sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Maranhão: Secretaria de Segurança Pública define estratégias de combate a crimes homofóbicos



Visando garantir atendimento mais especifico à população LGBT nos distritos policiais de todo o Maranhão, a delegada geral de Polícia Civil, Cristina Resende, assinou uma portaria na qual disciplina esse tipo de atendimento. No documento, a delegada geral determina que em cada ocorrência constem o nome social da vítima e o teor do crime. O documento entra em vigor a partir da publicação no Diário Oficial do Estado.

A delegada lembrou que desde o final do primeiro semestre de 2012, todos os distritos da capital e os das cidades de Imperatriz, Açailândia e Balsas já contam com o Sistema Integrado de Gestão Operacional (Sigo). Com ele, todos os dados são informatizados o que permite um registro mais específico na suposta motivação de cada crime. Segundo ela, o profissional do Sistema de Segurança ao registrar o Boletim de Ocorrência (BO) já indicará, com base no depoimento da vítima, se o crime tem relação com a homofobia.

A delegacia geral já treinou desde o semestre passado, os escrivães, investigadores e delegados para utilizar o Sigo. Além disso, em conjunto com a Academia Integrada de Segurança Pública (AISP) será programado um aumento na carga horária das capacitações voltadas para esta temática. “Estamos atendendo uma reivindicação do próprio segmento. Com a motivação tida como sendo por homofobia, as investigações poderão chegar de uma maneira mais rápida a autoria desses crimes. Além disso, estamos aqui efetivando uma política de Direitos Humanos”, ressaltou Cristina Resende.

Com a nomenclatura específica, as estratégias de Segurança poderão ser melhores direcionadas. “Alguns casos complexos precisam de um tratamento diferenciado e isso já precisa vim mostrado desde o registro do B.O. Não permitiremos que nenhum crime contra a pessoa humana, seja ele, de gênero, credo, ou qualquer outro tipo de discriminação fique sem ser investigado”, afirmou o delegado Sebastião Uchoa.

Segundo Antônio Ferreira, um dos representantes do Grupo Gayvota, a medida da Polícia Civil contribuirá para um reconhecimento ainda maior dentro da sociedade. “A portaria é um avanço para o movimento no que diz respeito a efetivação de Políticas Púbicas de combate a Homofobia no Maranhão. O ganho não será apenas para o segmento LGBT, todos os outros que também são vulneráveis passarão a ter o tratamento adequado”,analisou Antonio Ferreira do Grupo Gayvota.

Para o superintendente de Polícia Civil da Capital, delegado Sebastião Uchoa, a portaria é uma ação em respeito a cidadania plena, onde toda sociedade vai ganhar. “Não iremos permitir que nenhum tipo de crime contra pessoa humana aconteça seja ele no gênero étnico, credo e outros. O superintendente lembrou que 90 % dos crimes relacionados ao grupo LGBT foram solucionados. Ele disse, ainda, que nos oito homicídios ocorridos na Avenida Guajajaras os autores foram identificados.

Uma nova reunião ficou agendada para o primeiro semestre de março. O intuito é unir esforços com a Defensoria Pública e com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Cidadania (Sedihc) e traçar estratégias conjuntas de enfrentamento desta problemática social.

Na assinatura, representantes de diversos grupos LGBT aprovaram a iniciativa da Polícia Civil. A portaria é resultado de diversas reuniões promovidas entre o grupo LGBT e a Superintendência de Polícia Civil da Capital (SPCC). Estiveram presentes ainda no ato, o superintendente de Polícia Civil da Capital, delegado Sebastião Uchoa; Antônio Ferreira, do Grupo Gayvota e, ainda representantes do Solidário Lilás e do Fórum de ONGs LGBT Estadual.

Fonte: Secretaria de Estado da Comunicação

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Vencidos pelo cansaço



“Aquilo que o público realmente abomina na homossexualidade não é a coisa em si, mas o fato de ser obrigado a pensar nela.”

E. M. Forster


Pois é. Nós, gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais existimos. Não se sabe ao certo como, quando ou porquê (se é que há uma razão específica) nós nos diferenciamos do restante da humanidade, mas o fato inegável, indiscutível e imutável é que nós existimos. E, sendo assim, temos direito a um lugar ao sol nesta imensidão que é o mundo.
Por muitos e muitos anos nos foi reservado a margem da sociedade. Ser LGBTT só era possível longe dos olhos de todos. Trancado no meu armário eu poderia ser quem bem entendesse, mas em público tínhamos que seguir as regras da sociedade.
Falando assim parece que a realidade mudou, mas nem tanto. Ao passo que cada vez mais gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais se sentem encorajados a deixarem seus armários, e alguns, dessa novíssima geração, sequer chegam a entrar nele, um outro grupo de pessoas cresce no lado oposto querendo nos manter no gueto. Aumentou o número de homofóbicos? Decerto que não, mas cresceu a necessidade de manter o status quo, afinal, quem poderia imaginar que algum dia nós poderíamos adotar crianças e trocar alianças como se fossemos pessoas normais?
Na mente dos donos da bola, nós éramos um incômodo controlado. Todo mundo sabia da nossa existência, alguns até eram nossos amigos, mas nós sabíamos o nosso lugar no mundo. Agora ficamos descontrolados. Lotamos audiências no Congresso Nacional protestando contra pessoas que só querem nos ajudar a ficarmos curados sabe-se lá do quê, nos reunimos em beijaços públicos na porta de lanchonetes que não deixam que nos beijemos tranquilamente, insistimos nessa chatice de transformar em criminosos gente que prefere externar, com socos e pontapés, que não gostam do que fazemos com nossos cus, paus e bocetas, entre tantas outras coisas.
Mas não é só isso. Na verdade, esse mundo está cada vez mais virado. Agora mulheres vão para as ruas reivindicando o direito de serem vadias. Negros precisam ter sua história estudada nas escolas públicas e o nome de Deus e suas representações não mais toleradas em repartições do Estado. Não é mesmo um absurdo tirarem o Seu bom nome das cédulas de Real?
Pois é. Que dias são estes que estamos vivendo? Onde vamos parar? O que deu em nós, viados, vadias, travecos, pretos, filhos de Satanás e tantos outros que passamos todo esse tempo vivendo em paz com Brunos, Diegos, Lobos e Malafaias, sem reclamar dos tapinhas e das piadas, para que provoquemos toda essa barulheira?
Todos os dias, pela manhã, eu cumpro o mesmo ritual. Saio de casa por volta das 7h para ir trabalhar. Pego ônibus sempre no mesmo ponto, que fica logo após a travessia de uma avenida, a 200 ou 300 metros da minha casa. E pelo menos uma vez por semana alguém que passa encastelado em seu carro ri e aponta de mim fazendo alguma piadinha com o fato de eu ser gay. Eu sou pintosa, daí sabem como é, néam? Basta me olhar para dizer “esse é viado”. Eu mal tenho tempo de esboçar qualquer reação.
Na maioria das vezes eu ignoro, afinal o cara passou de carro e não há nada que eu possa fazer, pois segundo depois de gritar um “Ê, bicha”, ele já vai longe do ponto de ônibus, mas algumas vezes, quando estou cansado demais e o engarrafamento está mais lento eu mostro o dedo do meio. Pois é, acho que todos nós, os Andrés segregados deste imenso Brasil estamos cansados demais para abaixar a cabeça e seguirmos nosso caminho.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Despedida

O cortejo seguiu solitário noite adentro, chuva abaixo
O próprio morto levava seu caixão
Era sua morada derradeira
Diante da cova jogou oferendas, um coração sangrando
Saudades e arrependimento e
Jogando a última pá de cal, deu as costas e partiu

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um breve conto de amor

Ficaram um longo tempo abraçados. Tanto tempo que nem coseguiam contar. Parecia a vida toda.
- Por que você está chorando, perguntou um.
- É que eu te amo, respondeu o outro.
De repente, um tiro.
- O que você fez?
- Estou matando você.
- Por quê, se me ama?
- Por isso mesmo. Eu tenho te amado todo esse tempo, mas estamos em pistas opostas. Juro, eu tentei de toda forma entrar na mesma rota que você, te amar diferente, mas não consigo. Estou matando você aqui fora porque não consegui te matar dentro de mim
E assim morreram os dois: um de sangrar, o outro, de amar.