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terça-feira, 1 de maio de 2012

Liberdade de expressão para quem?


Há tanta gente jogando contra o movimento LGBT no Brasil, se aproveitando de “líderes” do movimento que usam nossas demandas para favorecimento pessoal, usando os erros deles para criminalizar todo o ativismo, ou que simplesmente inventa mentira por cima de mentira para enfraquecer nossa luta e convencer a opinião pública que realmente estamos querendo implantar uma ditadura gay no país. Assim, têm dias que parece que nada pior pode acontecer, até que nos surpreendemos do contrário.

Foi o que me ocorreu na segunda-feira, 30, quando soube que o portal UOL havia retirado do ar a sua página com informações destinada ao público LGBT, o UOL Gay. Todo o conteúdo político e de notícias sobre lazer, entretenimento, cidadania e tantas outros temas foi substituído por pornografia. Hoje, quem acessar a página do antigo UOL Gay será direcionado para o UOL Sexo. A página era uma das mais consultadas pela população LGBT em busca de notícias, eu mesmo a lia quase que diariamente.



Coincidência, em 2011, o UOL foi ameaçado com um B.O. feito pelo pastor-deputado Marco Feliciano que pedia a retirada da página do ar, alegando atentado ao pudor.

Todos os detalhes sobre esse caso vocês podem conferir na página do Eleições Hoje, que também era hospedada no UOL e, após denunciar a censura contra o UOL Gay (porque eu não vejo outro nome para isso), ficou off por 24h, sob a alegação de falta de pagamento, o que é veementemente negado pelo autor do site, o ativista Marcelo Gerald. Agora é o Mix Brasil, outro site hospedado no portal, que está fora do ar. Coincidências inacreditavelmente interessantes, não?

O fato foi amplamente divulgado e discutido nas redes sociais por diversos ativistas independentes e perfis de outras páginas, como blogs e sites, voltadas exclusivamente para o público LGBT.

Eu me pergunto por que um site com conteúdo gay incomoda tanto gente como o Feliciano. Eu não leio sites sobre futebol, sabe por quê? Por que o assunto não me interessa. Sendo assim, não é lógico que uma pessoa não gay ou que não tem a menor ligação com o movimento social não se sentisse incomodado com o UOL Gay?

Ao que parece, os fundamentalistas teocratas, que tanto se armam contra o PLC 122, por exemplo, alegando que ele tolhe a liberdade de expressão dos grupos religiosos brasileiros, defendem um direito de via única, que parte deles para eles. 

Eles podem se levantar contra nós com um livro na mão afirmando que a nossa sexualidade contraria as leis do seu Deus, mas nós não podemos contra-argumentar. Jamais.

Esse episódio nos mostra que temos que estar alertas. Eles não vão desistir enquanto não voltarmos para os guetos nos quais vivíamos até aos anos 1970. Decerto já perceberam que ganhamos as ruas, praças, parques, repartições e todos os espaços públicos e que não pretendemos sair deles porque também temos e queremos o direito de usá-los livremente.

Eles querem convencer a todos que nossa sexualidade se reduz ao que fazemos com nossos sexos e que ela não tem qualquer representatividade política, social, cultural e menos ainda, afetiva. Site para gays, só se for pornográfico e enquanto eles permitirem, é claro.

Não há provas que a retirada do UOL Gay do ar seja por causa das ameaças de Marco Feliciano e da crescente ditadura religiosa no país, mas está claro que querem que nós, LGBTs, sejamos cidadãos pela metade.

Temos que votar, pagar impostos, cumprir as leis, mas ficarmos caladinhos no interior dos dark rooms. Igualmente pior e preocupante é perceber que existem pessoas, organizações, instituições, entidades e empresas que cedem à mesquinhez das suas pressões.