A idéia de escrever esse texto partiu de uma conversa que tive há alguns dias com um amigo meu que também é gay. Os pais dele não sabem disso e ele não pretende dizê-lo, pelo menos enquanto depender deles financeiramente. O motivo? Ele não quer deixar de ser o bom filho de sempre. Eu sempre fui o filho ideal até dizer:
“Mãe, eu sou gay!”
Quatro palavras. Algumas das mais difíceis de pronunciar. Quem já as disse sabe quanta coragem precisa-se ter para terminar a frase. Quantos caras e garotas será que não a disseram no exato instante em que as digitei? Inúmeros. Assim como outros tantos pensam agora em como fazê-lo. Difícil.
“Mãe, eu sou gay!”
Quatro palavras. Algumas das mais difíceis de pronunciar. Quem já as disse sabe quanta coragem precisa-se ter para terminar a frase. Quantos caras e garotas será que não a disseram no exato instante em que as digitei? Inúmeros. Assim como outros tantos pensam agora em como fazê-lo. Difícil.
As mães são sempre tão superestimadas. Talvez seja em função do tal amor incondicional para seus filhos que elas são sempre as primeiras em que pensamos quando passamos por alguma dificuldade, mas e quando para nossa surpresa, esse tal amor incondicional esbarra em algo? Sempre esperamos que nossas mães abram seus braços e nos acolham independente de qualquer coisa e elas costumam fazer isso, desde que sejamos sempre o filhinho da mamãe.
Limpinhos, cheirosos, educados, estudiosos, responsáveis, caseiros, obedientes. É longa a lista de atributos que nossas mães esperam que tenhamos. Eu sempre fui tudo isso. O primeiro aluno da turma. O único cuja mãe nunca recebia reclamações, mas só elogios nas reuniões da escola. Sempre obediente, nunca brincava na rua com os outros meninos. Também não respondia aos mais velhos, não chegava em casa depois do horário permitido e só saia com os amigos, mesmo para o cinema, se houvesse autorização. Enfim, eu era o filho perfeito, mas a criança cresceu.
Até que chegou o grande dia. O de pronunciar a tal frase. Depois de tanto esconder, achei que fosse o momento de ter ao meu lado, mais uma vez, aquela que sempre me pegou com força contra si e fazia do seu corpo o meu escudo contra as armas do mundo. Então eu disse: “mãe, eu sou gay!”. Primeiro veio a tradicional “eu já sabia”. Mães sempre sabem. Não importa o quê e como, mas elas sempre sabem, às vezes só não querem admitir para não ‘sofrerem’.
Em seguida sumiram todas as minhas inúmeras qualidades cultivadas ferrenhamente ao longo da vida. As noites em claro estudando estranhamente deixaram de existir, os inúmeros elogios ouvidos nas reuniões da escola desapareceram. Todas as notas 10 sumiram dos boletins escolares. Eu acabara de desobedecer minha mãe. Claro que não foi a primeira desobediência, mas foi a maior de todas. A única que eu jamais poderia pensar em cometer.
Por fim veio a esmagadora “eu tenho vergonha disso”. Ela sentia, então, vergonha do seu filho, tantas vezes aclamado como o mais querido e que tantas outras vezes causou ciúmes nos demais devido essa tal predileção. Veio também a promessa de nunca falar sobre o assunto com ninguém e o pedido para que eu fizesse o mesmo mal sabendo ela que era praticamente a última a saber, com sempre acontece com todas as mães. Veio também a cobrança, as reclamações, insinuações, o regular dos horários, companhias e locais.
O abraço desejado de “meu filho, eu te amo acima de qualquer coisa” não veio. Mas veio o choro. Não o de cumplicidade, mas o de despontamento. O do meu desapontamento. O da dúvida sobre “com quem contarei agora?”. Era incrível como quatro palavras cheias de sinceridade, medo e triunfo se sobrepuseram a todo o resto. Talvez se eu dissesse “mãe, minha namorada está grávida”, como fez meu pai aos 16 anos, eu recebesse o abraço, apesar da irresponsabilidade assumida e cometida.
Mesmo tendo se passado tanto tempo eu ainda não compreendi. Não aceitei. Não me recuperei. E talvez nem queira. Mas me conformei. Como toda mãe que sempre sabe de tudo, ela percebe a tristeza no fundo dos meus olhos, mas como dizer a ela que esse sentimento vem da briga com o namorado ou do fora recebido daquele cara que nos tira o fôlego só de pensar? O que fazer então com o desejo desesperador de correr para seus braços quando alguém me aponta na rua e diz “lá vai o viadinho”?
Não sei. Só sei que sou gay. Só sei que sinto inveja de outros amigos meus cujas mães agem de forma contrária. Sei também que essas mães são a minoria. Sei que eu continuo sendo exatamente o mesmo e que talvez ela não tenha enxergado de fato como eu era. Sei também que o amor de mãe e filho continua o mesmo, assim como sei que não terei sua benção para trilhar meu caminho porque, mãe, eu sou gay.
18 comentários:
Adorei essa postagem. =] Quase contei para minha mãe que sou gay. O problema é que nem sou.haha
Admiiiiiiiiro-te tanto, meu querido e estimado amigo. =]
Muito legal seu blog ! =)
É muito bom poder se identificar no que o outro escreveu,sei la,se sentir menos tão diferente(ficou feia essa frase)...hehe
Tava pensando que,pelo menos no meu caso,quando comecei a me descobrir,olhava pra minha mãe e pensava "ai,tadinha,tão legal,não merece isso..."
e eh um absurdo isso ficar me martirizando,pq eu não estava sendo uma péssima filha,estava sendo eu...acho q so qdo os gays forem menos estigmatizados,qdo td mundo encarar isso como uma coisa normal,não como uma benção ou maldição,as pessoas q se descobrirem gays nao vao ter mais que sentir esse nó na garganta qdo olharem pros seus pais...
Meu filho é gay.
Como a sua mãe, eu sabia disso muito antes dele me contar, acho até que antes dele mesmo admitir.
Ele é meu caçula, o bebê da casa. Como vc ele também era o aluno nota 10 e a criança sempre dócil e tímida. Sempre fomos muito, muito próximos. Eu não vou dizer que não tive meus dias de medo, de me preocupar com o que aconteceria, com as coisas que ele sofreria...eu tive. Seria tão mais simples pra ele se ele se enquadrasse no molde, não é? Mas no fim nada disso importou e ele ainda é meu bebê.
E seu texto me toca por que eu vejo outros meninos (ele tem 22 anos) amigos dele passando pela mesma coisa, levando a mesma tristeza de não ter "colo de mãe". Espero sinceramente, que vcs se "redescubram e se reencontrem"!
Seu post me inspirou e eu escrevi sobre isso e linkei no meu blog. http://tramasebobagens.blogspot.com/2010/07/mae-eu-sou-gay.html
Sei como é...
Não chega nem perto de ser fácil né?!!!
Eu não tive a parte do "eu já sabia"... só a parte "vergonha, desgosto, decepção..."
Mas tudo vai ficar...
BeijOoOoOoS
Eu não sou gay. Não tenho um filho gay. Durante muito tempo mantive uma grande barreira, que me impedia sequer de me aproximar de um gay.
Não sei o que mudou. Talvez tenha sido somente a maturidade.
Hoje enxergo que são simplesmente PESSOAS. Que merecem colo, como todas as outras, quando estão carentes e tristes... que merecem bronca, como todas as outras, quando fazer "coisa errada"... que merecem ser felizes como todas as outras, simplesmente porque são PESSOAS.
Não sei como eu reagiria se fosse com um de meus filhos. Mas acho que o abraço de "eu te amo de qualquer jeito" não iria faltar. Sinta-se abraçado por uma mãe que entende o que você sente. Minha mãe não me abraçou quando eu disse que ia me separar (porque o ex-marido estava me traindo há mais de um ano).
Lilah.....preciso de sua ajuda! Poderia me passar seu email? um abraço.
Fernando
Fernando eu estava viajando e só vi sua mensagem agora. Seu perfil do blogger é fechado então espero que vc leia aqui ainda. Meu emailé:
lilahleitora@gmail.com
Gente, mil desculpas, mas só li todos esses comentários hoje. Adorei. Bom saber que não só gays, mas mães de gays e mesmo pessoas "fora" do mundo homossexual me leem. Continuem acompanhando o blog. Breve postarei uma supresa para todos. Abraços.
Eu ia comentar mas tenho que ligar pra minha mãe e dizer que a amo muito!!! bjos!
Agora já posso comentar. Gente por incrivel que isso possa parecer, meus pais, meus irmãos e muitos amigos reagiram super bem à noticia, que foi dada em "doses homeopáticas". Sabe comecei a mudar algumas rotinas, horários, amigos (sabe aqueles amigos que ninguém conhece?)Esse tipo de post, blog como o da Lilah fazem TODA diferença. Pelo menos pra mim fez. Na época existia um site chamada ARMARIO X (saudade do armário x) que justamente ajudava homossexuais a lidar com essa coisa medonha de sair do armário. O processo foi longo, mas valeu a pena. Hoje me sinto muito melhor. Mais confiante, sabem? E pricipalmente pra eu descobrir que eu tenho uma família que me ama de verdade mesmo e que posso contar com eles sempre. E Jock, nem desanima, viu? Quando me assumi, passei uma fase complicada com a minha mãe também, mas com o tempo isso passa. Ela vai ver um dia que você continua sendo a mesma pessoa de sempre. Esse é um precesso contínuo pelo menos pra mim, que vivo me assumindo pra um monte de gente. hahaha. Tomei gosto pela coisa, rs! Bjos!!!
Por que as mães de bandidos continuam sendo maes (e seus filhos nunca erram, só os dos outros) mas as mães de gays nao podem mais ser mães?
Valéria:
Simplesmente pq as mães de gays não querem ser mães e sentem vergonha do proprio filho
Te garanto que nem mãe de bandido se envergonha tanto do filho do que mãe de filho gay
cara, chorei de novo, li o post da Lilah e chorei de emoção por uma mãe tão valiosa, mas agora chorei de tristeza, parece que senti na pele oq vc sentiu, mas se precisar de um onbro amigo, mesmo não te conheçenso, estou aqui...
e se precisar de um colo de mãe, sei que não é a mesma coisa, mas te empresto a minha um pouco, o fato é que infelizmente nesse mundo, nem todos estão preparados para essas tres palavras ( eu sou gay), mas tenho esperança de que um dia, esse mundo será melhor e seremos vistos como iguais perante todos...
grande abraços adevilson pires...
ps: caso queira me adiciona no orkut...
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=14325985301236170193
Olá Jock,
me emocionei muito com suas palavras. Eu não sou gay, nunca passei por esta situação, mas tenho amigos que são e tque também sentem medo, mas vou te dizer o que digo o mesmo para eles. O medo só atrapalha as pessoas e tem que encarar tudo, vc o fez quando conversou com sua mãe. Mas talvez ela só esteja passando por um choque, mas isso passará, talvez seja estranho aora mas depois melhora, mas vc não está sozinho e o fato de vc revelar essa situação que vc está passando, mostra q vc é forte e pode superar qualquer tipo de preconceito.
Essas 3 palavras (eu sou gay)realmente são fortes a se dizer, mas consegue-se falar, se vc se sente consigo mesmo é bom e não importe para o que os outros pensem, e, o amor que sua mãe sente por vc não diminuirá por causa disso. Amor de mãe é infinit, mesmo que você não acredite é, eu não sou mãe, mas sei disso. Confie que tudo irá melhorar...
Acredite q conseguirá todos seus objetivos na vida e conseguirá. A gente não se conhece, mas ofereço um ombro amigo para vc se apoiar e saiba que vc não está sozinho.
Sua mãe está com vc acredite nisso, seu amigos verdadeiros, todos que aki escreveram, vc não está sozinho.
Beijos! Boa jornada!
Sou lésbica desde criança! Já nasci assim! Queria gostar de homens, mais eu não consigo. Sinto muita atração por mulheres.
Hoje estou noiva de um homem e vou me casar em julho, porém vou casar apenas para não ter conflitos com a minha família. Não sinto atração por homens e isso está sendo um peso pra mim, pois tenho que viver de aparência.
Sei que se eu assumir minha verdadeira sexualidade e aparecer com uma mulher (namorada) lá em casa, minha família nunca mais vai querer olhar na minha cara. O que faço?
Oie, acabei de ler seu comentário, minha cara. Já que você me perguntou o que faz, termine esse noivado. Você trabalha? Consegue arcar com o básico sem depender da sua família? Quanto tempo você acha que pode carregar esse peso, como você mesmo chamou essa relação? Será se vai machucar menos deixar a família que passar a vida toda em um casamento infeliz? Se quiser conversar mais e melhor, me mande e-mail para oliquidificador@hotmail.com. Prometo responder com rapidez a todos eles.
Já estive nesse exato lugar! Fui e não gostei, não me adaptei e fui infeliz. Nunca pude ser eu, falar o que sentia, nem rir, nada, sabe? A gente não consegue... Fui brutalmente espancada peloS maridoS. Sim, eu tentei mais de uma vez, achava que o problema era com aquele tal e trocava. Brinquei de casar com homem 3 vezes... agredi meu corpo e minha alma, não era feliz, ah, não mesmo! Sexo? Que tortura! Um belo dia de sol, rsrs, conheci minha primeira mulher. Me apaixonei. LOUCAMENTE! Esse amor me deu forças para assumir, primeiro para mim e depois para o resto do mundo. Lésbica sim e com muita honra! Abandonei tudo: casa própria, emprego público onde estava havia 21 anos, marido. mudei de cidade. Viajei de férias e resolvi ficar por aqui. Fui trabalhar. Tinha que pegar qualquer coisa. Fui ser operadora de caixa de mercadinho. Tenho nível superior. 2 graduações. Nem morri por isso. Aluguei uma casa, fiz bicos de faxina, contabilidade, etc para complementar renda. AMARRADONA!!!! Hj sou feliz comigo, leve e solta. Minha namorada? Terminamos há muito. Ela é casada com homem... Me sinto livre e aliviada, sou capaz de tudo! Tenho outro emprego público, outra profissão, outro amor, outra casa. Enfim. Hoje tenho a MINHA vida.
Casa comigo 😍💕
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