segunda-feira, 6 de setembro de 2010

FULLGÁS

"Meu mundo você é quem faz: música, letra e dança.
Tudo em você é fullgás, tudo você é quem lança."
(Marina Lima/Antônio Cícero)

Para mim, um dos álbuns que mais me lembra Marina é o Fullgás. Essa palavra, aliás, é quase como um sinônimo para a cantora em meus textos e conversas entre amigos. Lançado em 1984, ele representou um dos primeiros flertes da cantora com a música eletrônica e deixou ainda mais próxima do pop-rock, estilo que iria se sobressair nos seus dois LPs seguintes, sobretudo o Todas Ao vivo de 1986.

Após lançar o Desta vida, desta arte, Marina rompeu o contrato com Ariola, responsável pelo lançamento dos seus três LPs anteriores ao Fullgás. Para lançar seu novo disco Marina fez contatos com EMI, mas assinou contrato com a PolyGram – hoje Universal Music – em 1983.

Cada vez mais imersa no rock e disposta a dar uma identidade à quase (ainda) inexistente música pop nacional, Marina se cercou de talentos, como o parceiro de longa data Antonio Cícero, o músico Liminha e Lobão. Com a disco music ganhando cada vez mais espaço no cenário musical internacional, a compositora carioca começou a se interessar por bateria eletrônica. E Fullgás, a começar pela sua faixa-título, é todo calcado no instrumento.

Para se ter uma (pequena) idéia sobre como estava a música pop nesse ano, em 1984 Michael Jackson ganhou o recorde de 8 Grammys pelo álbum Thriller, de 1982 e Madonna protagonizou a histórica performance de ‘Like a virgin’, vestida de noiva, durante a primeira edição do MTV Music Awards.

Contando com a produção de João Augusto, Marina se cercou de um time de craques, como, mais uma vez, Lobão, que lhe deu "Me chama" e ainda tocou bateria na gravação da faixa; Lulu Santos, que tocou guitarra e compôs "Mais uma vez", ao lado de Nelson Motta; Nico Rezende, que pilotou os teclados em quase todas as faixas; e Liminha, que tocou baixo e escreveu o sensacional arranjo da canção "Fullgás".

Marina estava em estado de ebulição artística e sentimental quando lançou o LP e deixou isto bem claro com os versos da faixa-título que abre o LP. O próprio termo, um neologismo, traduz esse estado de espírito da cantora, mesclando o termo inglês “Full” – cheio, estado pleno - e “Gás”. Ídolo da cantora, Stevie Wonder, ganha uma versão feita por Cícero para a sua ‘Ordinary pain’, que Marina gravou sob o nome de “Pé na tábua” e sem medo dispara: arranque o freio e o pé na tábua, se jogue a esse amor que veio e mais nada.

Bem resolvida em “Pra sempre e mais um dia” ela canta que ‘a minha vida eu sei que é uma loucura, a vida dele também não fica atrás, mas nosso encontro é o fim de toda procura’ e completa em “Ensaios de amor”: no nosso corpo é que acende a luz. Sozinha no silêncio do seu quarto, procurando a espada do seu salvador ela sentencia que cada um de nós precisa de um homem para chamar de nosso e deu a “Mesmo que seja eu” a mais ampla e liberta interpretação que esta canção poderia ter e tomou para si a música de Erasmo Carlos definitivamente.

Na canção seguinte, um dos maiores clássicos do pop-rock Brasil dos anos 1980 “Me chama” traz uma Marina totalmente confessional e “Mesmo se o vento levou” ela estaria lá para lembrar o quanto gostou de amar. O amor e parceria entre os irmãos “Cícero e Marina” é revelada nos versos maliciosos e deliciosos do Poema Cobra e como que flertando com essa faixa, a seguinte, “Veneno”, que o italiano Polacci compôs como ‘Veleno’ e Nelson Motta verteu para o português, traz o alerta: Não me beije, não, que eu tenho veneno.

E “Mais uma vez” anseia por qualquer coisa verdadeira, forte, instigante, estimulante, fullgás. Fechando o álbum, “Nosso estilo” define bem o pensar de Marina. Para ela o mundo está sempre lento demais.

Para mim o mundo também gira devagar, enquanto estou à frente dele à mil. À medida que fui ouvindo os discos de Marina, este foi o primeiro com o qual me identifiquei da primeira à última faixa que seria difícil escolher apenas uma música, mas tenho agradáveis lembranças relacionadas a cada uma delas. “Fullgás”, por exemplo, me lembra Thamirys e uma certa piada interna. “Mesmo que seja eu”, na interpretação de Marina, foi uma das canções que me vieram como um grito de liberdade. “Pé na tábua” me lembra um desejo imenso sempre frustrado e assim se seguem todas as outras canções do álbum.

Lançado em 1984 o álbum transformou Marina em uma cantora popular, com os hits “Fullgás” e sua inovadora bateria eletrônica – parceria com Cícero, “Mesmo que seja eu” – com uma interpretação que tomou para si a canção e superou a original de Erasmo Carlos e “Me chama”, composição de mestre de Lobão. “Fullgás” “estourou” no país e levou junto Marina, cinco anos depois de sua estréia no mundo da música.

O LP vendeu 90.000 cópias em poucos meses, uma proeza para uma artista até então confinada a pequenas platéias. Em suma, Fullgás foi um divisor de águas na carreira de Marina, que, por sua vez, se tornou presença constante nas rádios a partir de 1983. A qualidade de álbum criou grande expectativa sobre o que poderia ser um novo LP de Marina, assunto do qual trataremos no próximo post.

Continue lendo o Especial Marina Lima e ouça agora algumas canções do Fullgás.

Fullgás (Especial para Thamirys)


Me chama

3 comentários:

Francisco Saldanha disse...

ñ tenho este cd,engraçado consigo gosta mais da Marina dos anos 90...Tó esperando vc falar sobre o Pierrot ,deste cd também tenho histórias para contar...contudo o primeiro cd que me trouxe a Marina foi o Abrigo.

abraço rapaz...

Jock Dean disse...

Francisco, eu adoro esse disco, como disse no texto e "Fullgás" é uma das canções do meu Top10Marina. Eu tbm gosto mais da Marina 90, sobretudo a partir de O chamado. Esses CDs, aliás, são bem mais marcantes para mim, conforme explicarei nos próximos posts, e Pierrot é a cobra do meu paraíso. rs

Continue lendo e comentando. Quero saber suas histórias com o PIerrot. rs

Abraços, meu caro.

Unknown disse...

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