terça-feira, 21 de maio de 2013

Cada um tem seu quadrado

Em um mundo onde cada vez mais as pessoas buscam seu espaço, expressar sua opinião e serem respeitadas como são, na sua individualidade e diversidade, parece que está ficando cada vez mais difícil respeitar o princípio físico segundo o qual dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo.

Há quem diga ser contra o casamento gay porque isso irá destruir a família. Eu, por motivos mais que óbvios, sou totalmente a favor do casamento civil homoafetivo, que agora pode ser celebrado tranquilamente em todo o território brasileiro e outros 15 países do mundo. No entanto, ser contra as relações homossexuais, seja por qualquer que seja a convicção, não anula o fato de que LGBTs estamos aí querendo ser reconhecidos como cidadãos plenos. Nós casamos, temos filhos (adotivos ou biológicos), dividimos a conta do supermercado, da creche, de luz, internet, TV à cabo... Então porque não teríamos o direito de oficializar isso em um cartório?

Vejam bem, o fato de gays poderem casar não significa nada além disso. Ninguém está obrigado a se casar com um homossexual. Quem é contra a homossexualidade tem resguardado o seu direito de não se casar com um. Se você não gosta de gays não os convide para jantar na sua casa, para a festa de aniversário do seu filho... Simples, não é?

E os ateus, esses pobres infelizes que cometeram o erro de não crerem em deus, qualquer que seja a sua representação nas milhares de religiões existentes? Como alguém pode não acreditar em deus? Que sentido tem uma vida sem ele? Como ser feliz, completo, realizado, prosperar, acordar todas as manhãs, pegar um ônibus lotado e enfrentar um engarrafamento daqueles sem ter deus no coração me dando forças?

Bem, eu faço isso todos os dias exatamente da mesma forma que os demais passageiros que, em sua maioria, devem acreditar em deus. Talvez eles estejam conformados com o fato de que deus quis que suas vidas fossem assim. Talvez eles sintam algum conforto, pois sabem que deus tem um plano para eles e esses dias de ônibus lotado passarão. Talvez eu me sinta mal porque não é nada confortável ficar uma hora em pé em um ônibus cheio. Talvez... O fato é que, existindo ou não, eu simplesmente não sinto a necessidade de orar todas as manhãs. Simples assim. Por que eu preciso crer em um deus?

Há espaço para todo mundo no mundo. Basta que respeitemos o fato que nem todo mundo é como nós. Talvez seja mais fácil conviver com pessoas que são iguais ou muito parecidas conosco. Quem não quer alguém para conservar sobre deus, o último episódio da nossa série preferida, a nova tendência de moda que inclui calças com estampas de aves exóticas? Lutar contra o fato do outro pensar diferente é tão eficaz quanto tratar doenças com pílula de farinha e não venham me falar aqui do efeito placebo, ok?

Faz sentido terminar uma amizade porque seu amigo prefere sorvete de pistache a chocolate? Tem razão quem termina um casamento porque o cônjuge não assiste aos filmes do Almodóvar? Qual o benefício de declarar uma guerra contra uma pessoa que come todos os dias no Bobs só porque você está de dieta? Pessoas têm necessidades diferentes, de acordo com suas peculiaridades, que são muitas. Se sou eu quem está de dieta que diferença faz para mim se todos os meus comem chocolate? Há espaço para todos desde que aprendamos mais a viver em vez de apenas conviver.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

17 de maio

Faz tempo que não passo por aqui. Muito por causa da minha falta de tempo, mas, sobretudo pela falta de inspiração para escrever. Sou desses bobos que acham que um texto só vale quando tem paixão, quando sangra, quando está vivo. Enfim, não acho que tenha conseguido isto hoje, mas vamos ao que interessa.

 
Primeiro uma boa notícia. Notícia essa que eu realmente não pensei que teria anos de vida suficiente para ler em um Brasil cada vez mais assombrado pelo fantasma do fundamentalismo e fideísmo religioso. Sim, pintosas e caminhoneiras, agora podemos chegar em um cartório acompanhadxs do boy ou da gata e celebrar nosso casamento civil. Ponto para o Brasil e para o CNJ.

 
Agora o motivo dessas mal traçadas linhas. Hoje, 17 de maio, é Dia Mundial de Combate a Homofobia. A data foi escolhida porque foi nesse dia que a Homossexualidade foi excluída da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 17 de maio de 1990, oficialmente declarada em 1992. Por todo o mundo, marchas, beijaços, seminários e uma série de outras atividades são realizadas para conscientizar a todos que a homossexualidade é tão natural quanto respirar.

Ontem, enquanto eu caminhava do trabalho até a academia fui chamado de viado, como acontece, aliás, na maioria dos meus dias e por mais que tentem me empurrar goela abaixo que isso é bobagem eu não acho que tenho que achar que tudo bem um cara me chamar de viado, é normal, esse tipo de ~brincadeira~ sempre existiu e não adianta querer mudar. Pode até não adiantar querer mudar e pode até ser que nunca mude, mas eu não aceito. Apenas.Eu adoro e me orgulho de ser viado. Não me conheci de outra forma, mas não escolhi sê-lo. Acredito até que se fosse mesmo uma questão simples de escolha haveria poucos viados e sapatões no mundo, afinal quem gosta de ser tratado como inferior, doente, aberração, pecador ou seja lá qual for o demérito?

E dentre os direitos que já conquistamos e as muitas lutas que temos pela frente, acredito que ainda há um longo caminho a ser trilhado. Por aqui seguimos nós lutando pelo nosso direito de nutrir afeto independente do que haja entre as penas ou do que se faça com eles. Independente até de para quantas pessoas direcionamos nosso afeto ou atração sexual.

Apesar de ser um romântico incurável, cada dia mais de convenço que não precisa ser a dois para ser certo, para ser legitimado. Embora não me imagine vivendo um poliamor por que estas pessoas não podem ter reconhecida a validade dessa família ainda mais diferente?

Sei que defender o que os fundamentalistas chamariam de “normalidade de Sodoma e Gomorra” beira ao absurdo, afinal, se já é difícil ~aceitarem~ o casamento entre duas pessoas só porque têm o mesmo sexo, imaginem a guerra que não seria querer que os cartórios celebrassem o casamento de três, quatro ou mais indivíduos na mesma relação? Só me incomoda a padronização, a higienização. Qualquer vivência, desde que saudável, deve ser legitimada, independente de quantas pessoas e quais sentimentos (ou a falta deles) estejam envolvidos.

Enfim, há outras tantas baboseiras que eu poderia dizer. É estratégico colocar todo mundo no mesmo saco, padronizar as necessidade para se conseguir acesso a direitos legítimos, mas não podemos transformar essa padronização em nada além que estratégia de luta. Só acho que diversidade sexual está além dos rótulos hétero, homo e bissexualidade. Como disse, se for saudável e de livre e espontânea vontade, que mal tem? Deve ser ótimo ser santa, mas também não há nada de errado em ser puta.