sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Eu GRITEI com minha mãe

Fazia algum tempo que não postava nada com as tags “Memória fora de hora” e “Pessoalidades”. Os últimos textos deste tipo que publiquei tiveram um caráter muito melancólico, como todos os outros da seção, aliás, mas eles foram também os mais comentados do blog, até então.



Parei de postar esses textos e me ative no noticiário das conquistas e anseios LGBT por que não quero fazer deste espaço um muro das lamentações. Aqui é um lugar (o meu lugar) onde me sinto seguro e livre para fazer, dizer, o que eu quiser e até já conheci gente boníssima através dessa página e quero cultivar isso.


Mas estava com saudades (vontade, na verdade) de falar de mim outra vez, afinal o blog é uma página pessoal. Infelizmente as boas coisas que me acontecem não me motivam tanto quanto as ruins, por isso minhas memórias fora de hora são sempre tão tristes. Como disse Fernanda Abreu “a vida nem sempre é boa”.


Na verdade, nem sei exatamente o que quero dividir com vocês hoje. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo entre boas e ruins. Prometo que falarei das boas também, mas hoje quero falar de outra tristeza.


Pela primeira vez em 22 anos gritei com minha mãe. Usei exatamente estas palavras: “Que SACO! A senhora vive me dizendo as mesmas coisas de sempre, não agüento mais, que INFERNO!”


Após isso o papo acabou. Na verdade o monólogo, pois só ela falou por quase meia hora antes de eu explodir. Senti-me mal depois, de alguma forma a desapontei, mas ela o fez antes. Sei que ela quer o melhor para mim, mas não consigo mais me calar diante das cobranças de sempre.


Eu sou gay. Eu sinto orgulho de sê-lo. E não há nada que possa mudar isso. Cansei de ouvir que estou “trilhando um caminho errado”. Que ela guarda muitas mágoas em seu coração “pela pessoa que me tornei”. Que ela tem vergonha de contar para a família “o que se passa comigo”.

Ela não tem idéia do que se passa comigo. Ela fala de mágoas, mas não sabe que eu sim as tenho e muitas. Ela culpa meus amigos por me “incentivarem ao erro”, mas não tem noção de que nas horas em que eu mais precisei de alguém que me ajudasse a suportar o peso da minha cruz foram eles que estavam ao meu lado.


Não é ela que sai de casa às 2h da manhã para me resgatar na rua e enxugar minhas lágrimas. Há muito tempo não é ela que me dá colo e põe para dormir quando eu, cansado e sem forças de tanto chorar, preciso apenas de um abraço seguro.


Ela arroga-se o direito de sofrer por mim devido às mágoas que lhe causei/causo, mas não percebe que é o contrário. Eu é que tenho inúmeras mágoas causadas por ela e ainda assim me sinto péssimo por ter dado um grito de liberdade.

2 comentários:

Lilah disse...

Quando eu leio isso penso tanto no meu genro. Um garoto incrível, doce, que a família perde a chance de conviver por conta de limitações da sua própria visão.
É bom que vc consiga perceber que ela deseja o melhor para vc, ainda que o "melhor" dela seja uma violência ao que vc realmente precisa. Mas ao menos vc não deixa de enxergar a mãe por trás dessa figura castradora que as ações dela criam.
Precisando sabe onde gritar né? Chama que a gente atende!

Jock Dean disse...

Claro que sei, Lilah. Você é realmente uma pessoa incrível. Vai ser ótimo tê-la como minha colaboradora por aqui e na vida, né? O Lucas tem MUITA sorte. Bjos

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