quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Santa e a Puta

Minha força não é bruta; não sou freira, nem sou puta.
(Rita Lee)

Banheiros públicos, de shoppings, praças, bate-papo na internet. Esses são apenas alguns dos chamados lugares de pegação freqüentado por 10 entre 10 gays em todo o mundo em seus momentos de caça. Bastam cinco minutos, muita disposição e força de vontade em qualquer um desses locais que se consegue um parceiro ou dois, três, quatro, enfim, para uma boa sessão de sexo. Sim, boa! Sexo é sempre bom, desde que consentido, é claro.



Nem é preciso muito papo. Basta ficar lá como quem não quer nada, olhando com um pouco mais de malícia para os caras que passam, entram e saem ou, no caso da net, jogar um pouco de conversa mole e bingo. Trancados no box do banheiro, no carro estacionando em um local com pouco movimento ou mesmo no meio do matagal mais próximo o pau come solto (e sim, o trocadilho foi intencional!).


Acontece que no fim das contas todo mundo acaba conhecendo a cara e a fama de todo mundo. Em uma mesa de amigos gays, quando passa aquele cara bonitinho, tem um que vai comentar: “Eu já fiz ele! Nós ficamos outro dia no banheiro do shopping.”


Se você faz isso só muito de vez em quando, naqueles dias em que não dá para segurar a vontade de ficar com alguém depois de um longo período jogando cinco contra um e de roçar o edy na quina da mesa, tudo bem, normal. Se você faz isso todos os dias – eu conheço gente que sim – logo você ganha a fama de puta. Isso mesmo: P-U-T-A! Mas se você não faz isso ou por que não gosta ou por que não quer se expor ou por outro motivo qualquer ganha a alcunha de “beesha phyna”, a santa. Só que essas duas denominações tem seu lado positivo e negativo.


Ser a puta é o suficiente para que todos os outros te apontem e digam coisas como: “ah, esse menino fica com todo mundo, quero ele não”, “fulano é bonitinho, mas dá pra qualquer um”, “beltrano quis ficar comigo na boate, mas ele é tão rodado, por isso não quis”, “sicrano não serve pra namorar por que ele vive caçando no banheiro do shopping”. Eu já ouvi isso inúmeras vezes de amigos meus sobre inúmeros caras.


Só que esse comportamento é para alguns caras a única forma de vivenciar sua real sexualidade. Não raramente os principais “predadores” desse tipo de caça são homens casados e com filhos ou outros caras que não tem coragem de saírem do armário.


Fazer a linha santa acaba com todas as suas possibilidades de ser convidado para a aquela festinha cheia de gatinhos sarados e fogosos na casa daquele seu amigo puta. Também te impede de ficar com aquele seu amigo safado do qual você é super-afim por que ele acha que todas as suas investidas são apenas brincadeira, além de criar para outros gays a imagem que você é metido (sem duplo sentido) e se acha melhor que eles, os julga.


No entanto, você acaba sendo o melhor amigo de todos justamente pelo seu comportamento, além de ser visto como um bom cara para se namorar, embora quase nunca passe disto: ser visto. Você é aquele para quem eles ligam pedindo um conselho ou para contar suas aventuras. Você é o porto seguro nos dias de naufrágios no líquido do prazer. A companhia para os momentos de real descontração.


Mas como lidar com isso tudo? Como lidar com a falta de alguém no outro lado da cama ainda que seja por algumas horas se você tem uma visão de mundo e relacionamentos que não passam por banheiros, chats e afins?


Não acho que nenhum dos comportamentos seja mais ou menos correto. Acredito que devemos agir de acordo com nossa personalidade e fazermos o que nos faz sentir bem de verdade, desde que não passemos de certos limites. Eu não sou puta, embora também não seja totalmente santa e nem me sinta confortável com a idéia de ser puta. Estive pensando nisso nos últimos dias, por isso o texto.


E você o que pensa?

2 comentários:

Lilah disse...

É incrível como o universo masculino não muda...seja gay ou hétero. Tá isso foi um comentário sexista. Mas verdadeiro. Héteros dividem mulheres em Santas e Putas. Muda o endereço, mas não o conteúdo.

Jock Dean disse...

Eu concordo com você, Lilah. Até comentei isso com um amigo meu dia desses. Mas aí há outra questão imbricada: culturalmente, mulhares são educadas para serem recatadas (santas), ainda hoje, e homens educados para serem viris, pegadores (putas), mas como fica essa questão no universo gay se os mesmos pegadores precisam inspirar fidelidade? E como confiar na fidelidade de alguém que sai com todo mundo, ainda que seja comprometido. Não abordei isso no texto, mas esse comportamento puta é predominante mesmo entre os comprometidos, por vezes, consentido e incentivado entre o casal.
Difícil!

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