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Manifestantes em frente ao Palácio de La Ravadiére, sede da Prefeitura de São Luís |
Assim como está ocorrendo em dezenas de outras
cidades brasileiras, os ludovicenses estão insatisfeitos com a precariedade dos
serviços públicos prestados. Os ônibus são, pelo menos uma boa parte,
sucateados; alguns chegam a ter 20 anos de uso. Os usuários se espremem todos
os dias em veículos lotados que demoram até uma hora para passar pelo ponto e o
trânsito, sem planejamento, é lento e as grandes avenidas da cidade estão
sempre congestionadas.
E este mesmo cidadão que passa uma hora ou mais
dentro de um ônibus lotado, às vezes, precisa acordar de madrugada para tentar
uma consulta em um posto de saúde onde chega a faltar até remédios. Nas escolas
públicas, o filho dele precisa aprender a estudar com poucos recursos e seus
professores têm que criar novas técnicas que o mantenha estimulado.
Se esse usuário do transporte público é gay, ele
ainda tem que lidar com piadinhas de todo tipo por causa da sua sexualidade e aceitar
ser ofendido se um deputado qualquer aprova um projeto de lei que o trata como
doente. Se ele é negro, tem que ignorar aquela pessoa que a mandou pegar o
elevador de serviço porque é claro que ela só o confundiu com um empregado do
prédio. Se for mulher, tem que aceitar
ser chamada de gostosa. É só nossa cultura. E era por tudo isso e muito mais
que tudo isso que a maioria, sim, a maioria, das pessoas foram às ruas ontem.
Atos de vandalismo não são evitáveis,
infelizmente, afinal é muito fácil se esconder em meio a uma multidão de 10 mil
pessoas, segundo a PMMA, que em sua maioria estava ali lutando por políticas
públicas de qualidade para todos de forma pacífica, sem qualquer intenção de
promover violência. Ali estavam muitos que há anos vem lutando por serviços
públicos de qualidade, por respeito, direitos e dignidade para negros,
mulheres, indígenas, LGBTs, pessoas com deficiências, moradores das
periferias...
Eu sou contra a destruição cometida
com o prédio da Prefeitura de São Luís, um edifício tombado pela Unesco como
Patrimônio da Humanidade e com 400 anos de história, por isso espero que todos
os vândalos sejam punidos, assim como aqueles que, quem sabe, os orientaram a
tal.
Mas não são nos vândalos que temos que nos
concentrar, mas no ideal do movimento que é o de mudança. Houve falhas? Sim.
Muita gente estava lá sem nem saber pelo que lutava? Sim. Havia quem pedia
melhorias nos serviços municipais em frente à sede do governo estadual e quem
queria mudanças na política estadual protestando na porta da Prefeitura. Erros
à parte precisamos começar de alguma forma e ir aprendendo a nos mobilizar, a
exigir direitos e políticas públicas justas e igualitárias.
E se as pessoas insistem em bandeiras antigas, as
causas de sempre, de décadas, é porque talvez, apesar do esforço, as mudanças
necessárias ainda não aconteceram, por isso a insistência. Portanto, não
desmereçamos o movimento, que não é novo. Não começou semana passada em São
Paulo, mas está há anos acontecendo pelo país. A diferença é que agora ele
grita ainda mais alto.