segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Despedida

O cortejo seguiu solitário noite adentro, chuva abaixo
O próprio morto levava seu caixão
Era sua morada derradeira
Diante da cova jogou oferendas, um coração sangrando
Saudades e arrependimento e
Jogando a última pá de cal, deu as costas e partiu

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um breve conto de amor

Ficaram um longo tempo abraçados. Tanto tempo que nem coseguiam contar. Parecia a vida toda.
- Por que você está chorando, perguntou um.
- É que eu te amo, respondeu o outro.
De repente, um tiro.
- O que você fez?
- Estou matando você.
- Por quê, se me ama?
- Por isso mesmo. Eu tenho te amado todo esse tempo, mas estamos em pistas opostas. Juro, eu tentei de toda forma entrar na mesma rota que você, te amar diferente, mas não consigo. Estou matando você aqui fora porque não consegui te matar dentro de mim
E assim morreram os dois: um de sangrar, o outro, de amar.

domingo, 21 de outubro de 2012

Sacrifício



Acordou pela manhã e as flores não estavam mais lá
O buquê, os discos, os livros... prateleiras vazias
No banheiro, apenas uma escova de dentes aguardava sobre a pia
Nos armários, roupas tinham sumido
Voltou à cama, o suor persistia, além de algumas marcas de sangue
Desceu até a entrada, cinzas, páginas queimadas, discos retorcidos, roupas chamuscadas
Então se lembrou da noite anterior, dos dias passados
Era com se tivesse dormido todo esse tempo
Voltou ao quarto, pegou os lençóis e jogou-os sobre as cinzas
Reacendeu a chama e viu, junto às tralhas, queimar seu amor
Que matara na noite anterior

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Morte na estrada



Tinha apenas uma chance
Tentara a todo custo mudar o caminho
Mas todas as estradas levavam ao mesmo lugar
Então fechou os olhos, usou a única chance que tinha
Atirou
Quando abriu os olhos, a vida marcava de vermelho o chão
Não se importou
Passou por cima e seguiu, mesmo com dor


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Fagia


Correria a língua mil vezes pelo teu corpo
Marcaria a palma da minha mão em tua pele.
Rasgaria tua barriga com meus dentes
E sorveria o sangue das tuas entranhas
Depois comeria tua carne até saciar minha vida.