Ana precisava ir embora, mas ainda não tinha condições. Ela estava enjoada. Aquele cheiro forte e gosto salgado ainda estavam em sua pele. Ela sentia-se perdida, mal sabia o que havia acontecido, onde estava ao certo ou porque fora parar ali.
Ela saiu da cozinha e andou pelo apartamento. Recolheu todas as suas coisas jogadas pelo chão dos cômodos e trancou-se no banheiro. “Preciso de um banho”, pensou. O chuveiro vertia sobre sua cabeça. Seus cabelos foram aos poucos se soltando. A água corria veloz por seu corpo, enquanto ela ensaboava cuidadosamente suas curvas, como quem (re)descobrisse a si mesmo. Quase um ritual.
As marcas em seu corpo aguçavam sua memória. A noite anterior não fora uma noite típica na sua vida. E não havia sido divertida. Não era seu hábito, mas os últimos tempos não foram como ela gostaria, ela estava confusa. “Culpa minha, do outro, dos outros?”. Ela precisava sentir-se pulsante novamente, então saiu de casa. Era quase tudo o que se lembrava.
Junto com a água fria do banho – “isto ajuda a despertar”, acredita – suas lágrimas corriam por seu rosto. “É uma forma de me expurgar”, dizia a si mesmo. Assim ela permaneceu por longos minutos até fechar o chuveiro.
Ela pôs-se em frente ao espelho. Seus olhos vermelhos, inchados. “Foi o banho, as lágrimas, a noite mal dormida?”. Seus olhos castanhos, doces, pacíficos, amorosos, continuavam lá. Ela viu-se no fundo deles e sorriu.
Então colocou as mãos sobre o ventre. Ontem realmente não tinha sido o melhor dos seus dias, mas os meses que o antecederam lhe deram aconchegante fruto. Ela não sabia onde estava, mas sabia para onde precisava ir, para seu lar. Ela ficou sentindo aquela sensação por mais uns minutos, então se vestiu, mas não secou ou penteou os cabelos. Preferiu deixar que eles moldassem-se ao vento.
Quer saber onde começa a história de Ana? Pergunte ao Marfim Mosac.
O ano é 1991 e Marina agora é Lima e também não é mais a diva pop que dominava as rádios brasileiras. Inquieta, ela queria algo novo e o álbum que lançou neste ano, Marina Lima, deixa isso claro logo na primeira faixa, Grávida, a canção que ouviremos hoje. O disco é um grande sim da cantora para a vida. Nada de rótulos ou bandeiras, apenas o ar entrando e saindo dos pulmões. No seu primeiro trabalho dos anos 1990, a cantora busca a maturidade e encara o medo de entregar-se, mas ela sabia que quando o sol se dilata-se ela teria que dar a luz.
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1 comentários:
Você sabe como me deixar sem jeito, não é menino?!
Te amo muito!
Obrigado!
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