não tenho instintos paranóicos de achar que tudo que sofro por culpa de outrem é por que sou gay e nem acredito que somos perseguidos e por isso tanta homofobia. Mas precisamos analisar os fatos de forma panorâmica antes de nos posicionarmos e determinadas situações são clara e unicamente HOMOFÓBICAS.

Quantos homens namoram meninas mais jovens que eles? E sim, falo meninas por me referi a garotas com 13, 14, 15, 16 anos... Minha irmã de 17 anos, há um, namora um homem de 27 e todo mundo acha comum. Mas quando o menor é outro homem passa a ser crime? Por favor. Nada do que me disserem me fará crer que não houve discriminação.

Denunciar um rapaz de 18 anos por estupro por ter beijado OUTRO RAPAZ, mas de 13 anos, é, na minha opinião, no mínimo, digno de repulsa. Não sei da índole do maior e nem as reais intenções dele, mas PRENDER sob acusação de estupro e sob pena de pegar 14 anos de prisão é que deveria ser considerado crime. De homofobia. Crime que a sociedade insiste em fingir que não vê. Pior, crime que a sociedade insiste em incentivar sob a égide de proteção a valores falidos como a moral.

Até quando teremos de lidar com isso? Até quando ficaremos de mãos atadas, Brasil?

Leia a notícia na íntegra AQUI.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ponto de referência

Sabe quando você, por exemplo, diz que o consultório fica ao lado do posto de gasolina ou em frente ao shopping ou detrás da rua do Bob’s? Pois é. Você está usando um ponto de referência para facilitar, para alguém, a localização de algo. Não, essa explicação não é por que eu duvido da sua inteligência, causativo leitor. Esse intróito todo é só para ilustrar o post de hoje, afinal, levante a mão (não, não é pra dançar Single Ladie, bee. rs) o gay cuja sexualidade nunca foi usada como cartão de visitas.

É incrível. Você pode ser alto, baixo, gordo, magro, sério, hilário-espirituoso, branco, negro, nada disso interessa ou faz diferença quando você é gay, pois é apenas isso que você será o resto da vida: GAY!

As pessoas não dizem “sabe o Jock, jornalista”, mas “sabe Jock, um que é gay” ou “Jock, o filho gay da dona Elza” ou “Jock, o gay amigo do Jefferson” e afins. Isso quando dizem gay, pois na maioria das vezes dizem é viado mesmo. Como quando o chefe que vira pra secretária e diz "Chama lá aquele viado". E eu me pergunto por quê? Aliás, eu me pergunto porque que o fato de eu ser gay precisa fazer tanta diferença assim e tem que ser ressaltado a todo instante.

Não estou querendo dizer que me incomoda o fato de ser apontado na rua como gay. Eu não tenho qualquer tipo de problema com a minha sexualidade. O problema é que fazem isso de forma pejorativa. Com um sorriso de escárnio na boca e com um gestinho estereotipado e aquela vozinha afetada para tirar sarro.

Nunca ouvi ninguém falar, por exemplo, “olha o João, o hétero irmão do José ta te chamando”. Daqui a pouco terei que me apresentar às pessoas da seguinte forma: “Meu nome é Jock Dean, tenho 22 anos, sou jornalista e GAY.”

Que nome dou para isso? IDIOTICE. Estou sem nenhuma paciência para esse tipo de atitude nos últimos tempos e esse é apenas o primeiro de vários outros textos que escreverei para dar vazão à minha revolta. Por que eu tenho que ser tolerante com quem não é tolerante comigo? Desculpe, mas não estou/sou humilde o suficiente para oferecer a outra face.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vergonha?!

“Eu tenho vergonha de você!”



A frase é dura, cruel, até, mas é isso que muitos pais dizem aos seus filhos quando ouvem “mãe, pai, eu sou gay!”. Alguns pais não dizem, mas seus gestos a partir daí deixam claro que é esse o seu sentimento quanto filho. Afinal, o que pensaria um adolescente ou qualquer outra pessoa, independente da idade, que depois de fazer tal revelação aos pais ouvisse como pedido um “não conta isso para ninguém”?

Tem ainda a indiferença. O assunto não existe. Entra para o armário no exato momento em que o filho ou filha o sai. Se ficasse apenas nisso, por mais difícil que fosse para o mais novo assumido do pedaço lidar com a situação, pelo menos teríamos alguma possibilidade de esse adolescente crescer e amadurecer sua sexualidade de forma saudável ou, no mínimo, sem muitos traumas.

Minha mãe, depois do “eu tenho vergonha de você” me pediu que não contasse para mais ninguém. Pena que ela foi praticamente a última a saber. Não sei se já superei isso, mas estou aqui, tentando de alguma. Independente de ela ter jogado isso para debaixo do tapete eu tenho buscado viver minha homossexualidade de forma saudável. Claro que aprender sozinho aumenta um pouco o caminho, mas tenho seguido, independente do que ela pensa ou diz sobre meu wallpaper – uma foto da Brit e Madge se beijando no VMA de 2003 – por exemplo.

Enfim, a gente supera, em partes, pelo menos, e segue, mas e quando a coisa vai além disso? E quando os pais decidem “ajudar” seus filhos a voltarem para o “caminho certo”? Quando eles resolvem levar seus filhos à igreja no domingo, por exemplo, e o convite está muito além de uma simples oração? E quando eles resolvem ainda levar aquele menino ou menina de 15, 16, 17 anos ao psicólogo para “resolverem o problema”? Sendo que o problema é um jovem, seu filho, com a personalidade em formação, cheio de medos e dúvidas.

E quando estes pais entendem que o filho, que horas antes estava, por vezes aos prantos, dizendo-lhe “sou gay”, está doente mental, espiritual e psicologicamente e submetem-no às piores atrocidades? E quando o resto da família, os irmãos, por exemplo, que poderiam ajudá-lo a passar por esse momento de uma forma menos traumática, compartilham do pensamento dos pais e dizem coisas do tipo “mãe, ele é insensível, só pensa nele”, “desde que você contou aquilo eu não consigo mais dormir, eu não sinto mais alegria em nada”?

E quando, sob a desculpa de estar ajudando seu filho, os pais, na verdade, fazem chantagem emocional, pior, terror psicológico, e acabam fazendo desse momento de descobertas do filho, um tempo de angústias, desespero, culpas, fazendo esse jovem se sentir o pivô da infelicidade familiar e até mesmo negando a si, a quem é de verdade?

De fato pais, irmãos, parentes assim devem sentir vergonha ou deveriam, pelo menos, mas não do pequeno que quer apenas um abraço, nada muito além, que lhe comunique “eu estou aqui para cuidar e proteger você”. Eles deveriam sentir vergonha de si. Vergonha de conseguirem encarar-se no espelho todas as manhãs ou de deitarem a cabeça no travesseiro todas as noites e conseguirem dormir tranqüilos achando que estão fazendo o certo.

É certo aterrorizar uma pessoa, um filho, por puro preconceito? Não me venham falar em desinformação ou que não sabem com agir. Conheço pais que também não sabiam e ainda assim não submeteram seus filhos a situações desumanas, porque sim, obrigar uma criança a participar de cultos ou terapias para “cura” da homossexualidade é desumano, senhores pais e mães. É tão desumano quanto expulsá-los de casa deixando-os à sua própria sorte.

Eu também tenho vergonha, mas de pais como vocês, de parentes como vocês. Vocês também deveriam sentir vergonha de si.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um abraço?!

Há um mês, mais ou menos, não publico nada aqui e apesar disso, ganho novos seguidores e o número de visitas ultrapassou 10 mil, 500 delas neste período de seca. Sendo assim me sinto obrigado a postar algo, embora não saiba exatamente o que quero lhes dizer hoje. Apenas sei que preciso fazê-lo.

Mas essa necessidade está muito além de manter o público. Ela vem do fato de justamente neste último mês ter conversado com alguns amigos meus que estão passando por momentos de muitas dúvidas e questionamentos tentando decidir coisas que eles mesmos não sabem se querem ou se estão prontos.

São longas conversas pelo MSN, pelo celular, pessoalmente, numa tarde qualquer ou tarde da noite. No começo delas uma mesma frase: “eu quero contar pros meus pais que sou gay”. Outros não falam comigo sobre, mas eu os vejo muito além do sorriso no rosto ou da cara amarrada. E isso tudo me fez lembrar tudo que vivi entre 2006 e 2009 quando o mesmo pensamento me vinha à cabeça, mas diferente deles, eu não tinha com quem falar.

Eu me sentia perdido, sozinho e carregando muito mais dúvidas que respostas e hoje vejo eles passando pelo mesmo e sinto como se fosse comigo e mesmo sabendo que não há grandes coisas que eu possa fazer, gostaria que eles soubessem que não estão sozinhos e que de alguma forma estou ao lado deles.

Quando nossa ficha cai e temos a certeza que somos gays, começamos a nadar contra a maré. A travar uma luta de Titãs. Somos nós (sozinhos) contra todas as angústias, medos, auto-preconceitos, alguns sentem raiva de si e quase sempre a estação de chegada dessa longa viável até a auto-aceitação é a solidão, o isolamento e na sua pior forma: experimentamos a cela da nossa mente.

Vivemos dentro de nós o que não temos coragem de viver no mundo até que decidimos abrir os portões, correr e assumir, sair do armário, enfim, mas essa parte é ainda mais assustadora que a primeira, afinal, como ter certeza que aquelas pessoas com as quais convivemos nossa vida toda continuarão ali quando souberem quem realmente somos, ou melhor, quando se virem obrigadas a encarar quem realmente somos?

Como ter a certeza que não seremos agredidos, expulsos, que não tentarão nos convencer que estamos confusos ou que não terão a certeza que somos apenas mais um dentre tantos outros sem vergonhas?

Não tem como saber tudo isso até dizer as tão temidas palavras: “eu sou gay”. Eu as disse tem um tempo e as coisas ainda não ficaram bem, mas aprendemos a viver ou nos adaptamos. Quando eu disse "mãe, eu sou gay" meus pés ficaram sem chão, mas eu já sabia que seria assim.

Não sei se me fiz entender ou se escrevi um texto com alguma coerência. Como disse me senti obrigado a fazer isso em nome de todos os meus amigos que convivem diariamente com esse monstro embaixo do colchão e que não sabem como livrar-se dele e que buscam somente, nesse primeiro momento, alguém com quem dividir essa angústia.

Um desses amigos abriu as portas ontem e quase me fez mandá-lo embarcar-se via Sedex para minha casa, tamanha a minha aflição. Mas por sorte, ele tem amigos bem mais eficientes que eu, né @LilahLeitora? Agora ele está rearrumando o armário. Esse texto vai especialmente para ele, mas também para os meus outros amigos que estão à beira do caminho e todos os que se sentirem tocados.

Leia AQUI o porquê desse texto e AQUI onde tenho buscado algumas respostas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Estou assim

Não houve engano algum. Eu entendi muito bem o que você disse. Não houve engano algum. Absolutamente, você foi tão clara. Suas palavras ainda ardem na memória e aquele fogo ainda queima o coração.
(Marina Lima – Arquivo II)



“Marina, Marina morena, você me pintou”. Se o saudoso Caymmi, da imponência do seu assento etéreo, me permitir, gostaria de usar seu verso para falar de outros versos de uma outra Marina, também morena, mas carioca, cuja voz rouca ronda minha mente como espírito obssediador me cantando coisas em meio ao turbilhão de trilhas de musicais que ganham vida com os timbres teatrais de Barbra Streisand, Liza Minnelli, Indina Menzel, Kristin Chenoweth, dentre tantas outras que tenho ouvido nos últimos tempos.

Marina, a Lima, apesar do alto volume dos meus fones de ouvindo, consegue-se sobrepor a todas elas martelando minha cabeça como o tique-taque do relógio que bate depois da meia-noite quando o silêncio sensibiliza ainda mais os ouvidos e nos faz perceber o mais baixo dos sons, me dizendo coisas que nem sempre quero ouvir e, vencido, acabo buscando com urgência seus CDs que me fazem querer partir, poder ficar sem nexo e em qualquer lugar.

Seus versos, provérbios, prenúncios, profecias, de sua autoria ou apenas cantados por si me perseguem, torturam e regojizam e me dizem coisas como:

“E me apaixonam questões ardentes que nem consigo assim de repente expor.”

“Olhei pro amanhã e não gostei do que vi. Sonhos são como deuses, quando não se acredita neles deixam de existir.”

“Tempo vai passando, mas às vezes passa e ainda fica atrás daquela mal contada história de amor.”

“Eu podia ser mais forte se quisesse.”

“Eu não sei mais quem eu sou e o que pretendo.”

“Se o que acontece não segue a regra, será a vida em vão?!”

“Acreditar. Não posso acreditar como alguém tão livre se deixe escravizar. Desistir como se fosse só deletar.”

“Estou assim: com o sangue estancado na veia.”

“Só dias seguindo quando é frio em meu coração.”

“Quero acreditar que no fundo do amargo tem uma gota doce.”

“Um coração cansado de sofrer e de amar até o fim. Acho que vou desistir.”

“Minha vida absurda e a terra a girar. Quem escuta o meu sim?”

“É porque eu não quero que nada aconteça. Deve ser porque eu não ando bem da cabeça ou eu já cansei de acreditar.”

“Às vezes fujo pro meu pedestal e faço tudo pra não cair, mas quando eu desço eu desço tão mal. Do que me adiante fugir?”

“À beira do abismo, queira ou queira, estamos prestes a voar.”

“Os passos que não dei ainda virão em outra direção.”

E ainda há tantos outros...