segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Que tudo amém

Liberdade é bom, oh baby,
Delicadeza também.
Vê se não atropela, baby,
Que tudo amém.
(Marina)

Estamos no último ano da década de 1980. A década de Marina. Foi aqui que ela “aconteceu”. Há 10 anos quando ela lançou seu primeiro álbum – Simples como o fogo (1979) - Marina queria fazer um trabalho que fosse distinto de tudo que se ouvia àquela época. E conseguiu. Só que inquieta do jeito que é, após ter atingido o seu ponto ideal, achou que ainda não tinha feito o bastante.

Assim, já consagrada como a maior cantora dos anos 1980, símbolo de canções autorais e de novas sonoridades, Marina lança em 1987 o LP Virgem com o refinamento indispensável a uma pessoa que analisa profundamente o sucesso e o que havia feito até ali. Agora é tempo de planejar o futuro.

O álbum Próxima parada, oitavo de estúdio e nono da carreira da cantora, lançado em 1989, trouxe uma direção calma em canções como a questionadora “$Cara” e “Garota de Ipanema”, bela releitura da composição de Tom Jobim e Vinicius de Mores. Destaque também para a música título “Próxima parada” e para o maior sucesso comercial do álbum “À francesa” – composta por Claudio Zoli e Antonio Cícero, e que foi tema da personagem de Malu Mader em “Top Model”, telenovela da Rede Globo.

Este foi o primeiro trabalho em que ela participou da produção e que não veio com uma foto sua estampada na capa. Em vez de seu rosto, fotos em preto e branco, de Walter Firmo, de automóveis em trânsito, um avião decolando, numa colagem do artista plástico Luciano Figueiredo. Mais uma forma da cantora afirmar que queria ser reconhecida pela sua arte e não pela sua imagem.

Atualidade das canções, esta foi uma das características que ressaltei no primeiro texto dessa série especial. E isso fica evidente nos versos de “$Cara”, canção que abre o disco. O ano era 1989 e Marina cantava: há sonhos e insônias, Ozônios e Amazônias e um novo amor no ar. Em seguida, regravando Os Paralamas do Sucesso, cantou os amores impossíveis em “Dois elefantes”: seu rosto em meu rosto rindo; dois elefantes no fundo do mar.

Aliás, outra característica de Marina é o romantismo “cool” em seus discos. Sem exageros, mas tudo com muita urbanicidade e realismo. Assim como na canção anterior, em “Encarando você”, ela traz altas doses desse romantismo: vi no meu caminho uma aglomeração, procurei você não sei por quê. Em “Extravios”, uma canção meio jazz, meio blues, de Cícero e Dalto – de quem Marina regravaria “Pessoa” dali a alguns anos – mais uma mostra dessa faceta da cantora: encoste este ombro no meu braço ocasionalmente infiel e faça-me sentir no seu abraço um pouco além de algumas gotas de Chanel.

O hit do álbum e um dos maiores sucessos da carreira de Marina veio com “À francesa”. Um clássico da música pop brasileira e umas das canções cartão de visitas dos anos 1980. Letra de Cícero e Zoli, até hoje a canção conquista fãs Brasil adentro, afinal, os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro. Em seguida a canção, cujo clipe, inauguraria a MTV Brasil em 1990. Uma releitura de um grande clássico da MPB. “Garota de Ipanema”.

Voando solo, Marina escreveu “Que tudo amém” para depois se revelar em “Próxima parada”: prefiro pôr as cartas sobre a mesa, não dou meu desejo a Deus. Depois outra regravação e recriação: “Only you”, do The Platters. Fechando o disco, uma versão instrumental de “$Cara”.

Próxima parada é um disco mais conceitual. Marina vinha de dois grandes sucessos e fez um trabalho de transição no qual revê sua posição diante da mídia e do público. Nesse sentido, o LP reafirma sua relação com a música. O álbum, que exala sofisticação, rendeu a Marina os prêmios Sharp como melhor cantora pop/rock e de álbum do ano, além de ter sido certificado como disco de ouro ao vender 100 mil cópias.

Marina deu mais uma guinada em sua carreira, refletida no apurado resultado do Próxima Parada onde se mesclam blues, rocks e as recriações de grandes clássicos, uma das marcas registradas da artista que, antenada com seu tempo e, junto com o mentor e parceiro Antonio Cícero, realizou um disco híbrido feito do presente e do futuro.

Se quiser saber mais sobre a carreira de Marina, leia os demais textos do Especial Marina Lima. Abaixo, você pode ouvir alguns clássicos desse álbum.
À francesa


Garota de Ipanema


$Cara

2 comentários:

Francisco Saldanha disse...

ótimo texto...tbm adorei os videos...

abraço.

Jock Dean disse...

Francisco, os demais textos voltarão a ser publicados esta semana. Tive alguns problemas, por isso a interrupção.

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