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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Que tudo amém

Liberdade é bom, oh baby,
Delicadeza também.
Vê se não atropela, baby,
Que tudo amém.
(Marina)

Estamos no último ano da década de 1980. A década de Marina. Foi aqui que ela “aconteceu”. Há 10 anos quando ela lançou seu primeiro álbum – Simples como o fogo (1979) - Marina queria fazer um trabalho que fosse distinto de tudo que se ouvia àquela época. E conseguiu. Só que inquieta do jeito que é, após ter atingido o seu ponto ideal, achou que ainda não tinha feito o bastante.

Assim, já consagrada como a maior cantora dos anos 1980, símbolo de canções autorais e de novas sonoridades, Marina lança em 1987 o LP Virgem com o refinamento indispensável a uma pessoa que analisa profundamente o sucesso e o que havia feito até ali. Agora é tempo de planejar o futuro.

O álbum Próxima parada, oitavo de estúdio e nono da carreira da cantora, lançado em 1989, trouxe uma direção calma em canções como a questionadora “$Cara” e “Garota de Ipanema”, bela releitura da composição de Tom Jobim e Vinicius de Mores. Destaque também para a música título “Próxima parada” e para o maior sucesso comercial do álbum “À francesa” – composta por Claudio Zoli e Antonio Cícero, e que foi tema da personagem de Malu Mader em “Top Model”, telenovela da Rede Globo.

Este foi o primeiro trabalho em que ela participou da produção e que não veio com uma foto sua estampada na capa. Em vez de seu rosto, fotos em preto e branco, de Walter Firmo, de automóveis em trânsito, um avião decolando, numa colagem do artista plástico Luciano Figueiredo. Mais uma forma da cantora afirmar que queria ser reconhecida pela sua arte e não pela sua imagem.

Atualidade das canções, esta foi uma das características que ressaltei no primeiro texto dessa série especial. E isso fica evidente nos versos de “$Cara”, canção que abre o disco. O ano era 1989 e Marina cantava: há sonhos e insônias, Ozônios e Amazônias e um novo amor no ar. Em seguida, regravando Os Paralamas do Sucesso, cantou os amores impossíveis em “Dois elefantes”: seu rosto em meu rosto rindo; dois elefantes no fundo do mar.

Aliás, outra característica de Marina é o romantismo “cool” em seus discos. Sem exageros, mas tudo com muita urbanicidade e realismo. Assim como na canção anterior, em “Encarando você”, ela traz altas doses desse romantismo: vi no meu caminho uma aglomeração, procurei você não sei por quê. Em “Extravios”, uma canção meio jazz, meio blues, de Cícero e Dalto – de quem Marina regravaria “Pessoa” dali a alguns anos – mais uma mostra dessa faceta da cantora: encoste este ombro no meu braço ocasionalmente infiel e faça-me sentir no seu abraço um pouco além de algumas gotas de Chanel.

O hit do álbum e um dos maiores sucessos da carreira de Marina veio com “À francesa”. Um clássico da música pop brasileira e umas das canções cartão de visitas dos anos 1980. Letra de Cícero e Zoli, até hoje a canção conquista fãs Brasil adentro, afinal, os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro. Em seguida a canção, cujo clipe, inauguraria a MTV Brasil em 1990. Uma releitura de um grande clássico da MPB. “Garota de Ipanema”.

Voando solo, Marina escreveu “Que tudo amém” para depois se revelar em “Próxima parada”: prefiro pôr as cartas sobre a mesa, não dou meu desejo a Deus. Depois outra regravação e recriação: “Only you”, do The Platters. Fechando o disco, uma versão instrumental de “$Cara”.

Próxima parada é um disco mais conceitual. Marina vinha de dois grandes sucessos e fez um trabalho de transição no qual revê sua posição diante da mídia e do público. Nesse sentido, o LP reafirma sua relação com a música. O álbum, que exala sofisticação, rendeu a Marina os prêmios Sharp como melhor cantora pop/rock e de álbum do ano, além de ter sido certificado como disco de ouro ao vender 100 mil cópias.

Marina deu mais uma guinada em sua carreira, refletida no apurado resultado do Próxima Parada onde se mesclam blues, rocks e as recriações de grandes clássicos, uma das marcas registradas da artista que, antenada com seu tempo e, junto com o mentor e parceiro Antonio Cícero, realizou um disco híbrido feito do presente e do futuro.

Se quiser saber mais sobre a carreira de Marina, leia os demais textos do Especial Marina Lima. Abaixo, você pode ouvir alguns clássicos desse álbum.
À francesa


Garota de Ipanema


$Cara

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O musical virginiano de Marina

ce Eu analiso tudo e me pergunto: quero a verdade ou quero amar?
(Marina/Antônio Cícero)

Após o lançamento do Todas, Marina viveu o auge do seu sucesso artístico e da sua popularidade. Sempre inquieta, ela decide desacelerar as guitarras do Todas Ao Vivo e analisar o que havia feito até ali. Assim, já consagrada como a maior cantora dos anos 1980, símbolo de canções autorais e de novas sonoridades, Marina lança em 1987 o LP Virgem com o refinamento indispensável a uma pessoa que analisa profundamente o sucesso.


Analisar, aliás, é o verbo dos nascidos sob o signo de virgem. Marina é virginiana, talvez por isso a escolha do nome do disco e sua canção-título. Àquela época a cantora afirmava estar conjugando o verbo "estamos", o pronome "nós" - referindo-se a sua parceria com o irmão e poeta Antonio Cícero.


Produzido em apenas 35 dias, o álbum, na esteira do sucesso do anterior, vendeu 250 mil cópias antes mesmo do lançamento e trouxe uma nova sonoridade, mais madura e direta feita pela cantora, compositora e arranjadora, rendendo-lhe importantes prêmios.


Uma das principais características dos álbuns de Marina é a intertextualidade das suas canções e nesse disco isso aparece de uma forma tal que ele poderia ser o roteiro de um musical. A nossa protagonista, de cara limpa e despojada na capa do LP, canta as incongruências de um coração apaixonado. Quem sabe uma metáfora mariniana para as (in)certezas da sua quase primeira década de carreira.


Iniciando sua narrativa musical, Marina como uma virginiana, analítica em suas considerações, afirma em “Pseudo-blues”: dentro de cada um tem mais mistérios do que pensa o outro. Na segunda canção, “Zerando”, a constatação: não basta seu corpo aceso para zerar todo medo. Virginianos são racionais até mesmo no amor e apaixonada, mas matemática, dispara em sua versão para “Preciso dizer que te amo”: nessa novela não quero ser teu amigo.


Mas a vida real é ainda mais dura que ela pode imaginar, afinal “Hearts” podem sim quebrar e mais virginiana que nunca, sentencia em “Preste a voar”: eu analiso tudo e me pergunto - quero a verdade ou quero amar?. Resignada, faz outra pergunta: As coisas não precisam de você. Quem disse que eu tinha que precisar?. Assim, com esses versos, que poderiam ter sido entoados em uma madrugada insone e de uma náusea Sartreana, os iniciais da canção “Virgem”, ela responde-se a questão anterior.


Não. Ela não precisa. Ela pode e quer viver de forma intensa. O mote perfeito para, passada a noite de insônia, ao acordar na manhã seguinte gritar em “Uma noite e meia”: essa noite eu quero te ter,toda se ardendo só pra mim!. Uma noite e meia. Oito e meia. Eu disse que esse disco poderia ser o roteiro de um musical e isso requer uma trilha sonora apurada. Virgem traz uma trilha sofisticada. Sendo assim, no musical protagonizado por Marina, temos Felline como diretor, afinal, pousos filmes tiveram uma trilha tão bem apurada quanto os dele.


Mas Marina é metódica. É virginiana e gosta de acompanhar todo o processo de produção dos seus discos e logo discordaria do seu diretor. Em “Doce espera”, diferente de Doce vida, ela resmungaria: a vida é dura quando se espera alguém. Mas antes disso, em “Confessional”, sorrateiramente reveladora, a gata todo dia, diria: me leva pra casa e vê quanto prazer eu posso te dar, é só você querer.


Até que no fim, assumindo os passos da sua trajetória, conclui em “Eu negar?”: o tempo vai passando, mas ás vezes passa e ainda fica atrás daquela mal contada história de amor.


Um musical. O musical do crepúsculo de uma vida movida pelas paixões. Assim eu defino este LP. Um dos meus preferidos entre todos os lançados por Marina. Da sua safra de 1980, é este o disco de Marina em que eu me encontro despido bibliograficamente.


Eu sinto o quanto a vida pode ser dura quando se espera alguém. Em um longo período sem água no meu coração, quantas vezes me perguntei se queria a verdade ou amar e nos últimos meses meu coração quebrou-se inúmeras vezes por eu querer ser mais que amigo de um certo alguém. E assim meu tempo vai passando na esteira das minhas mal contadas (e vividas) histórias de amor. Hoje procuro por outros olhos e armadilhas.


A canção-título do LP - uma composição de Marina e Cícero - é desde sempre a canção definitiva da dupla. “Preciso dizer que te amo”, escrita por Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto, nunca foi tão sensual, misteriosa e envolvente quanto quando cantada por Marina e garantiu a ela o prêmio Sharp de música como melhor intérprete.


O álbum rendeu a Marina também os troféus de melhor cantora pop/rock e disco do ano. O álbum Virgem, abraçado por público e crítica, teve ainda o maior hit do verão daquele ano: “Uma noite e meia”, que criou polêmica por sua – para os padrões da época – ousada letra. Canções não tão conhecidas como “Pseudo blues”, “Hearts”, “Prestes a voar” e “1º de Abril (Eu negar)” merecem sempre uma nova conferida. Por fim, esse disco apresentou uma Marina sensual, corajosa e reveladora.
Se quiser saber mais sobre a carreira de Marina, leia os demais textos do Especial Marina Lima. Abaixo, você pode ouvir alguns clássicos desse álbum.
Uma noite e meia

Virgem

Preciso dizer que te amo (Especialmente pro @AndreV_)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Já não dava pra esconder essa paixão

Lembram quando eu disse que em meados dos nos 1980 Marina se tornaria um dos nomes mais proeminentes do rock brasuca? Pois bem, estamos em 1985 e Marina está mais rock do que nunca em sua carreira. Desde o início que os flertes da cantora com o rock são perceptíveis, mas nos dois álbuns que se sucederam ao Fullgás isso ficou bem marcado no universo da obra da cantora e compositora.

Nesse ano, Marina lançou o Todas que a consolidou definitivamente no cenário artístico brasileiro. O sucesso do LP deu origem a projetos mais ambiciosos: o álbum Todas Ao Vivo e o show – que virou especial na extinta Rede Manchete – Sexo é bom – Todas Ao Vivo. O novo trabalho musical trazia releituras de canções que já estavam no Todas, como: “Me chama”, “Difícil”, “Nada por mim”, “Eu te amo você” e “Veneno”, além de novas versões para “Fullgás”, “Noite e dia” e “Ainda é cedo”, de Renato Russo. Além da inédita “Pra começar”, tema de abertura da novela “Roda de Fogo” da Rede Globo.

Lançado em 1986, o Todas Ao Vivo, é o registro do show realizado no Canecão (RJ) com a turnê do álbum anterior e foi a sagração de Marina como um dos maiores nomes do rock-Brasil. O álbum traz um rock típico dos anos 1980, mas claro, com a leitura sempre pessoalíssima de Marina. Acompanhada da banda “Põe pra Fora” (formada por Paulinho Guitarra, Jorjão Barreto, Renato Rocketh, Sergio Dellamonica e Luizão Ramos), a cantora abre e fecha o disco com canções inéditas.

Abrindo o LP, “Pra começar”, canção inédita de Marina e Cícero que - sendo tema de abertura da novela global "Roda de Fogo" - logo virou mais um hit da sua carreira. A canção trata de valores perdidos pela humanidade e a busca desta por novos caminhos, motivações, emoções. A segunda canção também é novidade na voz de Marina. “Ainda é cedo”, da banda Legião Urbana, ganha (re)gravação numa versão eletrizante da feita por Marina, muito além da morosidade de Renato Russo.

Carioca que cresceu em Washington (EUA), Marina é uma mulher urbana e isso transparece em sua obra. A canção “Veneno” que ganha um intróito baseado no poema “Cícero e Marina”, ambos do LP Fullgás, traduz essa urbanicidade romântica que é complementada pelo medley “Noite e dia/Me chama”. Sua veia rock pulsa mais uma vez na segunda das suas três versões para a música “Difícil”. É dessa versão do improvisado versinho: ela é bela, por que não comê-la?

Das suas lembranças dos EUA, “Lady sings the blues” do Billie Hollyday formando outro medley, desta vez com “Doida de rachar”, versão de Marina para “Maxine” de Donald Fagen. Nessa faixa, Marina recomeça a canção, por achar que a primeira tentativa não foi tão boa. Isso traduz a busca da cantora pelo verso sempre perfeito, mas tudo com muita tranquilidade.

Depois disso uma sequencia de três grandes hits que fizeram do álbum o sucesso de vendas que ele foi. “Fullgás”, segunda do total de cinco da cantora para essa canção, vem ainda mais pop que na sua versão original. “Nada por mim” desacelera o ritmo frenético deixado pela canção anterior e seu romantismo natural se antecipa a “Eu te amo você” que é iniciada em uma versão voz e platéia para depois seguir-se elétrica. Ciente que a beleza de seu trabalho deve-se também à qualidade dos músicos que a acompanham, Marina apresenta sua banda na inédita “Põe pra fora”.

Assim como seu percussor (Todas), o Todas Ao Vivo, me trouxe a dupla “Eu te amo você” e “Nada por mim”, canções cujos versos ainda hoje entoam minha vida amorosa. As canções falam por si.

Se Fullgás transformou Marina em cantora popular, foi com Todas, lançado em 1985, que Marina virou fenômeno musical. Canções como a emblemática “Difícil” e as populares “Eu te amo você” de Kiko Zambianchi e “Nada por mim”, composta para Marina pelo então casal Herbert Vianna e Paula Toller, viraram hits históricos da carreira da cantora.

O LP possui ainda canções menos conhecidas como “Onde? (Orminda…)” e “Por querer (Todas)” que são verdadeiras jóias musicais. Todas Ao Vivo foi o maior sucesso de vendas de Marina, até então, com 250 mil cópias, que garantiu disco de platina. O ponto alto do pacote álbum mais show foi o VHS lançado pela Manchete Vídeo Sexo é bom – Todas ao Viv”. O registro, que até hoje não teve sua comercialização em DVD, é uma grande oportunidade para ver Marina cantando em sua grande forma imersa no rock.

Continue acompanhando os textos da série Especial Marina Lima e ouça algumas das canções do disco.

Pra começar


Ainda é cedo


Nada por mim


Eu te amo você

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

FULLGÁS

"Meu mundo você é quem faz: música, letra e dança.
Tudo em você é fullgás, tudo você é quem lança."
(Marina Lima/Antônio Cícero)

Para mim, um dos álbuns que mais me lembra Marina é o Fullgás. Essa palavra, aliás, é quase como um sinônimo para a cantora em meus textos e conversas entre amigos. Lançado em 1984, ele representou um dos primeiros flertes da cantora com a música eletrônica e deixou ainda mais próxima do pop-rock, estilo que iria se sobressair nos seus dois LPs seguintes, sobretudo o Todas Ao vivo de 1986.

Após lançar o Desta vida, desta arte, Marina rompeu o contrato com Ariola, responsável pelo lançamento dos seus três LPs anteriores ao Fullgás. Para lançar seu novo disco Marina fez contatos com EMI, mas assinou contrato com a PolyGram – hoje Universal Music – em 1983.

Cada vez mais imersa no rock e disposta a dar uma identidade à quase (ainda) inexistente música pop nacional, Marina se cercou de talentos, como o parceiro de longa data Antonio Cícero, o músico Liminha e Lobão. Com a disco music ganhando cada vez mais espaço no cenário musical internacional, a compositora carioca começou a se interessar por bateria eletrônica. E Fullgás, a começar pela sua faixa-título, é todo calcado no instrumento.

Para se ter uma (pequena) idéia sobre como estava a música pop nesse ano, em 1984 Michael Jackson ganhou o recorde de 8 Grammys pelo álbum Thriller, de 1982 e Madonna protagonizou a histórica performance de ‘Like a virgin’, vestida de noiva, durante a primeira edição do MTV Music Awards.

Contando com a produção de João Augusto, Marina se cercou de um time de craques, como, mais uma vez, Lobão, que lhe deu "Me chama" e ainda tocou bateria na gravação da faixa; Lulu Santos, que tocou guitarra e compôs "Mais uma vez", ao lado de Nelson Motta; Nico Rezende, que pilotou os teclados em quase todas as faixas; e Liminha, que tocou baixo e escreveu o sensacional arranjo da canção "Fullgás".

Marina estava em estado de ebulição artística e sentimental quando lançou o LP e deixou isto bem claro com os versos da faixa-título que abre o LP. O próprio termo, um neologismo, traduz esse estado de espírito da cantora, mesclando o termo inglês “Full” – cheio, estado pleno - e “Gás”. Ídolo da cantora, Stevie Wonder, ganha uma versão feita por Cícero para a sua ‘Ordinary pain’, que Marina gravou sob o nome de “Pé na tábua” e sem medo dispara: arranque o freio e o pé na tábua, se jogue a esse amor que veio e mais nada.

Bem resolvida em “Pra sempre e mais um dia” ela canta que ‘a minha vida eu sei que é uma loucura, a vida dele também não fica atrás, mas nosso encontro é o fim de toda procura’ e completa em “Ensaios de amor”: no nosso corpo é que acende a luz. Sozinha no silêncio do seu quarto, procurando a espada do seu salvador ela sentencia que cada um de nós precisa de um homem para chamar de nosso e deu a “Mesmo que seja eu” a mais ampla e liberta interpretação que esta canção poderia ter e tomou para si a música de Erasmo Carlos definitivamente.

Na canção seguinte, um dos maiores clássicos do pop-rock Brasil dos anos 1980 “Me chama” traz uma Marina totalmente confessional e “Mesmo se o vento levou” ela estaria lá para lembrar o quanto gostou de amar. O amor e parceria entre os irmãos “Cícero e Marina” é revelada nos versos maliciosos e deliciosos do Poema Cobra e como que flertando com essa faixa, a seguinte, “Veneno”, que o italiano Polacci compôs como ‘Veleno’ e Nelson Motta verteu para o português, traz o alerta: Não me beije, não, que eu tenho veneno.

E “Mais uma vez” anseia por qualquer coisa verdadeira, forte, instigante, estimulante, fullgás. Fechando o álbum, “Nosso estilo” define bem o pensar de Marina. Para ela o mundo está sempre lento demais.

Para mim o mundo também gira devagar, enquanto estou à frente dele à mil. À medida que fui ouvindo os discos de Marina, este foi o primeiro com o qual me identifiquei da primeira à última faixa que seria difícil escolher apenas uma música, mas tenho agradáveis lembranças relacionadas a cada uma delas. “Fullgás”, por exemplo, me lembra Thamirys e uma certa piada interna. “Mesmo que seja eu”, na interpretação de Marina, foi uma das canções que me vieram como um grito de liberdade. “Pé na tábua” me lembra um desejo imenso sempre frustrado e assim se seguem todas as outras canções do álbum.

Lançado em 1984 o álbum transformou Marina em uma cantora popular, com os hits “Fullgás” e sua inovadora bateria eletrônica – parceria com Cícero, “Mesmo que seja eu” – com uma interpretação que tomou para si a canção e superou a original de Erasmo Carlos e “Me chama”, composição de mestre de Lobão. “Fullgás” “estourou” no país e levou junto Marina, cinco anos depois de sua estréia no mundo da música.

O LP vendeu 90.000 cópias em poucos meses, uma proeza para uma artista até então confinada a pequenas platéias. Em suma, Fullgás foi um divisor de águas na carreira de Marina, que, por sua vez, se tornou presença constante nas rádios a partir de 1983. A qualidade de álbum criou grande expectativa sobre o que poderia ser um novo LP de Marina, assunto do qual trataremos no próximo post.

Continue lendo o Especial Marina Lima e ouça agora algumas canções do Fullgás.

Fullgás (Especial para Thamirys)


Me chama

Seu tempo

“Eu sei. Estou aprendendo. A vida é meu tempo sem me guardar ou machucar demais. E nem quero mais a chave do mundo. Eu sempre mudo, nada é igual, mas o fundamental pra mim é saber achar o que esse tempo tem pra dar.”
(Marina Lima e Antônio Cícero)

Os versos iniciais da canção “Meu tempo”, sexta faixa do álbum Desta vida, desta arte – o quarto da discografia de Marina, lançado em 1982 – deixam bem claro como Marina via sua carreira após a repercussão dos seus primeiros trabalhos.

De candidata a nova grande intérprete da MPB, ela se lançou no difícil mundo dos cantores autorais. Era assim que ela queria seguir: sendo reconhecida não (apenas) pela sua voz, mas pelo seu estilo (muito) pessoal de compor, cantar e musicar suas letras. E assim como o LP anterior, Certos acordes, foi com essa concepção que o novo LP foi concebido.

Produzido em parceria com o guitarrista Pisca, remanescente do bem sucedido disco anterior, o quarto LP de Marina chama a atenção pela variedade de sua sonoridade e por flertar com o pop/rock – estilo em que a cantora mergulharia profundamente em meados dos anos 1980. Dos até então lançados, este foi o melhor e mais autoral álbum da cantora.

Uma das mais marcantes características de Marina enquanto intérprete é sempre gravar músicas que reflitam seu estado de espírito. Essa vontade de criar uma identidade própria, referencial, no cenário musical brasileiro é refletida em todas as canções do LP.

Abrindo o disco “Acho que dá” traz a decisão: Eu vou ver se tomo conto de mim (...). Assim acho que dá pra vencer. Só quero achar que vai dar. Em“Depois me diz”, o receio: A gente às vezes faz demais, de depois volta atrás. Em “Mapa-mundi”, um traço de dúvida: Eu já não sei mais bem por onde eu sigo. Em “É a vida que diz”, uma certeza: É a vida que diz ‘é hoje’. Em “Este ano”, a segurança para seguir: Só me alio ao que move. Se o tempo voa, eu vou. Em “Meu tempo”, a consciência de si: Eu sei, estou aprendendo. Em “Noite e dia”, o motivo: E eu olho sorrindo, lindo. Você está me convidando.

A voz sofisticada de Zizi Possi se une à envolvente de Marina na canção “Essas coisas que eu mal sei”, cuja letra de Antônio Cícero fala do seguir e se perder até se encontrar em alguém. E como Marina queria poder dizer que tinha, definitivamente se encontrado, na sua vida, na sua arte, dispara em “Nos beijamos demais”: Onde eu estou você está. Nós somos almas iguais. E encerrando o álbum Marina arremata: Eu tô em paz com a vida e que ela me traz a fé que me faz otimista demais. Na regravação de “Emoções”, clássico de Roberto e Erasmo Carlos, na qual ela tem o luxuoso acompanhamento de Rildo Hora na gaita.

Interessante como de todos os discos lançados por Marina, este é o com que eu tenho menos contato. O ouvi muito pouco e poucas canções dele constam na minha lista de quase cem canções da cantora no meu MP4. Das dez faixas do disco, “Essas coisas que eu mal sei” é a que mais me toca, mas pela interpretação de Marina e Zizi que pela letra. Acho que ainda não escutei esse disco com ouvidos de quem ouve. Acho que ele ainda não está no meu tempo.

O LP Desta vida, desta arte possui verdadeiras pérolas musicais como: “Acho que dá” – composta com Tavinho Peres, “Noite e dia”, de Lobão – então baterista da banda de Marina - e Julio Barroso, a regravação de “Emoções” de Roberto e Erasmo Carlos e a tocante “Essas coisas que eu mal sei”. Letra bela e inspirada que ganhou mais força nas interpretações de Marina e Zizi Possi.

O sucesso “Nos beijamos demais”, da trilha sonora do longa “Beijo na boca” completa um trabalho que se impõe pela diversidade musical e de talentos e que marcou o fim da era Ariola na carreira de Marina.

Continue acompanhando o Especial Marina Lima.

sábado, 4 de setembro de 2010

O lado quente de ser

"Acho que o mundo faz charme e que ele sabe como encantar, por isso sou levada e vou nessa magia de verdade."
(Marina Lima/Antônio Cícero)

Em 1981 Marina já era relativamente conhecida graças ao sucesso da canção “Nosso estranho amor”, composta por Caetano Veloso, que Marina, em dueto com o também cantor, gravou no seu segundo LP, Olhos felizes, de 1980. Apesar disso, Marina não ficou satisfeita com o resultado final do disco.

Além do dueto com Caetano, tiveram boas rotações nas rádios brasileiras as canções “Doce vida” e “Corações a mil”. Essas canções revelaram uma boa cantora, de timbre marcante e segura. No entanto, pelo fato de Marina ser apenas interprete nas três canções – “Doce vida” era de Rita Lee e “Corações a mil” de Gilberto Gil – logo a cantora foi incluída no time de outras tantas boas, mas que apenas gravavam ou regravavam canções de autores consagrados.

Mas não era isso que Marina queria. Ela buscava, não apenas uma identidade que já transparecia em suas canções autorais, mas uma assinatura ímpar na sonoridade de seu trabalho. Foi com esse pensamento que Certos acordes, seu terceiro álbum, foi lançado em 1981.

Para alcançar essa identidade, faltava-lhe apenas amadurecer, corrigir os equívocos de produção e repertório de seus dois primeiros LPs, trocar o departamento das "promessas a vingar" pelo da "vanguarda pronta" e Marina andou a passos largos nesse sentido.

Preferindo as afiadas parcerias com o irmão Antônio Cícero ao aval dos grandes nomes, dispensando as orquestrações complicadas, realizou um disco de eficiente simplicidade, balançado e sugestivo, próprio para as tardes ensolaradas do verão que se aproximava.

Aliás, é impossível falar de Marina sem citar a sua parceria com o irmão Antonio Cícero. Desde o momento que a cantora surgiu, com o álbum Simples como fogo, em 1979, os dois firmaram uma parceria vitoriosa. Cícero entrava com as suas bem sacadas letras, enquanto Marina elaborava as músicas. Assim, sucessos como "A chave do mundo" e "Rastros de luz" viram a luz do dia.

Mas com Certos acordes, podemos dizer que Marina se encontrou. Contando com a produção musical do guitarrista Pisca, a cantora se trancou na casa de seus pais, e fez a pré-produção do álbum. Dessa maneira, a cantora criou o seu estilo próprio, calcado em um "pop carioca" embalado pela sua sensual voz, como pode ser ouvido em canções como "O lado quente do ser" (logo gravada por Maria Bethânia) e "Gata todo dia". Esta última tocou bastante nas rádios, assim como "O charme do mundo", considerado o seu primeiro sucesso autoral.

Canção que abre o disco, "Charme do mundo” traduz esse desejo de Marina em ser identificada pela sua música. Versos como “é um mundo tão novo, que mundo mais louco, até mais que eu, é febre, é amor, e eu quero mais, tudo que eu quero, sério, é todo esse mistério” não poderiam ser mais claros. Em “Quem é esse rapaz” ela vai mais além e inclui, pela primeira vez na música brasileira, a palavra ‘gay’ na letra de uma canção, ao falar sobre mulheres que se apaixonam por homens que não devem.

Marina é mulher e uma mulher cheia de desejos que vive seus sentimentos em sua plenitude, mas sem perder tempo, buscando sempre “O lado quente do ser”. Músicas também nos trazem lembranças, de todo tipo, de pessoas, lugares, situações, afinal “Certos acordes” são nossos e nós os sabemos de cor.

Carioca, praieira, que, aliás, é uma paixão de Marina, assim como o mar e as aventuras vividas em “Maresia”. A voz que canta em "Gata todo dia", parceria sua com Leo Jaime, é, de fato, gata o dia todo, todo dia. A manha e a sanha que arranha o destinatário do conteúdo atravessa a letra e a melodia da canção. Na canção, a voz é uma entidade serpenteando o corpo do ouvinte: na tentativa de explodir as defesas e invadir os desejos do outro. Espalhando erotismo, dengo safado e excitação sacana, as filigranas da "fala" da gata arranham o ouvinte.

Marina é virginiana, mas em “Libra” sua voz rouca seduz nossos ouvidos com a vida de uma libriana em sua essência. Encerrando o disco “Avenida Brasil” mostra que ainda quer percorrer ainda mais sua estrada pela música.

Assim como para Marina, “Charme do mundo” revela meu desejo de viver ainda mais plenamente o que acredito e sentir e expressar o meu lado quente do ser.

Confira algumas das canções desse álbum:

Charme do mundo


Gata todo dia


Acompanhe todos os textos do Especial Marina Lima.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Olhos felizes

Depois de trazer uma nova proposta para a MPB, Marina mostra-se feliz ao seu público em seu novo álbum, falando de amor, paixãoes, sexo, auto-determinação.
Acompanhe toda a série Especial Marina Lima.

“Vem cá, amor, me dá um beijo. Pra mim o seu olhar tem ondas feito o mar.” Foi com esses versos que Marina convidou a todos para ouvirem Olhos Felizes, seu segundo álbum, lançado em 1980. Estamos enfim na década de 1980 quando a música pop brasileira irá se sagrar assim como o rock Brasil e Marina será figura de destaque em ambos, aliás, vai ser nesse período que Marina viverá o ápice do seu sucesso.

Após uma boa estréia com o álbum Simples como Fogo, a cantora deixou a gravadora WEA e se transferiu para a Ariola, que hoje faz parte do catálogo da Universal Music. Com grande parte das canções compostas por Marina e seu irmão Antonio Cícero foi com esse álbum que Marina teve seu primeiro sucesso com repercussão nacional: “Nosso estranho amor”. Um dueto com Caetano Veloso, que também compôs a canção. Considerado pela cantora um álbum linear em termos de sonoridade, Olhos felizes é um de seus trabalhos mais agradáveis. Romântico, positivo e feliz.

O rosto de Marina totalmente impresso ocupando toda a capa do LP com um sorriso tímido, porém revelador de uma felicidade enorme. Esse é o clima do álbum que já fica escancarado na primeira canção, “Olhos felizes”: eu gosto de olhar o mundo, não ligo pro que dizem, meus olhos são felizes, diz Marina na canção. Marina está feliz, de bem consigo e consequentemente vê as coisas de uma forma mais positiva. Até o arranjo da música traduz isso. Um sambinha extremamente compassado e dançante.

A canção seguinte, meio rock, em parceria com Caetano Veloso, “Nosso estranho amor ” fala de alguém que quer apenas que seu amor seja aceito pelo outro e não quer grandes coisas em troca. Estado que só se alcança quando se está bem-resolvido na vida sentimental: feliz. Em “Só você”, uma canção solar, ela se declara que vive apenas para um ser e em “Rastros de luz” ela está ainda mais apaixonada. A ponto de se entregar por caminhos lascivos para chamar a atenção daquele que sequer a vê e que ainda assim ela se mantém muito por perto, uma forma primária de cantar o altar no escuro, talvez.

Mas não amor sem dor e nem amor que se esqueça. Em “O amor que eu não esqueço” Marina está lamentando a perda desse amor. A dúvida do que levou ao fim, os choros da madrugada e o desejo da volta, está tudo nessa balada feita para se dançar de rosto colado. Mas quem disse que, apesar disso, não se pode ter uma “Doce vida” e se viver feliz, livre, poder fazer o que quiser, independente das situações? É esse o recado dessa canção composta por Rita Lee.

Bem, estando-se feliz, está-se bem com o corpo e mente, assim ficamos ainda mais sedutores. A voz rouca e sexy de Marina dá o tom perfeito para a sedutora “Seu sabão” e as delícias da entrega total do amor à luxúria. Assim não como não ficar com os “Corações a mil”, cheios de vontade de se apaixonar e com vontade de abraçar o universo todo, como cantou Marina a música do Gilberto Gil.

Depois da tempestade dos corações pulsantes, vem a calmaria do velar a pessoa amada e de pensar serenamente que o amor só é infinito enquanto dura e enquanto “Meu menino dorme”. Afinal, é assim que ficamos “Às vezes com quem amo”. Sentimos amor e às vezes raiva, queremos perto e às vezes distante, afinal a vida não passa das ondas do amor.

O álbum que começa alegre vai acalmando-se progressivamente até encerra-se com essa bela canção cuja letra é a tradução do poema “Sometimes with the one I love” de Walt Whitman feita pelo Cícero.

Aqui me marcam muito as canções “Nosso estranho amor”, pois é assim que eu me senti na maioria as vezes, apenas querendo que o meu amor fosse recebido, nada mais, e “Olhos felizes”, pois é assim que tenho aprendido a me manter.

Apesar do sucesso de “Nosso estranho amor” nas rádios brasileiras, Marina não ficou satisfeita com o resultado final de “Olhos Felizes”. Ela buscava, não apenas uma identidade que já transparecia em suas canções autorais, mas uma assinatura ímpar na sonoridade de seu trabalho. Mas esse é assunto para o próximo post, enquanto isso ouça algumas músicas desse segundo trabalho da Marina.

Olhos Felizes


Nosso estranho amor

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Simples como o fogo

Iniciamos hoje um especial sobre a cantora Marina Lima que aniversaria no dia 17 deste mês, fazendo 55 anos, publicando até aquela data um post especial em sua homenagem. Como 17 é também o número de álbuns lançados pela cantora ao longo dos seus 31 anos de carreira, faremos 17 postagens pegando como mote um dos seus discos.


Assim, falarei da vida e obra da cantora, além da minha relação com sua música, conforme anunciei no post “Mas eu disse sim e ela me ouvia”.

O ano era 1979 e Marina, ainda sem assinar o ‘Lima’, tinha então 24 anos. Nessa época os maiores referenciais na música brasileira, dentre outros grandes nomes, eram as baianas Maria Bethânia e Gal Costa que poucos anos antes haviam lançado, em conjunto com Caetano Veloso e Gilberto Gil, o disco “Os doces bárbaros”, uma das obras-primas da música brasileira.


Nessa mesma época aquilo que teríamos hoje como música pop começava a se definir com o lançamento do LP “Off The Wall”, primeiro da carreira solo de Michael Jackson e que até hoje é o álbum de Black music mais vendido da história, 20 milhões de cópias.


E foi nesse cenário que é lançado Simples como o fogo, primeiro álbum da cantora influenciada por estilos como o pop, rock, blues, o samba e a bossa. Mas a primeira aparição de Marina no cenário da MPB deu-se dois anos antes quando Gal Costa gravou uma composição sua, a canção “Meu doce amor”.


Mas a apresentação de Marina na MPB quase ocorre mais cedo, em 1976, quando Bethânia tentou gravar “Alma caída”, primeira das inúmeras parcerias de Marina e seu irmão, o poeta, filósofo e letrista Antônio Cícero. Essa gravação foi impedida pela censura militar e canção só veio a ser gravada anos depois, em 1989, no LP Estrebucha baby de Zizi Possi.


O primeiro LP de Marina já trazia impresso uma das características mais marcantes da carreira da cantora: a sonoridade única. Marina queria fazer um trabalho que fosse distinto de tudo que se ouvia àquela época. Para tanto ela mescla o blues e o rock, o samba, a bossa e música pop, que, aliás, nessa época inexistia no Brasil.


Abrindo o álbum, a canção "Solidão", de Dolores Duran, que ganhou uma interpretação forte e envolvente de Marina que em nada lembra o clima dor-de-cotovelo original. Apesar da letra triste é uma canção bem para cima, alegre. Em seguida, "Transas de amor", canção que nasceu de um papo de Marina e Cícero quando ela ainda tentava se compreender, a seu corpo e desejos. Essa canção imprime outra das características da cantora, a atualidade dos temas de suas composições. A música fala da relação sexo descompromissado e sexo com amor.


Depois de cantar seu desconforto com a solidão e sobre os dilemas de transar por transar ou não, Marina fala em "A chave do mundo" do amor que ao mesmo tempo em que aquece, queima, um amor simples como o fogo e em seguida, em uma balada meio rock, meio blues, trata da como pode ser "Tão fácil" fácil amar e se perder de amor.


Como toda jovem, difícil, esquisita, hiperativa, angustiada, essa é a "Maneira de ser" de Marina, tema dessa canção. Noturna, ela canta as lágrimas de um fim de amor sobre a carta de adeus em "Revolta", composição de Moraes Moreira. E depois fala sobre como é ficar "Literalmente louca" com um simples olhar da pessoa amada. "Não há cabeça", composta por Ângela RoRo, e os antagonismos sentimentais segue-se no álbum antecipando-se à "Memória fora de hora", uma canção de letra bem curta que fala da saudade de algo que está distante e encerrando o disco, "Muito", do Caetano Veloso, e a volúpia, a gula, o exacerbar dos sentimentos.


Desse álbum me marca muito a canção "Memória fora de hora" que acabou se tornando uma seção do blog onde falo das minhas angústias e de coisas que me ocorrem inesperadamente. O verso “o meu amor mora lá no Rio” é literal para mim. "Transas de amor" também me diz muito. Às vezes fico na dúvida se “os sonhos de quem ama não cabem só na cama”.

Quando Marina surgiu na cena pop brasileira, no final dos anos 70, foi um verdadeiro alvoroço. A tímida cantora carioca que tem o charme do mundo, com a sua mistura única de pop-rock com a MPB mais tradicional, arrebatou uma legião de fãs com o seu estilo "cool", e uma voz bela e sensual misturada a composições inteligentes.

O trabalho, de certa forma, foi um pouco incompreendido. Afinal de contas, as pessoas sempre demoram um pouco para digerir o diferente, no entanto, Simples como Fogo é complexo musicalmente e ao mesmo tempo leve e envolvente. Com ele, Marina deixou uma bela primeira impressão.

Ouça aqui algumas canções desse LP:

Transas de amor


A chave do mundo

domingo, 22 de agosto de 2010

Mas eu disse SIM e ela me ouvia

A minha vida tem uma menina chamada Marina
Ela é a cobra do meu paraíso
Ela é a dobra do meu paraíso
Ela é a sobra do meu paraíso
Ela é a sombra do meu paraíso
Ela é a cobra
Ela é a cobra
Ela é a cobra

(Antônio Cícero)


Assim que criei o blog, logo nos primeiros posts, prometi que falaria sobre minha artista predileta. Em seus blogs, Thamirys D’Eça e Ana Coaracy o fizeram, o que aumentou ainda mais a minha vontade de fazê-lo, pois bem, agora vou cumprir o prometido. Então hoje falarei sobre como MARINA LIMA passou a fazer parte do meu panteão musical.


Sempre ouvi (quase) de tudo que se pode imaginar. Quando criança passava o dia ouvindo rádio compulsoriamente – minha mãe tinha o hábito de ligar o aparelho assim que acordava, às 6h da manhã, e depois nos horários em que a TV, seu outro vício, estava desligada – portanto, conheço todos os sucessos radiofônicos da década de 1990.


Mas o auge da carreira de Marina foi nos anos 1980, eu sei. Acontece que por influência da minha mãe eu era um noveleiro convicto e Marina teve muitas de suas canções incluídas nas trilhas de novelas e minisséries globais. Assim, eu tinha algum conhecimento, ainda que parco, sobre essa mulher, mas não me tornei seu fã por essa época. Isso foi bem depois.


Em 2007 fui aprovado no vestibular para Jornalismo da UFMA. Foi quando conheci aquela que viria a se tornar minha alma gêmea, Thamirys. Foi ela quem me apresentou Marina Lima, aliás, essa foi apenas uma das inúmeras alegrias que A minha Thata me deu. Espere, preciso esclarecer um fato antes de continuar.


Na verdade, na verdade, quem me apresentou Marina foi outro amigo meu, dos tempos de infância, o Phellipe, que desde menino é seu fã por influência de sua mãe que também é mais uma 'mariniana'. Lembro-me dele andando para todo canto com o CD Pierrot do Brasil, que por acaso, é o meu preferido dentre os 17 já lançados por ela.


Mas Thamirys tem mais culpa nisso, pois foi ela a responsável pela minha paixão pela cantora. Naquele mesmo ano houve show da Marina em São Luís e Thamirys não falava de outra coisa. Também em 2007 Marina estava de volta às rádios com a canção “Difícil” que era trilha da novela “Paraíso Tropical” e essa foi a primeira canção de Marina na qual me liguei de verdade.


A ouvi no rádio, gostei e então decidi procurá-la na internet. Achei e baixei, mas para minha surpresa descobri que havia baixado o arquivo errado. Sim, havia baixado a canção, mas era outra versão. A primeira das três gravadas por Marina. Composição sua e de seu irmão – o poeta e filósofo Antônio Cícero -, a música foi lançada em 1985 no roqueiro LP Todas.


Mas logo aos primeiros acordes a canção me tomou. O verso inicial, sussurrado deliciosamente por Marina, “Sexo é bom!”, me soou incrivelmente libertário. Mas eu queria mesmo era a versão que estava tocando nas rádios àquela época. Continuei a busca e achei outra versão. Baixei, mas ainda não era a do momento. Era a segunda versão feita por Marina, em 1986 no LP Todas Ao Vivo. Essa versão me pegou ainda mais de calças curtas.


Marina mostrou-se ainda mais sacanamente necessária para mim ao improvisar nos versos: “eu disse não, ela não ouvia; mandei um sim, logo serviu, então pensei ‘ela é bela’ por que não comê-la? [em vez de por que não com ela?]. Mas ainda queria a outra versão. Até que achei. Ouvi e era rock, moderno, noturno, pop e bom. Embora não conhecesse a obra de Marina, até então, a canção entrou para o meu set list de imediato.


Nessa época Thamirys e eu tínhamos uma amiga no curso que adorava desfilar pelos corredores com um vestido vermelho bem safado e não dava outra quando Thami a via. “Um vestidinho vermelho que botei pra você ver...” cantarolava ela os versos de outra canção de Marina, Vestidinho vermelho, versão feita por Alvin L de “Beautiful red dress”, do Lauri Anderson, que Marina lançou no álbum Lá nos primórdios em 2006, o último lançado por ela e o mesmo da terceira versão de “Difícil”.


Nesse mesmo álbum estava a canção “Três”, a primeira composta por Marina e seu irmão para o show Primórdios que gerou o álbum (quase) homônimo. Essa foi a canção definitiva. A que me chapou de tal forma que eu só posso chamar de fundamentalismo músico-religioso.


A voz quente, rouca e sensual de Marina me seduziu como se fosse o canto de uma sereia e desde então seus versos me embalam. Seja na alegria ou na tristeza, eles estão sempre lá dizendo o que preciso ouvir.


Mas para que tudo isso acontecesse, era preciso que eu estivesse pronto para recebê-la e eu estava. Como e por que serão temas do próximo post que dedicarei a Marina.


Curiosamente hoje ela postou em seu twitter (@marinalimax) o seguinte: “quando uma pessoa atinge uma mudança básica em sua natureza, o universo deve responder, e refletir a energia milagrosa de volta para nós”.


Este é apenas um dos diversos posts que dedicarei a ela. Isto não é uma coluna ou série fixa de postagens, apenas não posso descrevê-la e nossa relação em um único texto. Até o próximo post sobre eu e Marina Lima.


Ouça aqui as canções de Marina que me despertaram, em todos os sentidos.


Três



Vestidinho vermelho



Difícil