Durante
todo o dia de ontem, Brasília foi palco eventos alusivos ao Dia Internacional
de Combate à Homofobia, 17 de maio. Nesse dia, em 1990, a Assembleia Geral da
Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou e oficializou a retirada do Código
302.0 (Homossexualismo) da CID (Classificação Internacional de Doenças), e
declarou oficialmente que a homossexualidade não constitui doença, nem
distúrbio. Por isso, ontem, a capital federal recebeu o 9º Seminário nacional
LGBT e um seminário para discutir o PLC 122, projeto de lei que criminaliza a
homofobia.
Com
um nível de discussões muito bons, debates produtivos e pertinentes, o 9ºSeminário LGBT teve como lema “Respeito à Diversidade se Aprende na Infância” e
debateu, com a sociedade civil organizada e o governo federal, a questão do
bullying e da violência doméstica sofridos por crianças e adolescentes LGBTs em todo o país.
O
encontro foi proposto pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), coordenador da
Frente Mista pela Cidadania LGBT na Câmara. Ele destacou que a violência contra LGBTs, que inclui casos diários de assassinatos, tem origem na infância e criticou o Governo federal por suspender o Programa Escola Sem Homofobia, que previa, entre outros pontos, a distribuição nas escolas de
todo o País de um kit sobre questões de gênero e sexualidade. Ele deu ainda
depoimento pessoal sobre sua infância em Alagoinhas, no interior da Bahia,
sobre a violência física e psicológica que sofreu, inclusive por parte de
familiares, por não se identificar com “coisas de menino”.
A
deputada Erika Kokay (PT-DF), representante da Comissão de Direitos Humanos, disse que a discussão de gênero deve estar presente nas políticas públicas de educação e que a criança e o adolescente devem ter suas “expressões
de gênero” respeitadas, especialmente no ambiente da escola. A deputada
Teresa Surita (PMDB-RR), integrante da Frente Parlamentar Mista de Direitos
Humanos da Criança e do Adolescente, ressaltou que as crianças têm sexualidade
desde que nascem e precisam ser orientadas.
Obviamente,
vozes contrárias também ecoaram pelo seminário. Foi o caso do pastor-deputado
Ronaldo Fonseca (PR-DF), que disputa com o também pastor-deputado Marco
Feliciano (PSC-RJ) o título de principal defensor ‘THE FAMILIA’. Fonseca
defendeu que as crianças devem ser educadas pelos pais e entre as pérolas
proferias pelo parlamentar divino, está que “o evangélico não concorda com a
prática homossexual, mas isso não significa homofobia”.
Apesar
das patacoadas dos fundamentaloucos, o seminário prosseguiu com debates muito
bem balizados sobre bullying homofóbico e suas consequências na vida das
vítimas como o baixo desempenho escolar e a discriminação de LGBTs pelos jovens brasileiros.
Outra
discussão que chamou atenção da militância pró e contra-LGBTs no país foi a
sobre o Projeto de Lei da Câmara 122, que criminaliza a homofobia. Promovido
pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) e a ABGLT, o evento, denominado
“Diferentes, mas iguais”, propunha sensibilizar senadores e a sociedade civil
sobre o agravamento da violência homofóbica no Brasil e a necessidade de
aprovação do projeto de lei, mas o que se viu foi mais um teatro armando pela
dobradinha Marta Suplicy –Toni Reis para manter o tema em discussão sem dar andamento concreto ao assunto.
O
evento liderado por Marta Suplicy foi proposto há um mês e sem o conhecimento
prévio da Frente LGBT no Congresso nacional da qual a senadora faz parte e
parece querer ser a representante absoluta. Com um discurso político-eleitoral,
a senadora defendeu que para ser aprovado o PLC 122 precisa do apoio da sociedade brasileira cuja pressão poderia levar a presidenta Dilma Rousseff a
adotar um posicionamento favorável ao tema. Para a senadora, a sociedade já
está sensível à questão, mas os parlamentares ainda temem desagradar os
eleitores votando favoravelmente ao projeto.
Relatora
do PLC 122, a senadora sinalizou, durante o seminário que discutiu o projeto de
lei, que a votação da proposta no Senado deve ficar para o ano que vem.
Em 2011, ela colocou por duas vezes a proposta em votação na Comissão de
Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), mas nas duas ocasiões o
projeto foi retirado de pauta em meio a polêmica entre parlamentares contrários
e favoráveis. Na última tentativa, dia 8 de dezembro, a senadora apresentou um
substitutivo que permitiria “manifestação pacífica contrária à
homossexualidade”, buscando um acordo com os grupos religiosos contrários ao
projeto, mas a militância LGBT se posicionou contra a proposta porque, pelo
projeto, a homofobia não seria mais equivalente ao racismo, mas se tornaria um
tipo penal comum.
Agora
a parlamentar pretende colocar novamente em pauta o texto do projeto de autoriada ex-senadora Fátima Cleide, que foi relatora da matéria até o início de 2011,
quando terminou seu mandato. O texto que ela defendia era uma versão modificada
do projeto apresentado dez anos antes pela ex-deputada federal Iara Bernardi.
Marta Suplicy, que assumiu o cargo de senadora em 2011, substituiu Fátima
Cleide na relatoria da matéria e fez outras modificações, visando obter um
acordo com os parlamentares que se opõem à proposta. O texto é defendido pelamaioria da militância por ser considerado o que melhor atende às reinvindicaçõesda população LGBT no país.
Ao
que parece, a senadora continua fazendo uso eleitoreiro da causa LBGT. Quanto ao
PLC 122, a intenção está mais para manter o tema em discussão, para angariar
votos entre a militância partidária, que para aprovar definitivamente o projeto.
Pelas falas de Marta Suplicy durante os debates, parte da militância LGBT
acredita que o projeto não deve entrar em pauta até o fim deste ano, mas ser
empurrado com a barriga até 2014, quando acaba o prazo para que ele seja votado
e culmine com seu arquivamento definitivo no Senado.
A
senadora, que não apoia a PEC pelo Casamento Civil Igualitário, proposta pelo
deputado Jean Willys, comentou ainda sobre a declaração do presidente dos EUA,
Barack Obama, a favor do casamento homoafetivo. Segundo ela, as declarações dopresidente americano fortalecem o debate no Brasil.
Hoje,
militantes LGBTs, simpatizantes e políticos aliados à causa marcham pela
Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes, reivindicando políticas
públicas contra a homofobia no país. A 3ª Marcha Nacional Contra a Homofobia
terá como tema “Homofobia tem cura: educação e criminalização” e sairá da
frente do Palácio do Planalto, com concentração a partir das 8h30. Os
militantes sugerem que quem não puder estar presente à marcha contribua com ela
através de um “twitaço” com a hashtag #ocupaplanalto durante a caminhada em
Brasília, chamando a atenção nacional para o evento.
Fontes: Gay1, PLC 122 Site Oficial, Eleições Hoje, Portal de Notícias Senado, @MarkosOliveira, @mkGerald, @delucca
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