quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Faltam 9: Papa, can you hear me?

Barbra Streisand é uma das minhas cantoras e atrizes preferidas. Eu adoro musicais e Barbra é, principalmente, atriz de musicais. Dona de uma voz extremamente doce, ela interpreta uma balada como poucas. Não se trata apenas de cantar, mas de mostrar o sentimento vivido pela personagem da canção. Dos musicais protagonizados por ela, meu favorito é Funny Girl, que ela viveu na Broadway e nos cinemas nos anos 1960, ganhando o Oscar de melhor atriz em 1968, por esse filme que foi sua estreia, aliás, mas hoje quero falar de Yentl.
Yentl é um filme de 1983, dirigido, roteirizado e estrelado por Barbra Streisand. É baseado na peça de teatro de 1975 de mesmo nome escrita por Leah Napolin e Isaac Bashevis Singer. Na Polônia, Yentl Mendel (Barbra Streisand) é a única filha do viúvo Rebbe que ensina o Talmude (uma codificação das leis judaicas) para os garotos de sua vila e para a filha, porém secretamente, porque nessa época as mulheres não tinham permissão de aprender sobre as leis judaicas. Quando seu pai morre ela fica completamente só no mundo e toma a decisão de sair da vila e - disfarçada de um garoto com o nome Anshel - procura e passa num Yeshivá para estudar os textos, tradições e complexidades do Torá. No final do filme, ela tira o desfarce, passando a morar nos EUA, onde pode estudar as leis judaicas sem sofrer repressão.
Uma das cenas mais marcantes desse filme para mim é a em que Barbra canta ‘Papa, can you hear me?’ em um bosque à noite. Sem ter que se esconder do mundo, Yentl pergunta a seu pai se ele a ouve. Em um filme que fala sobre religião, não é de se estranhar que a canção faça também menções ao Pai Celestial (Deus?!). Indo um pouco mais além, podemos dizer que Yentl pergunta a Deus se ele a ouve mesmo estando ela fazendo algo considerado errado, segundo sua religião. Ali, naquele momento, não era um homem (Anshel) ou uma mulher (Yentl) se dirigindo a Deus, mas uma pessoa em busca de uma resposta, um sentido, uma direção.
Se vocês me permitem ir mais longe ainda, esta cena do musical atenta contra nossa eterna mania de estereotipar a todos. Homens devem fazer isso e não aquilo. Mulheres devem ser assim e não daquele jeito. Negros, brancos, gordos, magros, altos, baixos ou quaisquer que sejam as características físicas, quando as colocamos à frente, como rótulos, nos limitamos e forçamos o outro a fazê-lo. Eu nunca vou cantar como a Barbra, mas não porque sou homem e sim porque não tenho a mesma habilidade vocal que ela. Habilidades. É isso que nos limita.
Quando eu me olho no espelho, não vejo um homem, um gay, um cara magro ou baixo. Eu me olho e vejo refletido alguém cheio de possibilidades e que só precisa de oportunidades para desenvolvê-las. De fato eu nunca vou cantar como a Barbra, mas com o estudo necessário, posso sim, dentro das minhas habilidades e possibilidades, cantar qualquer música do seu repertório sem desafinar. Se vou ou não segurar uma nota por 20 segundos, bem, isso não faz de mim menos digno que ela.
E assim vamos seguindo rumo aos 24 anos.
 

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