Antes, um breve testemunho:
Quando eu assumi que sou gay há 2 anos, a minha melhor amiga até então, a quem conhecia há mais de 5 anos e tinha como uma irmã me disse: "Jock, eu conheço pessoas na minha Igreja que podem te ajudar. Lá tem muita gente que ficou curada!". A amizade segue até hoje, mas ela não é mais a minha melhor amiga.
Esse texto rondava minha cabeça desde que o blog ficou colorido, mas nunca me pus a escrevê-lo por que não me achava (e continuo) apto a discutir o tema e segundo por que não sabia o tom que gostaria de dar a ele, mas os últimos acontecimentos o moldaram antes mesmo que ele ganhasse o Word. Eu queria falar de religião, mas não conheço o suficiente para tal, então decidi falar sobre religiosidade.
Eu fui um menino católico relativamente atencioso. Fui batizado antes do meu primeiro aniversário. Aos 10 anos já tinha feito a 1ª Eucaristia e aos 15 estava fazendo a Crisma. Com o tempo acabei me afastando da Igreja e hoje transito entre o ateísmo e o agnosticismo e nas horas de tormenta, seja por uma fé recolhida, seja pela força da tradição, recorro a Deus.
Uma das primeiras lições que aprendi no meu período de moço católico é que Deus fez seus filhos segundo sua imagem e semelhança, mas a mim ele fez gay. Não ele não seria desatento justo no meu caso até por que ser gay é pecado, está na Bíblia, então ele não me fez gay, mas me deu o livre arbítrio e eu escolhi ser gay. Pelo menos é isso que milhares dos seus fiéis (per)seguidores usam como justificativa para me achincalhar todos os dias. Então se eu tenho o livre arbítrio por que continuo gay? Por que insisto em querer ser humilhado, ridicularizado, agredido, segregado se basta a mim escolher o caminho certo?
E se Deus de fato fez as pessoas como sua imagem e semelhança, os meus fiéis perseguidores me fazem crer que Deus é na verdade uma figura absurdamente desagradável. Por que as imagens e semelhanças suas que vejo nas ruas são ciumentas, orgulhosas, controladoras, mesquinhas, injustas, intransigentes, genocidas étnicos e sociais, vingativas, sedentas de sangue, perseguidoras implacáveis, misóginas, homofóbicas, racistas, filicidas, megalomaníacas, sadomasoquistas, malévolas, cruéis, vingativas, caprichosas. Por que é essa a imagem de Deus que me vendem, todos os dias, os milhares de terroristas religiosos que tentam relegar os gays ao limbo.
O Deus que eu conheci nas tardes de catequese era de amor, tanto que o Filho, feito a imagem e semelhança do Pai disse amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Então por que eu só conheço o ódio irracional que vem desses fiéis? E foi o mesmo que disse não julgueis para não sede julgado. Sendo assim, por que tenho que ouvir todos os dias que irei para o inferno ou que sou um doente e que represento risco para seus filhos?
Não foi Ele quem ensinou e pregou a abnegação, a humildade, a fraternidade, a prezar pela justiça acima de tudo, a respeitar o semelhante, a exercitar a tolerância, a solidariedade? No entanto o que percebo é o preconceito, a intolerância, a tirania daqueles que se convenceram que preciso de ajuda para sair do pecado e tentam me forçar a freqüentar igrejas para alcançar a graça da cura. O fato é que muitas pessoas se dizem seguidores de Jesus sem dar os primeiros passos de obediência à palavra Dele.
Esse terrorismo religioso que sofremos, e nem estou entrando no mérito das igrejas em si, mas dos seus fies, é justificado pela fé que seria um estado de verdade absoluta e incontestável, mas esse tipo de verdade é, na verdade, fundamentalismo, pois a fé também é racional e eu não percebo racionalidade nos que me ojerizam, só vejo fanatismo.
Fé sem razão não é fé, é fideísmo.
Leia AQUI a inspiração para esse texto. Um relato visceral do @Guhalves.
Leia AQUI um texto maravilhoso sobre o tema da @Lilahleitora que possui o know-hall que eu não possuo para discutir o assunto.
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