Descobri que gostava de garotos quando tinha 14 anos. Me senti culpado, envergonhado do que era, e foi um longo caminho até a aceitação. Durante algum tempo eu achei que era gay. Mas então, surgiu uma garota na minha vida, uma que eu olhava de modo diferente e me fazia sentir diferente... E então me descobri bissexual.
Não, eu não sou bissexual, mas hoje quero falar desse grupo específico de pessoas por isso começo com o depoimento de um bifóbico.
Não, eu não sou bissexual, mas hoje quero falar desse grupo específico de pessoas por isso começo com o depoimento de um bifóbico.
Bissexualidade. Como pode alguém dizer que se sente atraído tanto por homem quanto por mulher da mesma forma? Isso para mim é insegurança. É coisa de gay que não tem coragem de se assumir e fica com o sexo oposto só para não sofrer com a discriminação por homofobia. A maioria dos bissexuais tem mais relação com o mesmo sexo que com o oposto e ficam nessa indecisão. Covardes!
Tem outra questão também. Ser gay hoje é modinha. Então muitos caras e mulheres só para bancarem os descolados, mente abertas, ficam pagando de bissexuais para mostrarem que são modernas, não tem preconceito. Babaquice! A maioria desses fica com o sexo oposto e quando pega alguém do mesmo sexo é em situações de sexo à três e só o fazem para agradar o parceiro, mas não fazem nada além de algumas carícias ou darem uns beijos, aposto.
Eu sou gay e não tenho medo ou vergonha de assumir quem sou. Gosto é de homem, pô. Qual a dificuldade em assumir isso? Ser gay não é modinha e exige muita coragem para dar a cara a tapa. Quem não entende isso fica criando esse meio-termo que chamam de bissexualidade. Na verdade não existe bissexualidade ou bissexuais. Somos gays ou héteros, simples assim.
Esse aí de cima era eu há uns dois anos atrás. Era assim que eu via a bissexualidade. No auge da minha pasteurização dos comportamentos humanos, transformava a sociedade em um grande supermercado e as pessoas em produtos a serem empratileirados. Hoje, por sorte, revi meus preconceitos e vejo as pessoas muito além dos rótulos.
Mas muito além de gays, héteros ou bissexuais, somos humanos e com tal, somos diversos. Não há padrões. Não há modelos. Não há certo ou errado quando trata-se de uma manifestação natural e saudável da nossa sexualidade. Nós é que temos essa necessidade da criação de rótulos.
É como se assim fosse mais fácil lidar com as pessoas. E é, né?. Eu gosto dos gays, mas não da qualhiragem, então não ando com a bichinha afeminada. Nada contra as lésbicas, mas precisa ser masculinizada. Tá bom que você seja bissexual, mas eu não vou ficar com alguém que pode me trocar tanto por um homem quanto por uma mulher. E se for assim? Que mal há? Sendo saudável, natural...
Hoje vejo as coisas de outra forma. Eu tinha uma visão torta a te mesmo da minha (homo)sexualidade. Foi um processo muito longo para que eu mudasse meus conceitos e vencesse meus preconceitos. Assumir-se preconceituoso, desinformado, incapaz de fazer lago sozinho é o primeiro passo. Não é vergonha pedir ajuda, assumir que não pode ou não sabe. Vergonhoso é ser preconceituoso, querer ser preconceituoso. Ainda tenho que derrubar muitos dos ícones que construir erroneamente, mas felicito-me por estar disposto a fazê-lo. A maioria nem a isso se dispõe. Eu me dispus.
A nossa sociedade é muito influenciada pela tradição judaico-cristã, que identifica sexualidade com reprodução e, portanto, com heterossexualidade, o que marginaliza e reprime outra forma de se relacionar. E assim com a bissexualidade.
Resolvidos os traumas, aparadas as arestas internas e definido o que é atração real e o que é simples curiosidade, vem a "saída do armário" o que esbarra em aspectos pessoais, profissionais e familiares e que vem, na maioria das vezes, acompanhada por momentos difíceis.
O armário bi tem duas portas: uma para homossexualidade, outra para a heterossexualidade. E abrir ambas ao mesmo tempo requer muito mais do que coragem: requer auto-aceitação, auto-entendimento. Afinal, é duplamente difícil ‘se assumir’ como gostando de ambos os sexos - por vezes indistintamente, por outras com alguma preferência.
A descoberta da bissexualidade é um verdadeiro susto. A pessoa se questiona, acha que está confusa, tem dificuldade de aceitar que bissexualidade existe e não é doença ou desvio de caráter - como grande parte da população acha ainda hoje.
A aceitação da bissexualidade, tanto por parte do bissexual quanto de quem o rodeia (família, amigos, colegas de trabalho), pode ser um processo lento e doloroso. O medo de ser diferente pode impedir a decisão de se mostrar para todos. Por isso há indivíduos que ficam por muito tempo "em cima do muro", adotando o comportamento que lhe convier, dependendo do grupo em que está inserido.
A crença geral é de que o bi é uma pessoa indefinida, que ainda não achou sua identidade sexual, mas não é bem assim. A realidade é bem mais ampla e complexa. Há muito mito e preconceito acerca dos bissexuais e isto faz com que muitos prefiram não se identificar como tal.
O assunto começou a ser discutido na década de 70. Nos anos 80, sua aceitação social sofreu um retrocesso com o surgimento da Aids. Os bissexuais foram acusados de disseminarem o vírus HIV porque muitos homens, com relacionamentos heterossexuais, escondiam da mulher o seu lado bi e tinham relações com outros homens sem proteção.
E ainda nos dias de hoje, os bissexuais são vítimas de situações preconceituosas. E o pior: este preconceito vem de quem também sofre com ele. Homossexuais, assim como os héteros, acreditam que os bissexuais só querem o melhor de ambos os mundos: as vantagens sociais da heterossexualidade e o prazer ilimitado.
Se para muitos heterossexuais a bissexualidade é coisa de gente ‘sem-vergonha’, e para os homossexuais é coisa de gay mal-resolvido. Sendo assim, os bissexuais sofrem de um tipo específico de preconceito. A chamada bifobia. Eu mesmo já me comportei com os bissexuais partindo da idéia que eles apenas não tem coragem de assumir sua homossexualidade.
É bom ressaltar que assim como os gays e héteros, os bi não carregam um neon piscando na testa. Não existem diferenças comportamentais. Sua busca é como qualquer outra. São seres humanos em busca de amor, carinho e afeto, mas que tem atração por ambos os sexos, já que homens e mulheres oferecem satisfação. É importante também deixar claro que a sexualidade não é uma opção pessoal.
Ninguém nasce com idéia formada sobre sua sexualidade. A bissexualidade não pode ser vista como uma escolha, até por que ninguém nasce sabendo o que vai ser e isso nos já estamos cansados de saber, mas tentar entender se torna mais difícil, pois a mente das pessoas carrega muito preconceito, e isso impede a compreensão dos mistérios da sexualidade humana.