segunda-feira, 24 de maio de 2010

Olhar sobre o sagrado

Jock Dean
Da equipe de O Estado


Um município brasileiro do estado do Maranhão com população estimada em quase 23 mil habitantes com uma área de 1.495,6 km². Fundada em 22 de dezembro de 1648, a cidade de Alcântara guarda uma das maiores festas cristãs do país, que não sofreu abalo nem mesmo pela decadência econômica vivenciada pela cidade a partir do século XIX.
A Festa do Divino Espírito Santo relembra a elegância e riqueza vivenciadas durante o seu apogeu econômico. Uma manifestação que, provavelmente, tenha chegado ao Maranhão com açorianos que aportaram na região entre 1615 e 1625. Apesar de sua origem européia, é forte a participação de negros na festa alcantarense, marcada pelo toque das caixeiras e pela distribuição do doce-de-espécie e de licores diversos. Ao lado, o Império com a Imperatriz Maria do Carmo Macedo.


Atualmente, apenas duas caixeiras que participam da festa são alcantarenses: as irmãs Ana Benedita Bezerra, a dona Anica, de 89 anos, a caixeira-mor, e Marlene Silva, Dona Malá. As demais vêm de outras cidades maranhenses especialmente para os 15 dias de festa e são responsáveis pela renovação no toque das caixas. Ao lado, dona Anica, a caixeira-mor de Alcântara.


A festa tem seu apogeu no domingo de Pentencostes, celebrado hoje, mas começa a ser organizada com um ano de antecedência. Os rituais do festejo ocorrem durante 15 dias quando o Mastro do Divino – um tronco com mais de 10 metros de comprimento – é carregado por dezenas de homens em cortejo pelas ladeiras históricas da cidade, seguidos pelas quase sagradas caixeiras, milhares de devotos, músicos e sob foguetório até sua fixação na Praça da Matriz em uma demonstração de força e fé.

Força e fé que se confirmam quando às 4h da manhã as caixeiras, em sua maioria, já acima dos 60 anos percorrem a alvorada pelas ruelas da cidade, conclamando a população para comparecer a missa solene que vai suceder à caminhada das senhoras, quando silenciarem o soar de suas caixas até que a caminhada rumo a preservação da tradição recomece no ano seguinte. Tudo pela lembrança da descida do Divino Espírito Santo sobre os apóstolos. Acima o cortejjo do mastro.

História - A festa remonta às celebrações religiosas realizadas em Portugal a partir do século XIV que cultuava a terceira pessoa da Santíssima Trindade com banquetes coletivos no dia de Petencostes. No Brasil a festa chegou junto com os colonizadores portugueses. No Maranhão, o culto teve início com os colonos açorianos, portugueses e seus descendentes, no início do século XVII. Em Alcântara a festa é realizada eminentemente pelos católicos, marcada por rituais na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída em 1665.

Há uma versão de que a Festa de Alcântara teria sido originada quando da frustrada visita de Dom Pedro II à cidade, ocasião em que os negros se reuniram, lavaram um cortejo à Igreja para coroar um Imperador e assim acabaram inventando a festa. O que importa é que essa suposta origem faz parte da festa e do folclore em Alcântara.

Esta matéria foi publicada na edição do dia 22 de maio no caderno Alternativo, em O Estado do Maranhão. As fotos são de Douglas Júnior e a edição de André Lisboa.

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