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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Só o que interessa

A foto é do blog PASSANDO NA HORA.COM

Contardo Calligaris em seu texto "A marcha dos pinguins e a origem da moral" diz que a moral não surge de forma natural, como na benevolência dos animais sugerida por muitos pensadores, mas da capacidade do ser humano de se colocar no lugar do semelhante, e fazer com que as experiências do outro enriqueça a sua.

Bem, vamos ao que interessa:


Caio Castro não foi a primeira personalidade a proferir alguma declaração idiota sobre homossexualidade. Eu realmente não acho que ele tenha sido homofóbico, embora haja, sim, preconceito na sua frase, pois quando se prefere algo se pretere outro e se preferimos um é porque que ele é melhor, logo, o outro deve ser inferior. Simples. Ele é um cara de 22 anos. Então, está mais para um jovem imbecil que sai falando e fazendo merda por aí. Todo mundo conhece pelo menos um do tipo, às vezes, faz parte da nossa própria família.


- Estou me sentindo abalado. Gestos como aquele não podem se repetir no Acre e no Brasil, disse o deputado Ney Amorim (PT/AC).

Vamos lembrar alguns gestos que se repetem todos os dias no Brasil, Excelências?

Um pouco mais de tempo e pesquisa, poderia pôr aqui um link diferente de alguma notícia de violência de todo tipo cometidas contra LGBTs no Brasil que tenham sido publicadas em cada um dos últimos 30 dias deste mês.

O fato é que enquanto deputados acreanos vociferam contra uma simulação de sexo oral feita por um gay em um pênis de borracha, todos os dias, em todo o Brasil, incluindo o Acre, homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais são agredidos, violentados, assassinados, humilhados, tolhidos dos mais diversos direitos. Evocam a moral para atacar o casal que protagonizou essa "agressão à família brasileira". Que moral é essa que se choca mais com um ato obceno que com a morte de pessoas por puro preconceito.

Pior, o ato inconsequente, que eu classifico como banal, de uma pessoa para criminalizar toda uma comunidade. Eu realmente acredito que as Paradas Gays perderam muito, nos últimos anos, a sua proposta política inicial, mas o mesmo ocorreu com manifestações realizdas por diversos outros segmentos sociais. Nada mais natural. Se a sociedade mudou, claro que a forma de organização, reinvidicação, manifestação sofrerá os reflexos dessa mudança, mas isso não desqualifica a marcha.

Toda essa ofensa só por que alguém decidiu chupar um pau de borracha? Senhores, todos os anos, milhões de brasileiros se reúnem durante uma semana para a maior festa nacional, o Carnaval. De sexta a terça-feira, o que não faltam são pessoas peladas e ou andando pelas ruas com objetos obcenos. Por que a família não se sente ofendida? Por acaso a permissividade está liberada durante os dias de Momo? Dois pesos, duas medidas, é essa a moral que os ofendidos tanto gostam de vociferar? Será se não existem problemas mais urgentes, ou de fato, para serem discutidos pela bancada acreana?


Enfim, tuso isso é só para nós nos perguntemos o que realmente nos interessa? A babaquice de um cara qualquer que sai comendo toda mulher que dá mole para ele só para não ter "fama de viado"? A inconsequencia de um cara mais animado na Parada Gay que achou por bem fazer uma "gravação fake"? Ou evitar que nossos diretos continuem sendo tolhidos?

Não há problema em se revoltar contra os Caios Castros da vida. O foda é que para muitos de nós, o sentimento de revolta só aparece quando o artista dos quais somos fãs falam alguma merda como essa. Hoje mesmo ouvi que "o Caio Castro é tão bonito que nem me importo com o que ele disse". Puta que pariu! O mundo não vai acabar por causa do que ele disse, fato, mas também não podemos relevar. Toda forma de preconceito precisa ser combatida, por menor que seja ela.

Com relação aos deputados 'fundamentalisto-religiosos-acreanos' o que se tem que fazer é combater essa tendência teocrata que o Brasil vive desde 2010. Eles só fazem o que fazem porque têm poder para isso. Poder (voto) este, dado por muitos LGBTs, inclusive, que colocam a questão social abaixo da partidária. Se demos munição para o bandido, é claro que ele vai nos agredir.

Então, aproveitando que está todo mundo revoltado por causa do Caio Castro, vamos usar o ensejo de mais essa demonstração do que será o futuro teocrata brasileiro e investir alguns desses minutos que gastamos todos os dias lendo fofocas sobre quem está ou querendo sair do armário entre o elenco de Amanhecer e votar contra a PEC da Teocracia. Reforcemos e insistamos cada vez mais na criminalização da homofobia, pelo direito ao casamento civil, à adoção.

Para os que não são preconceitusos, mas... façam, sim, uso da moral, mas não esqueçam que ela e a ética são irmãs siamesas.

Somos nós que temos que dar o exemplo e mostrar a eles o que realmente nos interessa. Revolução acrítica pode ser tudo, menos revolução de fato.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vivemos em uma democracia?

Essa frase, acerca do que é dito sobre gays, foi dita por um conhecido meu que é mais um dos que não tem preconceito, mas...

 

“O Brasil é democracia. Nós podemos falar o que bem entender.”

 

Já escrevi e recomendei inúmeros textos sobre essa questão, mas não custa lembrar, já que as pessoas se recusam a entender o óbvio.

Não! NINGUÉM pode dizer o que bem entender só porque vivemos em uma democracia. Até por que nossa democracia me parece muito mais “unocrata” que democrata. Toda vez que alguém levanta a voz para ofender ou propagar desinformações sobre gays, são poucos os que se opõem, mas basta um único gay se opor a esse tipo de comportamento que não faltam vozes para sufocá-lo.

Dizem que ele (eu, você, nós, gays) gosta de se vitimizar, que quer tratamento privilegiado “só porque é viado”, que quer submeter os outros ao seu “estilo de vida”, que somos radicais, pois não aceitamos nem “uma piadinha inocente” e uma série de outros argumentos vazios de qualquer fundamentação.

Então, baseados no seu sagrado direito de “falarem o que quiser”, já que estamos em uma democracia e temos o direito à liberdade de expressão, milhares de homofóbicos gastam seu tempo e energia falando “bobagens” sobre gays, sobre ser gay, ajudando a reforçar a idéia de que somos promíscuos, que só vivemos pelo sexo, que somos inferiores, afinal, quando ofendemos alguém é porque queremos preteri-lo e eu NUNCA ouvi ninguém chamar outra pessoa de “viado”, “boiloa”, “bicha” e afins em tom elogioso.

Permitam-me explicar-lhes uma coisa. Não importa se você tem vários amigos gays e não tem nada contra gays, MAS prefere que seu filho não o seja ou não gosta de ver dois homens ou duas mulheres se beijando, pois você é um homofóbico. Não existe meio-preconceito ou preconceito em maior ou menor grau. Preconceito é preconceito, apenas. E se você tem alguma restrição com relação a homossexuais você é SIM preconceituoso e, consequentemente, homofóbico. Seria o mesmo que eu dizer que nada tenho contra negros, mas preferir que eles não dividam o elevador social comigo como já vi diversas vezes nos condomínios da minha moderna São Luís do Maranhão.

Quer alguns exemplos da nossa democracia? Bem, em novembro de 2008, grávida de 7 meses, Claudia Leitte, e seu marido, falaram o seguinte à uma revista de celebridades: “Eu adoro gays, mas prefiro que meu filho seja macho”, afirmou a cantora. “Deus me livre, ele será bem criado”, completou o empresário Márcio Pedreira, marido da cantora.

Oras, se você não tem nada contra gays qual o problema de seu filho ser mais um? E desde quando ser gay é sinônimo de má-criação? Eu fui muitíssimo bem criado. Recebi a melhor educação que meus pais puderam pagar, sempre fui um dos melhores alunos da turma e durante anos fui o modelo de filho que TODAS as amigas da minha mãe desejavam e sou gay. Eu nasci gay e não há nada que pudesse mudar isso.

Se uma mãe dissesse que preferia que seu filho fosse hétero por não querer que ele sofresse tanto preconceito e privação, eu juro que entenderia. Eu sei o que passo. A dor e o sofrimento são quase mortais em dados momentos e que mãe quer que seu filho sofra? Mas a questão é que a maioria delas não quer um filho gay por vergonha, por preconceito.

Mais recentemente Reinaldo Gianechinni, também em uma entrevista, quando perguntado sobre o que pensa acerca dos comentários de que é gay disse: "Se você for ler tudo o que falam de PORCARIA a seu respeito, realmente é deprimente. Em um site de notícias sobre celebridade essa declaração do ator é antecedida pela seguinte frase da jornalista responsável pelo texto na internet: “Mesmo sendo frequentemente visto com mulheres bonitas, o galã ainda é tachado pelas MÁS LÍNGUAS como gay.” Quer dizer que ser gay é uma porcaria e que esse tipo de especulação é algo negativo feito pelas más línguas, isto é, por pessoas desonestas e que querem prejudicar outrem?

Esses são apenas dois exemplos insignificantes perto dos absurdos que políticos falam em seus discursos. Como o deputado federal, Jair Bolsonaro (PP/RJ), que disse ser a favor de palmadas para o filho deixar de ser gay e depois destilou críticas ao Kit de Combate à Homofobia nas escolas: “Atenção, pais de alunos de 7, 8, 9 e 10 anos, da rede pública: no ano que vem, seus filhos vão receber na escola um kit intitulado Combate à Homofobia. Na verdade, é um estímulo ao homossexualismo, à promiscuidade”, afirmou.

Há ainda líderes religiosos como Silas Malafaia, da Assembléia de Deus, que espalhou outdoors homofóbicos no Rio de Janeiro e comparou a homossexualidade, a zoofilia em rede nacional. Ou reverendo Augusto Nicodemus que atacou o projeto de lei que criminaliza a discriminação por orientação sexual, PLC 122, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E o que falar do General do exército brasileiro que disse que homossexuais deveriam procurar outro ramo de atividade que não o exército? Fernanda Young terá exibida, na Globo, em 2011, uma série de comédia sobre um ex-gay. Oi?

Enfim, a lista de exemplos de pessoas, programas, piadas, declarações desse tipo seria suficiente para alimentar este blog por anos. Citei apenas alguns para que você, caro leitor, compreenda a dimensão de tudo que é, erroneamente ou propositadamente, dito todos os dias sobre gays. E o que todas essas pessoas tem em comum? O acesso fácil à mídia e o trânsito livre entre a população.

Por que sim, o que dizem é tido como verdade pela maioria dos fãs, partidários, correligionários, eleitores dessas pessoas. Por que é engraçado fazer piadas sobre gays? Por que é democrático alimentar o preconceito e a discriminação? As pessoas não compreendem que essas "pequenas" afirmações incutem conceitos terríveis na cabeça das pessoas. Que os jovens desse pais vão crescer repetindo as mesmas piadas infelizes, as mesmas agressões desumanas que seus ídolos de hoje e que assim NADA vai mudar, que nossa sociedade NUNCA vai evoluir.

A razão dessas linhas, talvez desconexas, é a quantidade de absurdo que tenho ouvido e lido nas últimas semanas pelas quais tentei não me revoltar, mas a gente cansa, não é? Não é simples revolta ou melindre, é a sensação de ser desrespeitado todos os dias da hora em que acordo a hora em que vou dormir, pois mesmo quando não dizem para mim, dizem para outro gay e eu me sinto tocado, afinal, amanhã o gay ofendido pode ser eu.

A verdade é que democracia é um direito que todos defendem, poucos conhecem e quase ninguém pratica.