Há tanta gente jogando
contra o movimento LGBT no Brasil, se aproveitando de “líderes” do
movimento que usam nossas demandas para favorecimento pessoal, usando os erros
deles para criminalizar todo o ativismo, ou que simplesmente inventa mentira
por cima de mentira para enfraquecer nossa luta e convencer a opinião pública
que realmente estamos querendo implantar uma ditadura gay no país. Assim, têm
dias que parece que nada pior pode acontecer, até que nos surpreendemos do
contrário.
Foi o que me ocorreu na segunda-feira, 30, quando soube que o portal UOL havia retirado do ar a sua página com informações destinada ao público LGBT, o UOL Gay. Todo o conteúdo político e de notícias sobre lazer, entretenimento, cidadania e tantas outros temas foi substituído por pornografia. Hoje, quem acessar a página do antigo UOL Gay será direcionado para o UOL Sexo. A página era uma das mais consultadas pela população LGBT em busca de notícias, eu mesmo a lia quase que diariamente.
Coincidência, em 2011, o UOL foi ameaçado com um B.O. feito pelo
pastor-deputado Marco Feliciano que pedia a retirada da página do ar, alegando
atentado ao pudor.
Todos os detalhes sobre esse caso vocês podem conferir na
página do Eleições Hoje,
que também era hospedada no UOL e, após denunciar a censura contra o UOL Gay (porque
eu não vejo outro nome para isso), ficou off por 24h, sob a alegação de falta
de pagamento, o que é veementemente negado pelo autor do site, o ativista
Marcelo Gerald. Agora é o Mix Brasil, outro site hospedado no portal, que está
fora do ar. Coincidências inacreditavelmente interessantes, não?
O fato foi amplamente divulgado e
discutido nas redes sociais por diversos ativistas independentes e perfis de
outras páginas, como blogs e sites, voltadas exclusivamente para o público
LGBT.
Eu me pergunto por que um site com conteúdo gay incomoda tanto gente como
o Feliciano. Eu não leio sites sobre futebol, sabe por quê? Por que o assunto
não me interessa. Sendo assim, não é lógico que uma pessoa não gay ou que não
tem a menor ligação com o movimento social não se sentisse incomodado com o UOL
Gay?
Ao que parece, os
fundamentalistas teocratas, que tanto se armam contra o PLC 122, por exemplo,
alegando que ele tolhe a liberdade de expressão dos grupos religiosos
brasileiros, defendem um direito de via única, que parte deles para eles.
Esse episódio nos mostra que
temos que estar alertas. Eles não vão desistir enquanto não voltarmos para os
guetos nos quais vivíamos até aos anos 1970. Decerto já perceberam que ganhamos
as ruas, praças, parques, repartições e todos os espaços públicos e que não
pretendemos sair deles porque também temos e queremos o direito de usá-los
livremente.
Eles querem convencer a todos que nossa sexualidade se reduz ao que
fazemos com nossos sexos e que ela não tem qualquer representatividade
política, social, cultural e menos ainda, afetiva. Site para gays, só se for
pornográfico e enquanto eles permitirem, é claro.
Não há provas que a retirada do
UOL Gay do ar seja por causa das ameaças de Marco Feliciano e da crescente
ditadura religiosa no país, mas está claro que querem que nós, LGBTs, sejamos
cidadãos pela metade.
Temos que votar, pagar impostos, cumprir as leis, mas
ficarmos caladinhos no interior dos dark rooms. Igualmente pior e preocupante é
perceber que existem pessoas, organizações, instituições, entidades e empresas
que cedem à mesquinhez das suas pressões.