Há quase três
anos eu desenvolvo, ainda que de forma tímida, um trabalho de militância LGBT
independente de quaisquer entidades, organizações e partidos políticos. Tudo é
feito aqui no blog e nos meus perfis nas redes sociais. Além dos textos que
posto aqui e dos comentários que faço no Twitter e no Facebook, eu leio o que
posso sobre a questão LGBT no país e no restante do mundo e como é duro
constatar que o Brasil, entre os países ocidentais, ainda tem um longo caminho
pela frente.
Não dá para negar
que fizemos muitos avanços nesses pouco mais de 30 anos em que o movimento LGBT
brasileiro tomou corpo de fato. O Somos, primeiro grupo em defesa dos
direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros brasileiros foi fundado em 1978 e de
lá para cá tivemos desde a retirada do “homossexualismo” da classificação de
doenças pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) até o reconhecimento davalidade das uniões estáveis homoafetivas pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
no dia 5 de maio do ano passado. Apesar disso, o Brasil ainda está na lanterna
no que concerne à concessão de direitos à população LGBT. Alguns dos nossos
vizinhos, como Argentina e Chile possuem legislações mais avançadas que a nossano que diz respeito aos cidadãos homossexuais, bissexuais e transgêneros.
O motivo? Principalmente
a falta de compromisso do Governo Federal com esta parcela da população que,
declaradamente, segundo último censo, soma mais de 19 milhões de brasileiros,
além de um Congresso Nacional praticamente arrendado à mesquinhez do
conservadorismo. O Movimento LGBT no país se partidarizou de tal forma que estáse enforcando. As entidades oficiais, que deveriam representar e defender as
demandas da população LGBT estão fazendo o papel inverso e se tornando
porta-voz do Governo. É preciso repensar urgentemente o movimento no Brasil sob
pena de estancarmos ou darmos passos para trás na busca pelos nossos direitos.
O Movimento LGBT
cresceu, mas ao mesmo tempo ele está disperso. Como sabemos, há muitos
interesses em jogo e é gritante que os partidários (e eu afirmaria até mesmo financeiros)
estão falando mais alto, por isso, me pergunto se não é hora também de
incluirmos na nossa agenda demandas como a reforma política, ainda que seja nos
aliando cada vez mais com outros grupos sociais e políticos cujos interesses
convirjam para o mesmo fim. Quantos desses fundamentaloucos teocratas que estão
atravancando não só os nossos direitos se elegeram por que de fato tiveram um
número de votos significativo ou por que suas legendas foram infladas pela ondaconservadora que anda tomando conta do país e que estará ainda mais fortalecida
em 2014? Acredito sim que as próximas eleições majoritárias vão
consolidar todo o cenário que está sendo desenhado atualmente, mas acredito também que ainda
podemos mudar este cenários nesse pouco mais de um ano e meio restante.
Mas hoje, neste 17 de maio, dia em que é
celebrado mundialmente o combate à homofobia, não quero falar dos direitos que
ainda nos são negados ou da inoperância governista. Hoje eu quero falar daquilo que nós podemos fazer para fortalecer a luta e garantir o exercício dos nossos direitos. não há leis que nos proíbam de sermos homossexuais, de casarmos, adotarmos crianças entre tantas outras coisas, portanto, partindo do pressuposto de que se não é negado, permitido está, nossos direitos estão aí. O que nos faltam são instrumentos que permitam exercê-los em sua plenitude.
Somos nós que
sabemos quais as nossas reais necessidades enquanto cidadãos. Eu, por exemplo,
só queria não ter que entrar com um processo judicial para poder me casar. Nós
é que somos convidados a nos retirar dos lugares pelo nosso comportamento
inadequado. Eu também acho um absurdo namorad@s se beijarem na fila do Bob’s.
Nós é que temos camarote VIP no inferno. Quem mandou se deitar com outro homem
como se fosse uma mulher? Nós é que levamos na bolsa as fluorescentes
com as quais apanhamos nas ruas. Para a maioria dos homofóbicos, nós, gays, bissexuais, travestis e transexuais gostamos de nos vitimizar e, por isso, queremos privilégios.
Certo, mas se
nós sabemos muito bem tudo isso, o que temos feito para mudar a realidade? Sim,
eu estou defendendo que não basta ser gay, tem que participar. E não é preciso
colocar um banner com as cores do arco-íris no seu perfil no Facebook ou empunhar uma bandeira com as cores do arco-íris e ir às ruas. Basta sair
de cabeça erguida na rua não dissimulando qualquer comportamento. Seja você,
sendo chamado de bichinha ou admirado pela sua coragem se assumir um
relacionamento homoafetivo. Eu acredito que sair do armário é o maior ato político que um LGBT pode fazer por si, pelos seus iguais.
Independente do
que ocorra, coloque a sua demanda na linha de frente. Não é seu partido
político, sua família ou sua cantora preferida que tem que dizer qual a sua
dificuldade, mas você, nós. Sem pontes. É a base chegando direto ao teto. Sou eu,
mais um viadinho entre tantos mostrando à Presidência da República que eu
continuo sendo tratado como mais um viadinho entre tantos enquanto quem em
discrimina continua se sentido à vontade e forte o suficiente para esconder
debaixo das minhas unhas as lascas de pele que ele arrancou de mim.
O Movimento LGBT
não é, nem deve ser feito apenas por ONGs, entidades, grupos, partidos,
campanhas, canções. Estes são fortes e ajudam sempre que fazem da demanda da população LGBT a sua bandeira de luta. No entanto, nossa luta tem que ser
feita, sobretudo nas ruas, diariamente, por maiores que sejam as dificuldades. Sempre
haverá um LGBT sofrendo discriminação, mas por outro lado também sempre haverá
outro lutando pelos direitos dos dois. Enquanto houver um, a luta continua, em
todos os sentidos.
1 comentários:
É isso aí =]
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