terça-feira, 31 de agosto de 2010

Eu quero a minha mãe!

Hoje foi aniversário da minha mãe, mas não aquela sobre a qual já escrevi aqui tantas vezes, hoje foi aniversário da minha mãe biológica.

Quando nasci, meus pais tinham 17 anos, então minha avó paterna assumiu para si a responsabilidade de me criar, embora sempre tenha feito questão que eu soubesse quem eram meus verdadeiros pais.

Quando eu ainda era pequeno, uns 2 anos no máximo, meus pais saíram de casa. Meu pai foi morar com sua atual esposa e mãe da minha irmã. Minha mãe aventurou-se no mundo, embora voltasse de tempos em tempos para me ver. Apenas quando eu já tinha uns 10 ou 11 anos é que ela passou a morar conosco, mas a essa altura não era mais possível construir um laço de amor entre mãe e filho. Todo esse meu sentimento eu já tinha dedicado a outra pessoa, a minha avó.

É a ela que eu chamo de mãe. Meus pais biológicos, os chamo pelo nome e não tenho por eles o amor, carinho e respeito que há entre pais e filhos. Sempre fomos muito distantes. Nossa relação sempre foi muito burocrática. Isso nunca me incomodou, pois nunca senti muita necessidade deles, pois tinha uma mãe-leoa superprotetora para todas as horas.

Mas de uns temos para cá sinto a falta de uma mãe. De um colo. De um abraço apertado. Desde que assumi que sou gay que nossa relação tem minguado. Distanciamos-nos cada dia mais ao ponto de, algumas vezes, sermos apenas como dois estranhos que moram na mesma casa. Faço questão de passar a maior parte do meu tempo na rua. Chego em casa apenas para dormir, na maioria dos dias. E quando estou em casa, passo o dia trancado no quarto.

Não temos mais assunto em comum, no máximo falamos sobre coisas da casa. Um eletrodoméstico que precisa de conserto, uma conta que atrasou. Nas poucas vezes que falamos sobre nós, brigamos ou eu engulo a seco a vontade de gritar e dizer-lhe coisas que podem minar de vez o respeito que ainda nos une.

Às vezes eu paro e releio os textos do blog e sinto uma sensação estranha. Pergunto-me se não estou sendo cruel ao expor minha mãe, como estou fazendo agora, por exemplo, porque apesar de tudo, sei q ela não faz por mal, que não quer realmente agir assim, pois tudo isso é fruto da sua falta de informação, da sua base religiosa, da sua criação patriarcalista que pregava a obediência cega aos mais velhos.

Mas ao mesmo tempo sinto necessidade de me expressar, botar pra fora isso tudo. Na verdade, essas são coisas que eu gostaria de dizer a ela. Eu gostaria que ela soubesse como eu me sinto com toda essa situação, independente de qual fosse a sua reação.

Tenho pensado nisso tudo faz algumas semanas. Há dias sinto a vontade desenfreada de, como quando criança, correr para o seu colo e apenas chorar e depois falar o que me aflige. Já houve dias em que ela me surpreendeu no quarto chorando, mas perguntou apenas se eu estava doente, embora eu não tivesse apresentado qualquer sintoma. Talvez ela tivesse medo de perguntar se eu estava sentido algo e ouvir como resposta: “eu estou apaixonado por um cara que não me vê”.

Hoje, enquanto estava na festa de aniversário da minha mãe biológica senti vontade de fazer com ela tudo isso, mas eu nunca tive com ela a proximidade e a relação que tinha com a minha mãe-avó e desde que assumi que sou gay perdi isso tudo.

Sinto-me perdido, ozinho, desgarrado no mundo. Minha família não ousa desafiar sua matriarca. Talvez eu pareça uma criança de cinco anos com medo do escuro falando todas essas coisas, mas nunca senti tanto a falta de uma mãe quanto hoje.

6 comentários:

Viviane Junqueira Ayres disse...

Jock,

Extremamente sincero, transparente e corajoso o seu desabafo.
E acredito em vc... que ela não faz por mal...mas tb acho que por mais difícil que seja... vcs precisam achar uma forma para que possa desabafar...
No mais...estaremos sempre aqui tb.... não é um abraço real... mas é um abraço e colo virtual dos mais gostosos!!!! rrs
bjinhos Vivi

Jock Dean disse...

Vivi, obrigado pela mensagem.
Muito querida você.
Espero contar sempre com seu abraço virtual.

Bjo

Fernanda Reali disse...

Vim te ler e te dar um afago. Penso que não há a menor chance de que a mãe-avó te entenda, pelas circunstâncias que tu mesmo descreveste, religião, formação cultural, idade etc. Penso que seja possível construir uma relação adulta de afeto com a mãe biológica, de amizade, de carinho, sem mimimis nem chororôs sobre o passado. Só amizade sincera.
Sobre a avó, acredito que a única coisa que pode melhorar o relacionamento seja a saudade, a distância. Saia de casa, vá morr longe, faã-se ausente fisicamente, assim ela pode perceber que te ama de qualquer maneira, sem cobrar que tu sejas de outra forma. Mas tamém há um risoco, de que percebam não serem mais necessários um ao outro.
Família é importante, mas quando a gente não tem a família de que gostaria, tem semre a alternativa focar na construção de amizades mais sólidas e com menos cobranças.

Um beijo

Lilah disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lilah disse...

Eu li seu texto ontem,enquanto a gente conversava no msn. Li hj de novo. Ainda não sei o que dizer.
A gente se conhece tem pouco tempo,mas acredito de verdade que foi um daqueles encontros que tem que acontecer. E que estão rendendo frutos.
Vc tem a idade do meu filho e eu fico imaginando ondenós estaríamos hj se eu não tivesse tomado um caminho diferente do que sua avó tomou. Não é um colo de mãe quentinho pq tô a quilômetros de distância,mas quando precisar sabe que o colo virtual de mãe adotiva tem sempre um lugar para vc.

(apaguei em cima por causa de erros do teclado)

Jock Dean disse...

Bom saber que todos vocês me leem e me afagam quando preciso. Fico muito feliz mesmo. Tenho pensando algumas coisas nos últimos tempos sobre o assunto, mas preciso de um pouco de tempo para amadurecer as idéias e estar em condições de agir. Tudo ao seu tempo, não é mesmo? Abraços, meus queridos!

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