Há um mês, mais ou menos, não publico nada aqui e apesar disso, ganho novos seguidores e o número de visitas ultrapassou 10 mil, 500 delas neste período de seca. Sendo assim me sinto obrigado a postar algo, embora não saiba exatamente o que quero lhes dizer hoje. Apenas sei que preciso fazê-lo.
Mas essa necessidade está muito além de manter o público. Ela vem do fato de justamente neste último mês ter conversado com alguns amigos meus que estão passando por momentos de muitas dúvidas e questionamentos tentando decidir coisas que eles mesmos não sabem se querem ou se estão prontos.
São longas conversas pelo MSN, pelo celular, pessoalmente, numa tarde qualquer ou tarde da noite. No começo delas uma mesma frase: “eu quero contar pros meus pais que sou gay”. Outros não falam comigo sobre, mas eu os vejo muito além do sorriso no rosto ou da cara amarrada. E isso tudo me fez lembrar tudo que vivi entre 2006 e 2009 quando o mesmo pensamento me vinha à cabeça, mas diferente deles, eu não tinha com quem falar.
Eu me sentia perdido, sozinho e carregando muito mais dúvidas que respostas e hoje vejo eles passando pelo mesmo e sinto como se fosse comigo e mesmo sabendo que não há grandes coisas que eu possa fazer, gostaria que eles soubessem que não estão sozinhos e que de alguma forma estou ao lado deles.
Quando nossa ficha cai e temos a certeza que somos gays, começamos a nadar contra a maré. A travar uma luta de Titãs. Somos nós (sozinhos) contra todas as angústias, medos, auto-preconceitos, alguns sentem raiva de si e quase sempre a estação de chegada dessa longa viável até a auto-aceitação é a solidão, o isolamento e na sua pior forma: experimentamos a cela da nossa mente.
Vivemos dentro de nós o que não temos coragem de viver no mundo até que decidimos abrir os portões, correr e assumir, sair do armário, enfim, mas essa parte é ainda mais assustadora que a primeira, afinal, como ter certeza que aquelas pessoas com as quais convivemos nossa vida toda continuarão ali quando souberem quem realmente somos, ou melhor, quando se virem obrigadas a encarar quem realmente somos?
Como ter a certeza que não seremos agredidos, expulsos, que não tentarão nos convencer que estamos confusos ou que não terão a certeza que somos apenas mais um dentre tantos outros sem vergonhas?
Não tem como saber tudo isso até dizer as tão temidas palavras: “eu sou gay”. Eu as disse tem um tempo e as coisas ainda não ficaram bem, mas aprendemos a viver ou nos adaptamos. Quando eu disse "mãe, eu sou gay" meus pés ficaram sem chão, mas eu já sabia que seria assim.
Não sei se me fiz entender ou se escrevi um texto com alguma coerência. Como disse me senti obrigado a fazer isso em nome de todos os meus amigos que convivem diariamente com esse monstro embaixo do colchão e que não sabem como livrar-se dele e que buscam somente, nesse primeiro momento, alguém com quem dividir essa angústia.
Um desses amigos abriu as portas ontem e quase me fez mandá-lo embarcar-se via Sedex para minha casa, tamanha a minha aflição. Mas por sorte, ele tem amigos bem mais eficientes que eu, né @LilahLeitora? Agora ele está rearrumando o armário. Esse texto vai especialmente para ele, mas também para os meus outros amigos que estão à beira do caminho e todos os que se sentirem tocados.
4 comentários:
Oi querido!
Coração grande é assim mesmo, sempre cabe mais um! E vc tá aí, com o coração aberto e imenso! Parabéns!
Também acolhi, agora a pouco, mesmo que recentemente, mesmo que de longe, seu amigo. Lanço energias positivas para ele e para todos nós, que encontremos menos pedras nos nossos caminhos, não é?
Bjs
Quem te enganou que eu tenho respostas? Tenho não...só mais perguntas.
Bem ou mal estamos aqui, sempre. Bjim thiamu.
Que bom ele tem muitos amigos pra ajudar, assim não acabará na rua =). Por conta de famílias inflexíveis muitos homoafetivos acabam caindo na marginalidade =(.
Joooock... Como sempre um grande amigo, que acolhe a todos sem pensar duas vezes... É sempre bom ter um amigo em quem confiar e acreditar. Espero que todas as pessoas, que passaram, passam ou ainda vão passar por tal situação, tenham um amigo, assim, como você pra contar. Abraço, amigo! Amo-te! Sempre! Rodrygo!
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