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sexta-feira, 17 de maio de 2013

17 de maio

Faz tempo que não passo por aqui. Muito por causa da minha falta de tempo, mas, sobretudo pela falta de inspiração para escrever. Sou desses bobos que acham que um texto só vale quando tem paixão, quando sangra, quando está vivo. Enfim, não acho que tenha conseguido isto hoje, mas vamos ao que interessa.

 
Primeiro uma boa notícia. Notícia essa que eu realmente não pensei que teria anos de vida suficiente para ler em um Brasil cada vez mais assombrado pelo fantasma do fundamentalismo e fideísmo religioso. Sim, pintosas e caminhoneiras, agora podemos chegar em um cartório acompanhadxs do boy ou da gata e celebrar nosso casamento civil. Ponto para o Brasil e para o CNJ.

 
Agora o motivo dessas mal traçadas linhas. Hoje, 17 de maio, é Dia Mundial de Combate a Homofobia. A data foi escolhida porque foi nesse dia que a Homossexualidade foi excluída da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 17 de maio de 1990, oficialmente declarada em 1992. Por todo o mundo, marchas, beijaços, seminários e uma série de outras atividades são realizadas para conscientizar a todos que a homossexualidade é tão natural quanto respirar.

Ontem, enquanto eu caminhava do trabalho até a academia fui chamado de viado, como acontece, aliás, na maioria dos meus dias e por mais que tentem me empurrar goela abaixo que isso é bobagem eu não acho que tenho que achar que tudo bem um cara me chamar de viado, é normal, esse tipo de ~brincadeira~ sempre existiu e não adianta querer mudar. Pode até não adiantar querer mudar e pode até ser que nunca mude, mas eu não aceito. Apenas.Eu adoro e me orgulho de ser viado. Não me conheci de outra forma, mas não escolhi sê-lo. Acredito até que se fosse mesmo uma questão simples de escolha haveria poucos viados e sapatões no mundo, afinal quem gosta de ser tratado como inferior, doente, aberração, pecador ou seja lá qual for o demérito?

E dentre os direitos que já conquistamos e as muitas lutas que temos pela frente, acredito que ainda há um longo caminho a ser trilhado. Por aqui seguimos nós lutando pelo nosso direito de nutrir afeto independente do que haja entre as penas ou do que se faça com eles. Independente até de para quantas pessoas direcionamos nosso afeto ou atração sexual.

Apesar de ser um romântico incurável, cada dia mais de convenço que não precisa ser a dois para ser certo, para ser legitimado. Embora não me imagine vivendo um poliamor por que estas pessoas não podem ter reconhecida a validade dessa família ainda mais diferente?

Sei que defender o que os fundamentalistas chamariam de “normalidade de Sodoma e Gomorra” beira ao absurdo, afinal, se já é difícil ~aceitarem~ o casamento entre duas pessoas só porque têm o mesmo sexo, imaginem a guerra que não seria querer que os cartórios celebrassem o casamento de três, quatro ou mais indivíduos na mesma relação? Só me incomoda a padronização, a higienização. Qualquer vivência, desde que saudável, deve ser legitimada, independente de quantas pessoas e quais sentimentos (ou a falta deles) estejam envolvidos.

Enfim, há outras tantas baboseiras que eu poderia dizer. É estratégico colocar todo mundo no mesmo saco, padronizar as necessidade para se conseguir acesso a direitos legítimos, mas não podemos transformar essa padronização em nada além que estratégia de luta. Só acho que diversidade sexual está além dos rótulos hétero, homo e bissexualidade. Como disse, se for saudável e de livre e espontânea vontade, que mal tem? Deve ser ótimo ser santa, mas também não há nada de errado em ser puta.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Violência contra quem?

Nossa! Quanta insensibilidade, crueldade e ignorância as pessoas têm destilado na internet (seja em blogs, perfis no Twitter, Facebook ou outras redes sociais) e até em conversas olho no olho sobre a entrevista de Xuxa ao Fantástico no domingo.

Eu não assisti na TV. Quando vi as chamadas anunciando a reveladora (sic) entrevista de Xuxa pensei: “Aff! Xuxa?! Me poupe. Talvez quando eu tinha 7 anos”.  No domingo, fui dormir antes que o programa exibisse aquilo que parecia o seu maior trunfo para ganhar a guerra pela audiência dominical.

Mas diante de tanta repercussão fui em busca do vídeo no youtube na manhã seguinte, embora já soubesse, pelos comentários na internet, esta terra sem leis onde todo mundo fala o quem bem entende, o quão reveladora tinha sido a entrevista. Entre tantas declarações inimagináveis, pelo menos para mim, Xuxa disse que foi abusada sexualmente na infância e adolescência por diversas vezes.

Claro que vieram os comentários óbvios, e já esperados, daqueles que confrontaram a declaração de Xuxa com filme erótico do qual ela participou no início dos anos 1980, quando tinha 16 anos, em que se relaciona sexualmente com um garoto de 12 anos, Marcelo Ribeiro. Como alguém que molesta alguém de 12 anos de idade pode se sentir no direito de denunciar abuso sexual contra si enquanto tinha a mesma idade? Absurdo, não?

Por se tratar de um filme onde os dois atores, menores, protagonizariam cenas eróticas, imagino que os pais de ambos tenham assinado algum tipo de autorização judicial que permitiu a sua participação no filme. Não posso deixar de observar que os defensores da moral esqueceram que aquela que viria a se tornar a Rainha dos Baixinhos, “usando shortinhos curtos e justos na bunda sarada” (nossa, esse tipo de critica em um país tão machista quanto o nosso. Será que estamos evoluindo, enfim?), estava inserida sim no abuso sexual, flagrantemente denunciado por eles, não como culpada, mas como mais uma vítima, assim como Marcelo, e sob consetimento dos pais.

Mas o que realmente me chocou, entre os inúmeros absurdos que li, foi o fato de muita gente, muita gente mesmo, defender que a revelação feita por Xuxa seja apenas uma jogada para conseguir audiência. Xuxa começou sua carreira muito jovem. Foi modelo, atriz, sagrou-se apresentadora e ainda se lançou cantora e é verdade que os últimos anos não têm sido fáceis para ela no que diz respeito a sucesso. Eu mesmo acho que ela deveria ter se aposentado há pelo menos 10 anos.

Apesar disso, não consigo conceber a ideia de que uma mulher, aos 50 anos e com uma filha adolescente, viria a público se expor e a sua família de tal forma (é, parece que continuamos firmes e fortes no nosso machismo... ops!). Não estou defendendo Xuxa, deixei de ser fã dela antes dos 10 anos de idade, mas percebo que as pessoas parecem querer minimizar o fato dela ter sido mais uma entre tantas vítimas de abuso sexual na infância e adolescência, pior, parecem querer culpa-la do crime que sofreu.

Se for realmente mentira a declaração da apresentadora, por que ao invés de ficarmos jogando pedras nela, baseados em um achismo, (afinal, o que fazia de Maria da Graça tão imune a uma violência tão comum, ainda nos dias de hoje, apesar de leis mais rígidas e tempos mais esclarecidos?) não aproveitamos esse momento onde o assunto está em alta em todas as rodas de conversa e aproveitamos para discutir esse problema a fundo?

Me pergunto que tipo de pessoa prefere acreditar que alguém inventaria uma história dessas a se sensibilizar com sua dor. A mim não interessa se Xuxa foi ou não abusada, pois, ao que parece, de alguma forma ela superou bem esse possível trauma, mas enquanto eu escrevia esse texto, em algum lugar desse país um menino ou menina foi abusado e essa criança pode não superar bem a situação. É essa a minha preocupação: que nenhuma criança mais passe por isso.

Talvez quem critique a possível mentira da apresentadora prefira jogar essa sujeira para debaixo do tapete. Eu não. Boa parte desses casos nunca chega ao conhecimento dos pais, por vergonha, e a família, quando descobre, também por vergonha, não leva o crime ao conhecimento das autoridades, sobretudo porque não raramente o abusador é alguém da própria família, pai, padrastro, tio, ou um amigo próximo. Imaginem chegar em uma delegacia e denunciar que a filha foi violentada pelo pai ou que o menino foi estuprado pelo cunhado? E é na rasteira dessa vergonha que o crime e o molestador se fortalecem.

Esse tipo de crime é vergonhoso sim, mas não para a vítima, que quase sempre é vista culpada por tudo que lhe acontece, como gostamos de pensar os brasileiros. Esse tipo de crime é vergonhoso para quem o comete. Esse sim merece o escárnio que vem sido desferido contra Xuxa.

Por mais alguns dias, jornais, revistas, sites e programas, de culinária aos de fofoca, irão repercutir, de forma sensacionalista, o trauma de Xuxa (todo domingo o Fantástico exibe uma reportagem especial, não é mesmo?) e trazer à tona tantos outros de meninas e meninos infelizes até que algum outro artista tenha sua intimidade exposta e então todos nós busquemos uma nova vítima para culpar e esqueçamos do tema da última semana. E assim o país segue caminhando, jogando sujeira embaixo do tapete, fingindo que não existe homofobia, racismo, discriminação sexual... nossa, como é bom morar em uma nação evoluída.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quem é que está sujo?

As duas histórias a seguir são reais:

João tem 17 anos. No começo da adolescência ele teve uma namorada que acabou se convertendo em melhor amiga quando ele assumiu para si que na verdade gosta de meninos. Não foi fácil, claro, quase nunca o é para ninguém. Sozinho e sem ter com quem contar fez as coisas da forma como podia e aprendia na rua: andando pelo gueto. Foi assim que aos 14 anos perdeu a virgindade com um homem de 40 anos em um banheiro público qualquer dentre os tantos que freqüentou. Hoje, sente-se sujo e com vergonha do que fez, mas para ele, o tempo passou. Está feito. Não há mais como desfazer os hábitos que o fazem sentir-se assim. Para ele ficou apenas o infindável desejo humano de recomeçar, mudar os hábitos, mas a memória não se apaga, não é mesmo?

José tem 23 anos. Na infância, aos 7 ou 8 anos, não se lembra ao certo, foi abusado sexualmente por um amigo da família. Com isso ele desenvolveu alguns traumas. Tem dificuldades em confiar nas pessoas, não tem uma vida sexual satisfatória e não faz a menor idéia de onde, como ou com quem teve sua primeira transa de verdade. A confiança em si, nos homens, sua auto-aceitação. Foi tudo muito traumatizante e difícil de consolidar-se, pois sempre lhe vinha à mente aquela tarde. Ainda hoje ele sofre com a dificuldade de relacionar-se com outros homens por não conseguir confiar plenamente em suas intenções. Seja relação amorosa ou sexual, são poucos os momentos de entrega total. Ainda há o medo de que se repitam os fatos daquela tarde.

O que você tem a ver com isso? Tudo. Ou muito, no mínimo. Enquanto luta contra a concessão de direitos básicos como o casamento civil, a adoção homoparental ou a criminalização da homofobia, você esquece todos os dias que também não são garantidos a outros milhares de Joões, Josés e Marias um direito natural: o de se relacionar saudavelmente.

Em banheiros públicos, becos escuros, matagais, cinemas pornôs, saunas, boates, meninos e meninas se arriscam todos os dias fazendo sexo sem segurança, sem proteção, sem condições mínimas de higiene e sem saber exatamente as conseqüências que isso pode trazer. Muitos pais, se descobrem esse tipo de atitude, ajudam a empurrar ainda os filhos para a vala úmida dos guetos expulsando-os de casa ou os agredindo verbal e fisicamente ou os dois.

E sempre há quem diga que “esses adolescentes fazem isso por que gostam”. Nessa etapa da vida essa é a única opção para eles. Imagine você, pai e mãe de um jovem gay, ou você que apenas diz não gostar dos meus, ser obrigado a transar, na maioria das vezes, em ambientes deploráveis tendo que descobrir o prazer em meio ao barulho das descargas dos vasos sanitários, da confusão de odores fétidos, do receio de ser descoberto e exposto ao ridículo pelo segurança do shopping, do medo de ser atacado por um bandido que espreita da rua mal-iluminada.

Imaginou? Então me responda se seu filho merece isso. Se alguma pessoa merece passar por tudo isso justamente na fase da vida em que está descobrindo a si, a seu corpo, ao outro e ao corpo do outro, aos seus sentimentos, desejos e ainda tem que lidar com a auto-repulsa por ser diferente. Pense e diga se você gostaria de ter trocado aquele momento inesquecível com a namoradinha do colégio no quarto dos pais em um domingo em que estes passaram o dia fora por uma transa de 10 minutos em um cinema pornô sendo observado e tocado e assediado por inúmeras outras pessoas.

Talvez você não perceba ou não admita, mas uma parte da culpa que João e José carregam hoje é sua responsabilidade. E você continua criando outros tantos jovens assim quando aponta e ri de algum gay na rua, quando torce o nariz para ele, quando diz que seus atos são pecaminosos, quando diz que sua sexualidade é uma opção, mas não lhe dá a opção de escolher com quem ele quer dividir momentos únicos e importantes da sua vida. São eles que se sentem sujos, mas o tapete embaixo do qual se esconde a sujeira é você!

sábado, 2 de outubro de 2010

Contrato Social II - a disseminação de um pensamento

“Aquilo que o publico realmente abomina na homossexualidade não é a coisa em si, mas o fato de ser obrigado a pensar nela.”

E. M. Forster

Eu já falei sobre o tema no texto “Contrato Social”, mas hoje gostaria de discuti-lo novamente, dessa vez, sob outra ótica: a de um exemplo claro da tentativa da perpetuação de um pensamento. Não que eu desacredite, agora, em tudo que disse antes, mas acho que esse texto é bom complemento daquele. Por isso, leiam o texto anterior, depois a reportagem linkada abaixo e por fim minhas considerações acerca de tudo e tirem suas próprias conclusões. Se puderem compartilhá-las comigo comentando no blog, melhor ainda. Boa leitura.

 

Na sua edição do dia 12 de maio desse ano, a revista Veja publicou a seguinte reportagem especial: “A geração tolerância: os adolescentes e jovens brasileiros começam a vencer o arraigado preconceito contra os homossexuais, e nunca foi tão natural ser diferente quanto agora. É uma conquista da juventude que deveria servir de lição para muitos adultos.” A reportagem é antiga, mas essa discussão é sempre atual.

Com tocantes e felizes histórias de jovens gays que conseguiram vencer o preconceito familiar, a reportagem conta como diversos jovens 'vivem livremente' (!!!) a sua sexualidade, ressaltando a discrição como pré-requisito para a aceitação. Em um dos trechos da reportagem pode-se ler que “declarar-se gay em uma turma ou no colégio de uma grande cidade brasileira deixou de ser uma condenação ao banimento ou às gozações eternas”.

Ora, é bem verdade que muitos avanços no combate ao preconceito já foram alcançados, mas essa é uma realidade vivenciada pela imensa minoria dos gays em nosso país. Não que a reportagem seja no seu todo ilusão, mas passar isso com a realidade atual de todos os gays e da sociedade em relação à homossexualidade é no mínimo hipocrisia. Basta perguntar sobre isso e de cada 10 entrevistados, com toda certeza, pelo menos 8 afirmarão que sofrem com a discriminação em casa, na escola, na universidade, no trabalho, ainda que de forma velada.

Nos últimos meses tive excelentes conversas com a @lilahleitora e o @AndreV_ sobre algumas das diversas questões que permeiam o “mundo LGBT” e um dos pontos que mais discutimos foi justamente essa aceitação e liberdade vividos por essa jovem geração de homossexuais e sempre chegamos ao mesmo questionamento: o que vivemos hoje é, realmente, a era da aceitação ou do comodismo?

Eu tenho 22 anos e há pouco mais de um 'assumi' definitivamente que sou gay – mas sobre isso dedicarei um post futuro – e não percebo que essa seja uma questão que seja vista com tanta naturalidade quanto prega a Veja em suas páginas ou diversas outras reportagens de rádio, TV, jornal; na verdade o que há é justamente um camuflamento, por parte da maioria das pessoas – gays e homofóbicos – desse sentimento.

Para muitos gays é uma grande conquista poder ir ao cinema, shopping, praia e outros locais públicos – que não os ambientes LGBT – com seu namorado, e de fato é, mas a maioria dos casais gays que conheço comporta-se, em público, como um casal de amigos, se eles fogem dos estereótipos gays, não há quem diga que algum tipo de relação amorosa entre ambos.

E esse tipo de postura não só é bem-vista como incentivada pela sociedade. Quantas vezes já não ouvi “o fulano é gay, mas é sério, ele não demonstra isso para ninguém”. E já ouvi de muitos gays o seguinte: “eu sou discreto, não preciso esfregar minha sexualidade na cara de ninguém para ser respeitado”. Oras, acontece que isso não é aceitar e não é assim que acabaremos com o preconceito. Isso é apenas uma forma de não tratar o assunto.

Quer dizer que eu preciso reprimir-me em público para ser respeitado pelos outros? Um homem heterossexual é mais respeitado se esconde essa sua condição? Deixar de dar um beijo no meu namorado em plena praça de alimentação de um shopping é o caminho ideal para que as pessoas entendam que toda forma de manifestação de carinho é válida? Eu não devo “esfregar” minha sexualidade na cara das pessoas, mas sou obrigado a ter um casal hétero sentado ao meu lado no cinema se beijando como se fizesse sexo? A resposta para todas essas perguntas é NÃO!

Mas na ânsia de serem aceitos a maioria dos jovens gays caem nesse poço e não percebem que estão apenas deixando de serem vistos, inclusos, mas sendo empurrados para um novo estereótipo de gay: o gay discreto. “Ora, não me exponha suas vergonhas que nos daremos bem” é assim que percebo que somos encarados pela, ainda, maioria das pessoas com as quais convivemos. Estamos sendo absorvidos pela multidão, nos tornando invisíveis e o que é pior: por vontade própria.

Pior ainda é o fato de muitos gays criticarem aqueles que na contramão do comodismo, lutam diariamente pela garantia de todos exercerem seus direitos que são cerceados todos os dias. É no mínimo contraditório que todos os gays queiram ter ou adotar filhos, casarem-se, serem respeitados, mas nada fazem por isso. Apenas sentam-se e esperam que a sociedade os receba de braços abertos.

Não estou aqui dizendo que temos que ir às ruas marchando e gritando contra a homofobia. Somente isso não resolverá. Mas é preciso que percamos o medo de sermos gays, perder o medo do estigma. E daí se nos apontarem na rua ao nos verem de mãos dadas com o nosso namorado? Mas é preciso mostrar que a homossexualidade é tão natural quando o nascer do sol todas as manhãs.

Tendo em vista toda a dificuldade de ser gay em um mundo tão hostil à causa, não soa razoável que alguém escolha, voluntariamente, ser gay. A única escolha está em se aceitar e vivenciar a própria sexualidade. Renunciar a tudo isso e fingir ser algo que não se é também é uma escolha. Tentar coibir os excessos praticados contra aqueles que têm uma orientação sexual diferente da maioria não é benesse, não é um prêmio, não é um superpoder. É tratar um homossexual pelo que ele é: um cidadão.

O que se pode compreender, segundo a matéria da Veja, é que nós, os gays, somos os culpados por toda a discriminação que sofremos, em especial os militantes.  Esqueçamos a PCL 122, as paradas, essa baboseira toda de luta pelos direitos. Na verdade, as pessoas nos amam. O mundo é cor-de-rosa. Viva a alienação!!!

sábado, 4 de setembro de 2010

Porque se tem que ser hétero, né?

“Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.”
(Carlos Drummond de Andrade)

Hoje, quando estava na parada esperando um ônibus para voltar para casa, encontrei com uma das minhas professoras da 6ª série. Começamos a conversar, ela quis saber como estava minha vida, se eu tinha seguido os estudos, se estava trabalhando, essas coisas. Contei a ela que estou terminando o curso de jornalismo e que já trabalhava como repórter há mais de um ano, enfim, a coloquei a par de tudo.

Como moramos em bairros próximos, pegamos o mesmo ônibus e o papo continuou até que veio o seguinte diálogo:

Ela: - Então, Jock, já casou?
Eu: - Não!
Ela: - Mas tá namorando?
Eu: - Não!
Ela: - Ah, mas que rapaz é esse que não tem namorada? É só falta de tempo?
Eu: - Também.
Ela: - E o que mais?
Eu: - Eu não tenho namorada por que eu prefiro namorado.

Depois disso houve um longo silêncio da parte dela - que ficou sem saber como agir. Até que voltamos a falar. Falar sobre amenidades.
Baseado nessa conversa de hoje quero fazer-lhes uma pergunta? Por que as pessoas partem do pressuposto que TODOS somos heterossexuais? Por que é tão difícil para as pessoas conceberem a possibilidade do diferente? Seria medo ou insegurança de, ao admitir as diferenças dos outros, ter que se ver como diferente também, afinal, tudo é uma questão de ponto de vista?

Essa dificuldade existe por que temos a necessidade de termos padrões para tudo querendo que todos sejam ou se comportem como ele e nem sempre somos suficientemente flexíveis para dar espaço ao outro para ser como ele quer. Um erro tremendo que só conduz a ressentimentos. Mas isso teria solução se as pessoas meditassem como seria se a situação fosse inversa.

É difícil aceitar as diferenças de outras pessoas porque também não reconhecemos nem aceitamos as nossas. Quando isso acontece aprendemos a aceitar e respeitar as diferenças dos outros também. Há que viver e deixar os outros viverem. O limite de cada um é a liberdade do outro e quando todos pensassem assim tudo seria mais fácil e as relações interpessoais seriam muito melhor.

Esse processo faz parte da vida de todo gay. Primeiro nos percebemos diferentes e depois percebemos que todos os outros também nos vêem como diferentes, inadequados e errados por nossa “escolha”. Assim a única opção é esconder essa grave diferença de qualquer pessoa.

Depois de um longo período de auto-aceitação, não sem alguns (muitos) traumas, aprendemos a lidar com essa questão, mas sempre fica um receio com relação à reação do outros. Senti esse receio ontem quando fui perguntado por que não tinha namorada. Nos segundos que precederam a minha resposta pensei se deveria ou falar o rela motivo. Não por que eu não me sinta seguro de mim com relação a ser gay, mas por que sempre há o medo da agressão, da reprovação, da discriminação.

Ao ouvir minha resposta ela preferiu não comentar. Mudou de assunto. É assim que acontece quando esbarramos com as diferenças alheias. Fingimos que não existem. É mais fácil. Afinal, é mais fácil conviver com a parte das pessoas que me interessa e que eu possa me identificar.