quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pessoas e não siglas


Ontem, de forma anônima, fizeram o seguinte comentário no aqui no blog:

Sou lésbica desde criança! Já nasci assim! Queria gostar de homens, mais eu não consigo. Sinto muita atração por mulheres. Hoje estou noiva de um homem e vou me casar em julho, porém vou casar apenas para não ter conflitos com a minha família. Não sinto atração por homens e isso está sendo um peso pra mim, pois tenho que viver de aparência. Sei que se eu assumir minha verdadeira sexualidade e aparecer com uma mulher (namorada) lá em casa, minha família nunca mais vai querer olhar na minha cara. O que faço?

O comentário foi no texto Mãe, eu sou gay! Postado em julho de 2010. Nesse texto eu conto como foi a reação da minha mãe quando eu assumi minha homossexualidade e como eu me senti em relação a isso tudo. Esse texto é o mais lido do blog, já são 2.442 visualizações, e de certa forma é um divisor de águas neste espaço onde mira e mexe deixo minhas impressões sobre o mundo que me cerca, em especial o LGBT.

Desde que eu criei o blog, em maio de 2010, passei a acompanhar mais de perto o Movimento Homossexual Brasileiro e confesso que eu tinha outra visão sobre ele. Na verdade, não fossem algumas pessoas que tenho tido o prazer de conhecer, acharia que o MHB é uma grande perca de tempo.

Não dá para fugir que estamos passando por uma reconfiguração do movimento LGBT no país e que isso está gerando disputas que entrelaçam questões políticas e pessoais e eu me pergunto até quando isso vai durar e quanto prejuízo irá nos causar. Ou melhor, quantos prejuízos ainda teremos de arcar até podermos ser simplesmente pessoas? Não é fácil precisar o que é ou como deveria ser o movimento LGBT. Certo é que é necessário qeu haja um, mas repensar os rumos atuais é tão importante quanto.

Enquanto lideranças políticas disputam entre si pelo posto máximo de defensor da cidadania LGBT e entidades brigam pelo direito de dizer o que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais brasileiros precisam ou querem, pessoas como a do comentário citado acima continuam tendo que se esconder, precisam se deixar vencer pelo medo daquilo que podem sofrer em casa ou na rua porque não se encaixam no padrão.

Pode ser fácil dizer “assuma-se, sofrer se escondendo não parece mais fácil que sofrer encarando o preconceito de peito aberto”. Eu mesmo defendo que sair do armário é o principal ato político que podemos fazer nessa sociedade tão preconceituosa, mas quantos de nós pensamos em escolher fingir não ser gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual? Quem disse que é mais fraco quem se esconde? Será mesmo que não é preciso ter muita força para abrir mão da própria vida em nome de uma aparente paz?

Não se deve perder de vista, claro, que ainda não podemos exercer nossos direitos, os quais não serão concedidos a uma sigla, seja ela qual for, LGBT, GLBTT, GLS, ou a uma entidade, ong, partido político ou o que quer que seja, mas a pessoas que querem apenas poder sair às ruas, sem rótulos, sem representar nada ou ninguém além de si mesmas. Devemos lutar por aquilo que nos é negado, pois todos os dias pessos sofrem violência de todos os tipos só por que alguém acha que seu comportamento sexual diferente merece tamanho desrespeito, mas demandas, siglas, números não podem se sobrepor a pessoas.

P.S.: Esse texto é resultado também das leituras que fiz da última nota publicada por Fernando Matos em seu Facebook, que vocês podem ler aqui, das últimas postagens do blog do @delucca e de mais uma das minhas infindáveis conversas com o Marfim Mosac, além de tantas coisas que tenho lido por aí.

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